Respondendo ao questionamento do deputado Wagner Lino (PT), o secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, negou que o Estado tenha perdido o controle dos presídios. Furukawa foi o primeiro a depor na CPI do Sistema Prisional, nesta terça-feira, 12/6. O deputado denunciou que os presos não são distribuídos conforme os delitos cometidos, reincidência, primaridade ou idade. "O descontrole por parte do Estado é tão grande que os presos têm de ser divididos de acordo com a facção a que pertencem. Caso contrário, há o confronto entre eles, e o governo não é capaz de resolver o problema."O deputado quis saber quais foram as providências tomadas depois que o ex-corregedor da Secretaria de Administração Penitenciária, desembargador Renato Laércio Talli, denunciou a existência de facções criminosas nos presídios de São Paulo. Para Lino, houve, no mínimo, omissão do Estado para apurar as denúncias. "O Estado não só se omitiu, como também afastou o corregedor que faz as denúncias", disse. Na época, o governador Mário Covas considerou as declarações de Talli como fantasiosas.Facções. O desembargador aposentado Renato Laércio Talli, que foi corregedor da Secretaria de Administração Penitenciária entre abril e setembro de 2000, advertiu sobre a formação das facções criminosas. Foram identificadas quatro facções na época: o Primeiro Comando da Capital (PCC), que age em 30 penitenciárias (ex. Casa de Detenção) e tem aproximadamente 1.500 membros; o Conselho Democrático da Liberdade (CDL), com ação em 5 presídios (ex. Casa de Detenção de Sorocaba) e conta com aproximadamente 650 membros; o Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade (CRBC), que age na Penitenciária de Guarulhos; o Comando Jovem Vermelho da Criminalidade (CJVC); e a Seita Satânica, que age na Penitenciária de Franco da Rocha.A primeira facção criminosa surgiu em 1983 na Penitenciária do Estado. A facção conhecida como Serpentes Negras teria dado origem ao PCC, dez anos depois, em 1993, na Casa de Custódia de Taubaté.O desembargador Talli apresentou um relatório sobre as facções criminosas atuantes no Sistema Penitenciário no I Seminário Internacional sobre modernidade e eficácia na Instituição Policial, que foi promovido pela Secretaria de Segurança Pública, em setembro de 2000. Na época, o então governador Mário Covas e o atual secretário, Nagashi Furukawa, não teriam levado a sério o dossiê. Segundo o desembargador " Covas achou o relatório muito fantasioso. Ele considerou impossível o PCC ter todo esse poder e abrangência". Logo após a entrega do documento o Corregedor Renato Laércio Talli foi afastado do cargo pelo governador Mário Covas, em setembro de 2000. Depois pediu demissão.No dia 9 de abril, após a rebelião em 29 presídios do Estado, o Ministério Público anunciou que iria investigar eventual omissão do governo do Estado com relação ao combate das organizações criminosas no sistema penitenciário paulista.A CPI deverá convocar o secretário de Segurança, Marco Vinício Petrelluzzi, e o secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, para apurar se o governo subestimou ou se omitiu com relação às organizações criminosas no sistema.Novos coordenadores serão investigados. A CPI também investigará os novos coordenadores nomeados para as Coordenadorias de Unidades Prisionais Regionais. Carlos Alberto Corade, nomeado para a Coordenadoria das Unidades da Região do Vale do Paraíba e Litoral, segundo denúncias, responde a 19 processos administrativos, entre eles, por facilitação de fuga e uso de dinheiro resultante de trabalho dos detentos. Marco Antonio Feitosa, responde a dois processos administrativos, por uso irregular de veículo oficial e omissão de socorro.A CPI deve investigar a facilitação de fugas, corrupção, uso de dinheiro resultante de trabalho dos presos, possível enriquecimento ilícito de funcionários e diretores, desvio de dinheiro público, extorsões realizadas por detentos e familiares, comércio ilegal dentro dos estabelecimentos prisionais, tráfico de drogas, transferências sob suspeita e também o descumprimento da Lei de Execuções Penais.A CPI do Sistema Prisional de 1996 já antecipava a crise generalizada no Sistema Penitenciário, demonstrando o descumprimento das leis e problemas como a superlotação, a lentidão judicial, a falta de assistência jurídica e assistência à saúde dos presos. Também, a total falta de condições de trabalho para os funcionários do sistema prisional. Ambiente muito propício para a fomentação de organizações criminosas.Das 43 propostas do Relatório Final da CPI de 1996, no máximo cinco foram cumpridas ou estão em andamento, como a desativação das carceragens dos Distritos Policiais. Mas apesar de o governo ter desativado 21 carceragens de delegacias, a superlotação nos distritos só aumentou. Em 1995, havia 25 mil presos em DPs. Atualmente são 33 mil.(Mais informações, ligue para o gabinete do deputado Wagner Lino - 3886-6842-6853)