Às vezes com humor, outras vezes com fantasiosa dramaticidade, João Gammaro penetra com elã, sem indecisão, nesse mundo evocado com a magia própria de um conto inventado. Com uma perfeita segurança técnica, o artista exalta seus traços, obtendo algumas imagens grotescas, nada majestosas ou tenebrosas. Elas criam um clima de tensão em que se sobressai uma veia irônica e no qual o humor que contribui a produzi-la a possui e a domina. Escondido atrás de uma timidez visível está o caráter artístico, preeminente e distinto, da personalidade desse artista. Nela encontramos a relação estabelecida pelo artista entre a observação do mundo objetivo do homem e seu ambiente, as particulares reações e transformações assumidas após uma intervenção emotiva e fantástica. Através do desenho a nanquim, João Gammaro iniciou há tempos uma exploração sobre as sombras que existem em cada um de nós. Trata-se de uma rara coerência em nossos dias, em que os modismos se sucedem. Esse artista demonstra estar pronto a advertir cada tremor, cada pulsação, cada medo, a fim de apagar os momentos de que nos envergonhamos, para que amanhã nos lembremos que poderíamos ter dito e calamos, que poderíamos ter gritado e sussurramos, que poderíamos amar e odiamos. Possuindo o dom de narrador, seus contos atingem o objetivo de seus desenhos. A realidade alcança uma zona encantada, próxima do reino da magia e do sonho, onde as imagens adquirem força através dos contornos e do conteúdo. Nada exclui, todavia, o comentário do objeto em foco no mesmo instante em que o artista o evoca. Espanto, obra doada ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo, representa bem o espírito do artista. Sátira ou elegia? Em suas linhas essenciais, movimentadas, se configuram forças que exprimem uma forte agitação interior concebida como trunfo da dignidade humana. O artista João Gammaro, pseudônimo artístico de João Batista Ramos Gammaro, nasceu em 1961, em São Paulo. Formou-se em comunicação social, com habilitação em publicidade e propaganda, pelo Instituto Metodista de Ensino Superior de São Bernardo do Campo (1987). Incentivado pelas professoras primárias, que previam suas qualidades artísticas, desenha desde criança. A partir de 1978 passou a se dedicar às artes de forma sistemática no ateliê que criou em sua própria residência. Participou de diversas exposições coletivas e realizou mostras individuais na Oficina Cultural Amancio Mazzaropi, no Brás (1997); Espaço Cultural do Esporte Clube Pinheiros (1994); e no Espaço Cultural da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo em (1989). Suas obras encontram-se em diversas coleções particulares e no Museu de Arte do Parlamento de São Paulo.