Lygia Fagundes Telles abre curso de Literatura Paulista na Assembléia

Aula inaugural tem palestra e vídeo sobre a vida e a obra da consagrada escritora
22/08/2006 20:04

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Guilherme Wendel de Magalhães, diretor executivo do ILP<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/ILP guilherme02-rob.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Lygia Fagundes Telles <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/ILP lygia fagundes telles04-rob.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Palestra inaugural do curso promovido pelo Instituto do Legislativo Paulista (ILP)<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/ILP 3058-rob.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ligia Tonioli Mazziotti, diretora executiva do ILP, e Mariana Estevam<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/ILP ligia e mariana estevam02-rob.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A escritora Lygia Fagundes Telles fez nesta segunda-feira, 21/8, palestra inaugural de um curso promovido pelo Instituto do Legislativo Paulista (ILP) que tem como temática a evolução da literatura produzida no Estado desde o século XVI até os dias atuais. As aulas prosseguirão até o próximo dia 1º/9, sob a coordenação da professora Mariana Estevam.

Em entrevista ao Diário da Assembléia, Lygia Fagundes Telles declarou-se emocionada em participar da abertura de um curso sobre a produção literária em São Paulo, "principalmente quando a cultura está tão distante, em lugar tão inferior neste nosso país".

A escritora justificou sua análise: "Quando era estudante de direito, ainda jovenzinha, eu disse uma frase que hoje está servindo como uma luva: no dia em que o país tiver mais creches e mais escolas, terá menos cadeias e hospitais, Disse isso 200 anos atrás, na idade da pedra lascada. Essa frase dita por mim no tempo dos dinossauros serve hoje perfeitamente".

Palavras e imagens

Na abertura da aula inaugural, Lygia Fagundes Telles falou do vídeo sobre sua obra que foi exibido ao público presente. "Vocês verão que (nele) as palavras caminham com a imagem", explicou.

A produção foi realizada pelo filho da escritora, Goffredo da Silva Telles Neto, falecido este ano, e por sua mulher Paloma Rocha, filha de Glauber Rocha, em 1987, quando a consagrada escritora foi eleita para ocupar uma das cadeiras dos imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL).

No vídeo, imagens de sua infância no interior de São Paulo, da juventude, do primeiro casamento com o jurista Goffredo da Silva Telles Júnior e da cerimônia de posse na Academia Brasileira de Letras, em rápida sucessão, traçam um retrato poético e literário da vida e obra da escritora.

O fio condutor da narrativa é construído com declamações da própria Lygia Fagundes Telles de textos seus e do seu círculo de amigos. Juntos, esses amigos formam a nata da literatura paulista e brasileira contemporânea: Carlos Drummond de Andrade, Oswald e Mário de Andrade, entre outros.

Rebeldia e irreverência

Lygia Fagundes Telles chamou a atenção para a presença da Escola de Samba da Mangueira na cerimônia da ABL, idéia executada por seu filho que abalou o então presidente Austregésilo de Athayde. "Imaginem. Toda aquela pompa, os fardões dos imortais todos bordados com ouro, e a escola de samba. Falei para o Goffredo: "Mas, filho, batucada na Academia?". E ele respondeu: "Não há nada mais brasileiro que o samba, mãe"."

Ao comentar com bom humor sua condição de imortal, a escritora completou: "Como dizia o poeta Olavo Bilac, imortal é aquele que não tem onde cair morto. Dada a condição em que vivem os escritores brasileiros, é isso mesmo".

Ao se referir às experiências vividas em sua juventude e para ressaltar a importância que ela dá à rebeldia contra os padrões estabelecidos, Lygia lembrou que foi uma das primeiras mulheres a cursar a Faculdade de Direito do Largo São Francisco. "Meus colegas homens, com a arrogância machista da época, interpelaram-me: "O que você veio fazer aqui? Casar com a gente?". Pois eu disse: "Vim. E casei mesmo"."

Lygia Fagundes Telles, quando assumiu a cadeira na ABL, escolheu para ser seu patrono o poeta Gregório de Mattos. Esse autor clássico da literatura brasileira, "o loucão" Gregório de Mattos, como ela disse, lhe deu a inspiração para o seu discurso de posse, também apresentado no vídeo.

Sobre o fundador da Academia, enfatizou: "Machado de Assis, um mestiço, gago, feio, pobre e doente (sofria de epilepsia), era o elogio da rebeldia engatilhada".

Seminário de Ratos

Lygia Fagundes Telles falou ainda sobre o seu livro de contos sorteado entre os alunos do curso, Seminário de Ratos.

"Na década de 1970, a cidade de São Paulo foi invadida por ratos. Diziam que havia quatro ratos para cada habitante. Não sei bem como, fui parar em uma reunião dos administradores da cidade. Os políticos, com a ênfase que lhes é própria, garantiam e reiteravam ao público presente que o problema estava definitivamente solucionado. Nesse momento, um ratão atravessou o palco, e todos, inclusive eu, caímos na gargalhada. Pois foi nesse episódio que ganhei inspiração para escrever meu conto Seminário dos Ratos", contou a escritora.

Obedecer à vocação

"Acredito na vocação, palavra que vem do termo latino vocare, que significa chamado. É preciso prestar obediência ao que está lá dentro, esta força que é a vocação", afirmou Lygia Fagundes Telles ao encerrar seu diálogo com os alunos do curso de Literatura Paulista, todos funcionários da Casa.

Lygia Fagundes Telles tem várias de suas obras publicadas em alemão, espanhol, francês, inglês, italiano, polonês e checo, além das edições portuguesas, e algumas adaptadas para o teatro, cinema e televisão.



Cronologia biográfica e das principais obras da escritora

19 de abril de 1923 " Nasce a escritora Lygia Fagundes Telles na cidade de São Paulo, na rua Barão de Tatuí, quarta filha de Durval de Azevedo Fagundes e Maria do Rosário Silva Jardim Moura.

1938 " Publica seu primeiro livro de contos: Porão e Sobrado.

1939 " Ingressa na Escola Superior de Educação Física.

1941 " Ingressa na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Conhece os escritores Oswald de Andrade e Mário de Andrade, Paulo Emílio Salles Gomes e Hilda Hist. Torna-se membro da Academia de Letras da Faculdade. Escreve para os jornais Arcádia e A Balança.

1950 " Casa-se com o jurista Goffredo da Silva Telles Júnior, seu professor na Faculdade de Direito e deputado federal. Muda-se para o Rio de Janeiro.

1952 " De volta a São Paulo, escreve seu primeiro romance, Ciranda de Pedra.

1960 " Separa-se de Goffredo da Silva Telles Júnior.

1961 " É admitida como procuradora do Instituto de Previdência do Estado.

1962 " Torna-se a companheira de Paulo Emílio Salles Gomes. Escreve As Meninas. Faz com o marido a adaptação de Dom Casmurro, romance de Machado de Assis, para o cinema.

1970 " É premiada na França com o Grande Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros pelo livro de contos Antes do Baile.

1973 " As Meninas recebe o Prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras; o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; e o prêmio Ficção, da Associação Paulista de Críticos de Arte.

1977 " Premiada pelo Pen Club do Brasil pela coletânea de contos Seminário de Ratos. Com a morte de seu companheiro Paulo Emílio Salles Gomes, assume a presidência da Cinemateca Brasileira.

1982 " É eleita para a cadeira 28 da Academia Paulista de Letras.

1985 " É eleita para a cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras.

1987 " Toma posse na Academia Brasileira de Letras.

1995 " O livro As Meninas é adaptado para o cinema.

2001 " Recebe o Prêmio Jabuti pela obra Invenção e Memória. Recebe o título de Doutora Honoris Causa da Universidade de Brasília.

2005 " Recebe o Prêmio Camões.

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