Desde o final dos anos oitenta ouvimos falar do sistema de produção "Just In Time", adotado por empresas de vários categorias. Em linhas gerais, o processo consiste no abastecimento contínuo da linha de montagem, numa comunicação direta entre todos os setores envolvidos na montagem do produto final. Esse sistema permite maior agilidade, fazendo com que as empresas trabalhem com estoques reduzidos e ganhe em produtividade e agilidade, facilitando o sistema de controle de qualidade. O sistema, junto com alguns programas participativos, foi o responsável pelo sucesso de grandes empresas, principalmente multinacionais do setor automobilístico. Nele, sem dúvida alguma, a comunicação é ferramenta fundamental, além, é claro da adesão do colaborador, de todos os escalões, do presidente ao mais humilde funcionário. O exemplo foi citado apenas para ilustrar uma situação que vivemos, hoje, em nosso país. É evidente que a administração de um país nada tem a ver com a administração de empresas. A complexidade é outra, mas vamos ao caso: o governo joga todas as suas fichas na exportação, principalmente resultados do agronegócio. Afinal ali está a nossa grande vitrine, no que tange ao mercado externo. Ao mesmo tempo, dificuldades climáticas nos Estados Unidos fazem com que os americanos aumentem a importação do farelo de soja e milho. Essa procura teve sintomas imediatos como o aumento de até cem por cento no preço desses produtos, no Brasil. E o resultado disso começa a ser sentido no mercado interno, ou seja, a inviabilização da exportação e da produção de aves e suínos, que, em breve, afetará também a pecuária. E, como consequência, a tendência de alta nos preços da carne, no mercado interno. No embalo de tentar mostrar serviço e apresentar resultados animadores no que se refere à exportação, o governo peca numa coisa simples, porém de vital importância: a falta de encaixe dos dentes da engrenagem. Os vasos comunicantes do governo precisam ter maior sintonia entre si porque, ainda nos espelhando no exemplo do processo produtivo de uma empresa citado acima, o Just In Time, na falta da peça correta corre-se o risco de produzir charretes sem rodas, em época de naves espaciais. * Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, economista e agente fiscal de rendas aposentado.