Opinião - Paz no futebol, pelo amor de Deus!


16/04/2012 10:26 | Chico Sardelli*

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Lembro com muita saudade dos tempos em que meu pai nos levava ao campo para que pudéssemos, em família, desfrutar de uma partida de futebol. Você deve pensar que estou nostálgico, mas não é isso. O que me vem à cabeça é que eu e meu irmão até podíamos ficar sozinhos num campo, porque ali estava uma forma de reunir as pessoas numa torcida, e os adversários, bem, esses eram mesmo só adversários, porque fora de campo não ousávamos discutir ferrenhamente ou violentamente quem era melhor no quê. Nós apenas nos divertíamos e torcíamos.

Faço parte de uma federação que luta dia e noite pelo famoso fairplay, que é a paz no futebol. Mas acredito que depois da tragédia acontecida recentemente, a torcida está muito além de um emblema do coração, ela está nas frustrações que as pessoas carregam e projetam num time de futebol. Não consigo acreditar, nem como cidadão nem como homem público, que a saga de uma camisa possa pontuar assim os objetivos de um ser humano.

A fúria não está na agremiação, no time, nos jogadores e muito menos no resultado dos jogos, ela está além, está na necessidade de mostrar o poder fora do campo. Ela está na projeção da maldade e isso é uma coisa que não se combate em nome de nenhum clube.

A ira que acomete palmeirenses e corinthianos e outros rivais vai além do confronto esportivo. Ela está infiltrada na maldade e a isso temos que responder com decisões duras e às vezes até com atitudes extremas que garantam a segurança do torcedor, o verdadeiro, aquele que tem no coração uma marca: a do time no qual ele acredita.

Mas como vamos fazer com as torcidas organizadas, então? Essa discussão também vai além dos clubes e dos projetos de paz. Ela está num conjunto dessas coisas. Está em dimensionarmos o desrespeito àqueles que não têm a mesma bandeira. Estamos estudando uma maneira de impedirmos essa violência, dentro, mas principalmente fora dos estádios, onde o ser humano se digladia em nome de seu clube do coração.

Creio que as torcidas precisam nos dar um alento, apresentando à sociedade uma forma de não violência, excluindo quem age com banditismo e intolerância. É hora de um sonoro basta, em nome de todos os jovens que morreram por amor a uma camisa, incentivo que os clubes não querem e que os jogadores repudiam.

Apresentei em 2009 um projeto de lei que está pronto para a Ordem do Dia e vai ser por meio dele a nossa contribuição à sociedade brasileira e às famílias que perderam seus torcedores em confrontos. O texto autoriza o Executivo a limitar ou a vedar o acesso aos locais de realização de partidas de futebol, de torcedores ou de simpatizantes da equipe visitante envolvida na partida, quando houver risco à segurança pública e à integridade das pessoas.

Fora de campo, que sejamos apenas cidadãos, dentro de campo que sejamos apenas torcedores!



*Chico Sardelli é deputado estadual pelo Partido Verde e torcedor.

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