A obra de Ida Zami não é fácil de ser definida. Parece abstração e, ao mesmo tempo, não. Um conjunto de forças mantém em tensão a forma e lhe dá um sentido de imediatismo, de espontaneidade, quase uma repercussão do inconsciente e uma forte emergência existencial. Contrastando com tudo isso, a imagem é formada por meio de uma longa meditação, um lento depositar da matéria, que é aplicada paulatinamente. Em resumo, a artista obtém a essência vital da imagem através de uma construção meditada. Com todos esses contrastes, ela completa sua obra, na qual encontramos a substância de seu trabalho, ou a dizer melhor, de sua personalidade de pintora. Suas obras nos lembram muros. Neles, o espaço é criado no interior da imagem, onde encontramos uma tentativa de transcrição do tempo, da vida que deixaram sobre o antigo tijolo a garoa, os ventos, a poluição e o encostar cotidiano do homem. As emoções de Ida Zami provêm, na sua maioria, da paisagem, mas não existe nada menos paisagístico, menos tradicional, do que seu modo de olhar e captar a emoção. O muro antigo e esfumaçado de uma casa abandonada, a madeira corroída de uma porta, um fantasma do entardecer são as coisas que a artista parece captar. Nesse diálogo entre a sua presença e o mistério da natureza, a sua relação com o mundo é de substância profundamente romântica. Nas obras Abstração e Sem Titulo, doadas ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo, encontramos uma emoção, um sentimento de absoluto, uma maneira de valorizar moral e poeticamente as camadas de matéria, onde a liberdade ou a anarquia do informal provocam a eliminação do controle da imagem. A artista Ida Guttenberg Zamijovsky, ou simplesmente Ida Zami, nasceu em São Paulo, em março de 1940. Formou-se em artes plásticas pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo e em odontologia pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Realizou diversos cursos de extensão na área de design têxtil no Senac; de desenho, pintura e criatividade no Atelier Sarah Goldman (1978-1980) e Hedva Megged (1980); de ourivesaria, com Guita Lenner (1978); e de liberação da criatividade, com a arte-terapeuta Carminha Levy (1981, 1984 e 1987). Ministra cursos de desenho, pintura e composição, design e joalheria artística, artesanato em metal e ourivesaria desde 1980, em seu próprio ateliê. Oferece cursos de arte na Fundação Mokiti Okada (1998), no Museu de Arte Contemporânea da USP (1997), no Museu Brasileiro da Escultura (1997) e no Paço das Artes (1988-1992), entre outros locais. Participou de diversas exposições coletivas, desde 1980, destacando-se: Salão de Artes de Presidente Prudente, SP, com Medalha de Ouro (1981); Salão Nacional de Artes Plásticas Pablo Picasso, São Paulo, com Menção Honrosa (1981); X Salão Araraense de Artes Plásticas, SP, com Medalha de Prata (1982); Pinacoteca do Estado, São Paulo (1982); Museu de Arte de São Paulo (1984); I Expo Brasil-Israel, Parque Anhembi, São Paulo (1985); I Mostra de Arte Contemporânea Brasileira, em Lisboa, Portugal, com Medalha de Ouro (1985); Taipei Fine Arts Museum, Taipei, Taiwan (1986); I Expo Portuguesa: Portugueses d"Além-Mar e seus Parceiros, Lisboa, Portugal (1986); Oficinas Culturais Três Rios, São Paulo (1987); "Escultura ao Alcance de Todos", Galeria das Artes, São Paulo (1997); Art Now Gallery, Gottenburg, Suécia (1998); Galeria de Arte A Hebraica, São Paulo (1998); Espaço Studio Palazzi, Veneza, Itália (1999); Memorial da América Latina, São Paulo (1999); Fundação Bienal de São Paulo (2001); e "Dez Poéticas", A Hebraica, São Paulo (2002). Participou também das seguintes exposições individuais, entre outras: Galeria de Arte do IBREA, Campinas, SP (1982); A Hebraica, São Paulo (1993); e Galeria Bai, New York, Estados Unidos (1994). Possui obras em diversas coleções, notadamente na Europa, Estados Unidos e Brasil, incluindo o Museu de Arte do Parlamento de São Paulo.