Museu de Arte do Parlamento de São Paulo - Iconografia


15/10/2012 11:52 | Emanuel von Lauenstein Massarani

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 O mapa datado de 1822 faz parte do acervo do Museu de Arte do Parlamento de São Paulo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2012/fg118491.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Dominique Edouard Baechler <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2012/fg118492.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Iconografia América do Sul<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2012/fg118497.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A cartografia é arte, pois subordina os princípios fundamentais do processo cartográfico às leis da estética. Os mapas geográficos, os atlas, as cartas náuticas, as plantas, os desenhos e os panoramas constituem importante contribuição ao estudo da formação da história do Brasil e do território nacional.

Graças ao denodo de cartógrafos, engenheiros, desenhistas, topógrafos, navegantes, sem falarmos dos viajantes que aportaram na Terra de Santa Cruz, todos verdadeiros artistas pesquisadores, o Brasil de hoje pode melhor conhecer as rotas marinhas utilizadas pelos navegadores europeus, as utopias dos holandeses e dos franceses no Nordeste, a descoberta da Amazônia, o desbravamento dos bandeirantes, os roteiros do ouro pelas Minas Gerais e o traçado de nossos limites fronteiriços.

Isa Adonias, a dedicada pesquisadora e organizadora da maravilhosa mapoteca do Itamarati, afirma que "a história da cartografia é tão antiga que não se torna possível determinar as suas origens. Supõe-se que a humanidade tenha expressado seus conhecimentos geográficos através de mapas muito antes do aparecimento da escrita e que sua feitura inclui-se entre os tipos mais antigos da arte gráfica, comum a todas as culturas primitivas".

Alexander von Humboldt afirma categórico que o nome Brasil, aplicado para denominar uma madeira utilizada para tingir, teve sua trajetória iniciada, embora com variações lingüísticas, no começo do primeiro milênio de Sumatra ao Novo Mundo. Assim, o nome de nosso país aparece em importantes mapas da época medieval denominando uma misteriosa ilha, entre as muitas existentes no chamado Mar Tenebroso. Do que se conclui que o nome é anterior ao próprio país.

Vale salientar que exatamente na Idade Média a cartografia teve influências místicas onde tiveram presença importante os elementos fantásticos, bíblicos e religiosos. Dizem os estudiosos que a cartografia se aproximou da realidade com a influência dos cruzados e as narrações dos viajantes de então.

Os mapas dessa época exerceram grande fascínio elaborado que foram sob a influência do cristianismo. Não podemos esquecer que os descobrimentos portugueses tiveram inicialmente seus registros e mapas elaborados por cartógrafos italianos e holandeses, a partir de então passaram os lusitanos a elaborar suas próprias cartas náuticas. A partir do século 16, os portugueses passaram a produzir atlas manuscritos envolvidos com belíssimas iluminuras.

Na obra Imagens da Formação Territorial Brasileira, editada pela Odebrecht, Isa Adonias escreve que os franceses conquistaram o mercado dos mapas a partir do século 17. "Depois da fase brilhante da escola de Dieppe, a cartografia francesa voltaria a destacar-se nos séculos 17 e 18, com uma série de nomes ilustres como os da família Sanson d'Abbeville (Nicolas, o fundador, 1600-67); Adrian e Guillaume; de Pierre Duval (1619-83), genro de Nicolas; seu neto Gilles Robert de Vaugondy; seu bisneto Didier Robert de Vaugondy e Nicolas de Fer (1646-1720). Guillaume de L'Isle ou Delisle (1675-1726) foi o primeiro geógrafo do rei e Aléxis-Hubert Jaillot (1632-1713) editou a obra geográfica mais importante da época, Le Neptune François (1693), em colaboração com Jean-Dominique Cassini, eminente astrônomo".

Nota-se nos mapas feitos então uma preocupação mais científica. Os elementos decorativos foram reservados apenas às cartelas dos títulos e escalas, e os espaços internos das terras, preenchidos com notas geográficas e esclarecimentos informativos. Não mais se permitiu aos estampadores e decoradores a liberdade de improvisar composições ornamentais, que muitas vezes apenas serviam para disfarçar a insuficiência de informações geográficas.

As cartelas ilustrativas, conhecidas como "cartuches", que envolvem o nome dos mapas, entretanto, representam e resumem o que seus criadores imaginavam do país, de seus recursos, suas belezas naturais e constituem hoje objeto de admiração dos exigentes colecionadores.

A obra Carte d'Amerique, doada ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo pelo colecionador Dominique Edouard Baechler, expert e crítico de arte, foi elaborada por Guillaume de L'Isle (ou Delisle) e Philippe Buache, ambos primeiros geógrafos do rei e pertencentes à Academia de Ciências. Guillaume de L'Isle foi um cartógrafo excepcional, autor de mais de cem mapas importantíssimos e trabalhou nos reinados de Luiz 14, do regente e de Luiz 15. A carta em questão foi revista e aumentada pelo geógrafo Dezauche, sucessor dos primeiros e impressa em Paris pelo seu próprio autor, sob o reinado de Luiz 18, exatamente em 1822, data da proclamação da Independência do Brasil. Trata-se pois de uma obra rara de importância artística e histórica.



O colecionador



Dominique Edouard Baechler nasceu no ano de 1949, em Genebra, Suíça, onde se formou em história da arte e ciências políticas na universidade local. Em 1979, transferiu-se para o Brasil. Trabalhou durante anos com o professor Pierre Bouffard, diretor conservador do Museu de Arte e de História de Genebra e personalidade de renome internacional.

Essa convivência lhe possibilitou entrar no mundo dos principais museus e galerias europeu, bem como em contato com colecionadores e amadores de arte. Muito cedo iniciou sua própria coleção de gravuras e mapas antigos originais, formando assim o núcleo de seu acervo, que contém peças que hoje são, em muitos casos, raras ou impossíveis de se encontrar.

Com a colaboração de colecionadores, colegas e experts do mundo inteiro, continua na busca incansável de peças principalmente ligadas à iconografia brasileira e sul-americana, construindo assim um verdadeiro patrimônio histórico e cultural.

Paralelamente às suas atividades de pesquisa, Dominique Edouard Baechler vem desenvolvendo anualmente técnicas inovadoras de apresentação de seus mapas e gravuras com molduras e passe-partouts elaborados para a conservação de suas obras. A estética muito sofisticada de suas criações tem sido objeto de destaque e encômios dos maiores colecionadores do país.

Além de escrever críticas de arte e ter dado aulas de história da arte na Escola de Sociologia e Política da USP, colabora com a Unicef e as Nações Unidas, como conselheiro, na seleção de obras de arte para os cartões de Natal daquela organização da infância e juventude.



Obras-primas da iconografia brasileira



Dominique Edouard Baechler é também curador da importante exposição Obras-Primas da Iconografia Brasileira, que se inaugura hoje no Clube Transatlântico e permanecerá aberta até 8 de novembro, em sua sede à rua José Guerra, 130, Chácara Santo Antônio. A TV Assembleia preparou uma importante emissão sobre a Imagem do Brasil Através da Gravura e da Cartografia, para ser transmitida em sua programação.

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