Audiência pública discute combate à pedofilia no Estado


16/04/2009 20:18

Compartilhar:

2ª audiência pública sobre a pedofilia no Estado de São Paulo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/04-2009/marcopedofmesa.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A 2ª audiência pública sobre a pedofilia no Estado de São Paulo, foi realizada nesta quinta-feira, 16/4, na Assembleia paulista e teve como principais objetivos discutir a abordagem do tema pela mídia; a exposição estatística do crescimento da pedofilia no Estado; o papel da educação no combate à pedofilia e o lado clínico do abuso sexual a menores.

Sob a coordenação do deputado José Bruno (DEM), a audiência contou com as presenças do jornalista do SP Record, Reinaldo Gottino, das médicas do Instituto Médico Legal (IML) Vera Denise de Toledo Leme e Daniela Munhoz, da representante da Secretaria da Educação, Eleuza Guazelli, dos médicos Jefferson Drezett, Daniela Pedroso e Alcina Meirelles, os três do Hospital Pérola Byington, do vereador Marcelo Aguiar (PSC) e do deputado estadual Afonso Lobato (PV).

José Bruno enfatizou a necessidade da instauração de uma CPI na Casa sobre a pedofilia. O deputado é autor de requerimento nesse sentido, que, segundo ele, já conta com 48 assinaturas. Para ele é fundamental o apoio, a pressão e o clamor popular para a mobilização da Assembleia e das lideranças partidárias a favor da CPI. O deputado informou que encaminhou um pedido ao governador José Serra de criação de delegacias especializadas no assunto, que possa oferecer atendimento adequado às crianças vítimas de abuso.

O coordenador da audiência elogiou o papel da imprensa nas denúncias de crimes de pedofilia. Esclareceu que os principais objetivos tanto da discussão do tema quanto da instauração da CPI é o atendimento especializado em hospitais e delegacias às vítimas e às famílias, com o objetivo de minimizar a dor e dar tratamento específico direcionado a essas crianças.



Importância da mídia, da educação e da política



O jornalista Reinaldo Gottino, do programa SP Record, também destacou a importância de conscientização da população sobre o problema e relatou as dificuldades enfrentadas para a realização de reportagem sobre o assunto. Segundo ele, vários setores da sociedade não estão preparados para agir diante de uma denúncia de crime de pedofilia, o que dificulta muito o atendimento às vítimas. Estranhou a existência de denúncias de abusos sexuais contra 60 crianças em que as vítimas apontam como autor a mesma pessoa. Segundo o jornalista, nem nesses casos as investigações evoluem e por isso existe a necessidade da união de esforços da sociedade para combater a impunidade.

A professora Eleuza Guazelli afirmou que a questão da sexualidade é trabalhada há anos nos currículos escolares do Estado. Segundo ela, essa conscientização precoce contribui para diminuir a vulnerabilidade das crianças frente à situações que possam vir a presenciar. Para a professora as crianças e adolescentes são mais vulneráveis quando não têm acesso às informações necessárias.

O vereador e presidente da CPI da pedofilia na Câmara Municipal de São Paulo, Marcelo Aguiar, falou do trabalho que vem sendo feito naquela Casa e da importância do enfrentamento à violência. Para ele, a prevenção é de suma importância assim como a preservação das crianças violentadas.



Dados alarmantes



As doutoras Vera e Daniela do IML apresentaram o programa Bem-Me-Quer, iniciado pelo ex-governador Mário Covas, que realiza um atendimento integrado às vítimas de violência sexual na cidade de São Paulo desde 2001 e que tem como um dos objetivos a centralização desse tipo atendimento. O programa atende em média 300 vítimas por mês e oferece atendimentos pré-hospitalares, periciais e sociais. Só no ano de 2009, 80% dos casos gerais do IML correspondem a crianças e adolescentes, mostrando um quadro preocupante.

Ginecologista do Hospital Pérola Byington, Jefferson Drezett, fez um balanço dos atendimentos do hospital a crianças e adolescentes vítimas de abuso. De acordo com ele, em 15 anos de trabalho, foram mais de 18.740 casos de violência; 64% deles correspondentes a crianças e adolescentes.

Nesses 15 anos, foram realizadas 9.725 ações de anticoncepção de emergência e evitadas 413 gestações por estupro, a ocorrência de 1.500 doenças sexualmente transmissíveis, e de 260 casos de HIV. De acordo com ele, todas as ocorrências registradas foram encaminhadas a conselhos tutelares para ciência e foi constatado que cerca de 20% dos atendidos têm o pensamento, ou já tentaram o suicídio. Para Drezett, o Estado ainda tem instrumentos muito precários para um atendimento especializado, no entanto, ele afirma que "se temos dinheiro para construir ponte que liga nada a lugar nenhum, havemos de ter dinheiro para cuidar dessas crianças".

Os especialistas destacaram a importância de uma ajuda psicológica nos casos de abuso e a necessidade não apenas de punição, mas de tratamento do agressor, independente de distúrbio ou doença.

alesp