Deputado Fauze Carlos


23/07/2012 21:16 | Antônio Sérgio Ribeiro*

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Fauze Carlos (ao centro) preside os trabalhos de comissão na Assembleia <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2012/fg116392.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Fauze Carlos no plenário<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2012/fg116391.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Deputado Fauze Carlos no plenário da Assembleia, em 1972 <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2012/fg116390.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Fauze Carlos (ao centro)<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2012/fg116393.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Fauze Carlos (ao centro) preside trabalhos de comissão <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2012/fg116394.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Faleceu no último dia 20 de julho no Hospital Sírio-Libanês na capital paulista, vitima de falência múltipla de órgãos, o ex-deputado estadual Fauze Carlos. Era filho de Antonio Carlos Kyrillos e Emilia Carlos Kyrillos, tendo nascido na cidade de Catiguá, São Paulo, em 19 de outubro de 1920.

Seu irmão Emilio Carlos, um dos maiores tribunos do parlamento brasileiro, foi deputado federal por São Paulo, entre 1947 e 1963, e um dos fundadores do Partido Trabalhista Nacional (PTN), do qual foi líder na Câmara Federal. Ainda durante da Segunda Guerra Mundial, Emilio foi locutor da BBC de Londres, para os programas radiofônicos em língua portuguesa.

Fauze Carlos realizou seus estudos no Colégio São Luiz, de Jaboticabal. Transferindo-se para São Paulo, cursou o Liceu Franco Brasileiro. Concluindo os cursos regulamentares, matriculou-se na Escola Paulista de Medicina, hoje Universidade Federal de São Paulo, na capital paulista, em 1942. Formou-se médico em 1947.

Ainda quando era estudante de medicina, foi locutor, radioator, apresentador e produtor de programas musicais, como o Paraiso dos Tangos, na Radio Cruzeiro do Sul, a PRB-6, então situada no Largo da Misericórdia, no centro de São Paulo.

Após sua formatura, foi nomeado em 31 de julho de 1947, na gestão do governador Adhemar de Barros, médico do Departamento Educação Física, órgão da Secretaria de Educação encarregado dos exames clínicos de crianças que se destinavam às colônias de férias no interior do Estado. Pelo Diário Oficial do Estado de 5 de outubro de 1952, no governo Lucas Nogueira Garcez, foi admitido como médico da Secretaria da Saúde, cargo em que se aposentadoria em 24 de julho de 1984.

À frente do serviço médico do Departamento de Educação Física e Esportes, foi responsável pela fiscalização de todas as piscinas existentes em São Paulo, que deveriam cumprir uma norma legal a respeito da utilização de cloro nas águas. Essa verdadeira blitz culminou com a interdição das piscinas dos clubes Pinheiros e Harmonia por descumprimento da legislação de saúde pública.



Secretario da Saúde



No governo de Jânio Quadros, em 29 de março de 1957, foi designado chefe de gabinete da Secretaria da Saúde Pública e Assistência Social, quando o titular era o médico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Antônio Carlos Gama Rodrigues. Deixou então suas funções de médico do Departamento de Educação Física e Esportes.

Pelo afastamento do secretario da Saúde, no início de 1958, passou a responder pelo expediente da pasta, e por decreto de 24 de abril de 1958, publicado no Diário Oficial do Estado do dia seguinte, foi nomeado pelo governador Jânio Quadros como titular da Saúde, no lugar de Gama Rodrigues, que a havia solicitado a sua exoneração. Fauze Carlos assumiu seu cargo no mesmo dia 25 de abril. Ele seria mantido no cargo pelo sucessor de Jânio Quadros, o governador Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto, que assumiria o poder em 31 de janeiro de 1959.

Fauze lutou intensamente pela aprovação de seu plano de estruturação da secretaria, projeto esse que infelizmente não ultrapassou a chefia do Poder Executivo. Conseguiu, contudo, implantar o Conselho Superior de Saúde, colegiado com função de assessorar o secretário de Estado nas decisões referentes aos principais problemas. Esse órgão, durante seu funcionamento, elaborou pareceres de elevado valor técnico e social.



Vacina contra poliomielite



Durante sua gestão na secretaria da Saúde foi o responsável pela primeira campanha de imunização da poliomielite no Estado de São Paulo, ainda utilizando a vacina injetável Salk, que havia sido descoberta pelo médico norte-americano Jonas Edward Salk, e posteriormente em 1961, também na sua administração, foi introduzida a vacina Sabin, essa oral e de mais fácil manipulação. O êxito dessa campanha de erradicação da poliomielite fez com que nos dias de hoje essa grave doença atinja um número pequeno de casos, não só em são Paulo como no Brasil.

Anos depois, participou do 1º Simpósio Santista do Deficiente Físico, que foi realizado no Centro de Cultura da cidade de Santos. O evento teve a participação de Albert Sabin. Juntamente com o professor Flávio Pires de Camargo, Fauze Carlos saudou grande o cientista, lembrou suas experiências pessoais na época em que a pólio provocava epidemias, com a morte de centenas de crianças no Estado, até que a secretaria da Saúde resolveu implantar a vacina. Os pulmões de aço, em número insuficiente; a angústia de ver crianças morrerem à espera de poder usá-los; depois, o medo da população, que se recusava a tomar a vacina, até que foi organizada uma grande campanha elucidativa, por meio da imprensa e da televisão.



Unidades sanitárias polivalentes



Como secretário, incentivou a construção, no Estado, de prédios para as unidades sanitárias, designadas "bivalentes", "trivalentes" e "polivalentes", para agregar, em um mesmo edifício, um PAMS com um Posto de Puericultura, ou um centro de saúde com um Posto de Puericultura ou um dispensário de tuberculose ou de lepra, ou um Posto de Malária ou de Tracoma, etc., apesar de essa medida não representar a integração de todas as unidades sanitárias, foi uma etapa de grande valor para tornar fisicamente possível essa tão sonhada integração. Foi o responsável pela construção do atual prédio do Hospital Emílio Ribas e do Hospital Municipal do Tatuapé.

Em 18 de junho de 1960, participou da inauguração do Hospital de Tuberculosos, iniciado em 1950 quando o governador do Estado era Adhemar de Barros. Na solenidade, Fauze Carlos representou o governador Carvalho Pinto. Posteriormente, o governo estadual cedeu o uso daquele próprio estadual à Fundação Padre Albino, que ali instalou o Hospital Escola Emílio Carlos, vinculado à Faculdade de Medicina e também à Faculdade de Enfermagem.

No ano de 1962, com a decisão de Jânio Quadros de se candidatar ao governo do Estado de São Paulo, fazendo contraponto ao candidato oficial do governador Carvalho Pinto, o ex-secretário José Bonifácio Coutinho Nogueira, Fauze Carlos, por solidariedade a Jânio, apresentou seu pedido de exoneração ao cargo de secretário da Saúde a Carvalho Pinto, o que foi concedido em 14 de junho de 1962. Foi substituído pelo médico Waldir da Silva Prado.

Deixando o cargo de secretário da Saúde, reassumiu suas funções de médico do serviço público estadual. Na gestão do prefeito brigadeiro José Vicente Faria Lima, na prefeitura de São Paulo, foi nomeado secretário da Saúde do município.



Ingresso na Assembleia



Ingressou na política quando concorreu nas eleições de 15 de novembro de 1966, pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição ao regime militar implantado no Brasil em 1964, a uma vaga de deputado estadual, obtendo 49.247 votos. Assumiu sua cadeira na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em 15 de março de 1967. Foi membro efetivo das comissões permanentes de Obras Públicas e de Saúde e Higiene, e como suplente a de Educação e Cultura.

No aniversário da cidade de São Paulo, em 25 de janeiro de 1968, o deputado Fauze Carlos participou das festividades de transferência da sede da Assembleia Legislativa do Palácio das Indústrias, no Parque D. Pedro, na zona central da capital, para a nova sede do Palácio 9 de Julho, no Parque do Ibirapuera.

No dia 7 de fevereiro de 1969, foi surpreendido pelo fechamento da Assembleia Paulista pelo Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, e a cassação do mandato parlamentar de vários deputados. A Alesp permaneceu em recesso determinado pelo regime militar até 31 de maio de 1970.



Mudança de partido



No pleito de 15 de novembro de 1970, concorreu novamente ao Palácio 9 de Julho, novamente pelo MDB, sendo eleito, com 37.321 votos. Tomou posse na Alesp para a 7ª Legislatura (1971-1975), em março de 1971. Durante a sessão legislativa, trocou de partido, ingressando na Aliança Renovadora Nacional (Arena), que apoiava o governo federal e estadual. No segundo biênio da legislatura (1973-1974), foi membro efetivo das Comissões de Promoção Social e de Saúde e Higiene.

Na eleição de 15 de novembro de 1974, concorreu pela Arena a uma vaga de deputado federal, mas não logrou êxito. Com a indicação de Paulo Egydio Martins como governador de São Paulo, Fauze Carlos teve seu nome cotado para o cargo de secretário de Estado da Saúde, o que não se efetivou. Posteriormente foi nomeado diretor do Instituto Butantã, exercendo o cargo de 8 de abril de 1976 a 14 de março de 1979.



Terceiro mandato



Nas eleições de 15 de novembro de 1978, foi mais uma vez eleito para a Assembleia Legislativa de São Paulo, pela Arena, com 31.687 votos, para a 9ª Legislatura (1979-1983). Foi membro efetivo das Comissões de Finanças e Orçamento e na de Promoção Social e suplente da Comissão de Economia e Planejamento. Com a criação do Partido Democrático Social (PDS), que sucedeu a Arena, filou-se a essa nova agremiação politica.

Foi reeleito deputado estadual em 15 de novembro de 1982, pelo PDS, com 45.394 votos, assumindo o mandato em 15 de março de 1983, na 10ª Legislatura (1983-1987). Entre 1980 e 1985, foi líder da bancada do Partido Democrático Social na Alesp. No biênio de 1985-1986, foi membro efetivo da Comissão de Assuntos Metropolitanos e da Comissão de Saúde e Higiene, além de suplente na Comissão de Defesa do Meio Ambiente.

Em fins de 1985, foi convidado pelo prefeito Jânio Quadros para ocupar o cargo de secretário municipal de Higiene e Saúde de São Paulo, mas acabou não aceitando a nomeação.



Constituinte estadual



Filiando-se ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), por essa agremiação política foi mais uma vez reeleito deputado estadual em 15 de novembro de 1986, com 38.238 votos, assumindo sua cadeira no ano seguinte, para a 11ª Legislatura (1987-1991). Integrou a Constituinte estadual como membro efetivo da Comissão da Ordem Econômica e Social da Constituinte, sendo um dos signatários da nova Constituição do Estado de São Paulo, promulgada em 5 de outubro de 1989. Nesse quatriênio parlamentar, foi membro efetivo da Comissão de Saúde e Higiene e suplente da Comissão de Promoção Social.

No pleito de 3 de outubro de 1990, candidatou-se pelo PTB mais uma vez a Assembleia Paulista, mas não teve êxito.

Muito amigo de Jânio Quadros, em fevereiro de 1992, foi um dos últimos a trocar as algumas palavras com ex-presidente quando internado no Hospital Albert Einstein. No ano de 1993, foi um dos fundadores do Movimento Cívico Nacional Jânio Quadros, integrando o Conselho Diretor da entidade.

Nas eleições de 3 de outubro de 1994, foi candidato a deputado estadual pelo PTB, obtendo apenas uma suplência. Em 1996, teve seu nome lançado pelo deputado Campos Machado para compor a chapa como vice-prefeito para as eleições municipais daquele ano, o que acabou não se efetivando.

Era detentor de inúmeros diplomas, títulos e medalhas concedidas em homenagem pelo seu trabalho como médico e parlamentar.

Afastando-se das lides partidárias, recolheu-se à vida privada. Doente há vários anos, estava internado há quase dois anos na unidade de terapia intensiva do Sírio Libanês.

Seu corpo foi velado no Hall Monumental da Assembleia Legislativa e enterrado no Cemitério São Paulo, na capital paulista, no sábado, dia 21 de julho.

Foi casado com Gladys Adma Zacharias de Carlos, com quem teve três filhas, Leda, Silvia e Fernanda, e deixou três netos.

A missa de 7º dia em intenção do deputado Fauze Carlos será realizada na próxima quinta-feira, dia 26 de julho, às 12 horas, na Igreja São José, situada na rua Dinamarca, 32, Jardim Europa, na capital paulista.



*Antônio Sérgio Ribeiro, advogado e pesquisador, é diretor do Departamento de Documentação e Informação da Alesp.

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