Museu de Arte: Os 'De Deus'


25/10/2012 11:49 | Emanuel von Lauenstein Massarani

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Os vírus estão chegando<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2012/fg118757.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Waldomiro de Deus<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2012/fg118758.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Violeiros com carro de boi<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2012/fg118759.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Lourdes de Deus<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2012/fg118760.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> O Canto do Pilão<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2012/fg118761.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Waldeci de Deus<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2012/fg118762.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Os 'De Deus': pintores de uma mesma família criam arte primitiva tipicamente brasileira



Uma visão otimistas e ingênua de um mundo pleno de felicidade é geralmente a característica dos pintores primitivos que, por não possuírem uma formação acadêmica, pintam o que sentem e com as técnicas as mais variadas. Assim é a família "de Deus", constituída por Waldomiro de Deus, sua esposa Lourdes de Deus e sua irmã Waldeci de Deus, cujas obras que abaixo descreveremos integram o acervo do Museu de Arte do Parlamento de São Paulo.



O mistério da substância



Os horrores dos atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos que tanto abalaram o mundo deixaram, na alma do artista Waldomiro de Deus, traços evidentes, porque, em seu quadro se descobrem os tons característicos daquela catástrofe que enlutou milhares de famílias.

Sua pintura é uma espécie de biografia de sensações genuínas e de sentimentos delicados, aquecida naturalmente do entusiasmo que o envolve quando pinta.

O artista alcança uma vigorosa essencialidade comunicando-nos uma infinidade de sensações sutis e profundas, uma floresta de traços e de símbolos onde com surpreendente imediatismo de registro e com barbárica suavidade, declina o seu conhecido idioma pictórico decretando o mistério da substância.

Waldomiro de Deus manifesta o seu empenho, sua isolada interioridade que nos transmite o eco daquela humanidade palpitante e daquela ânsia de amor que é própria da identificação de si mesmo para o seu mundo e para os outros.

Suas imagens simples, as cenas da vida quotidiana refletem bem a sua inocência e sua ingenuidade frente a vida. É neste momento que nasce em Waldomiro de Deus o desejo de uma arte imediata e narrativa, longe do conceitualismo que está se tornando de moda.

A obra "Os vírus estão chegando", doada ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo, Waldomiro de Deus transporta para tela a sua indignação e a sua revolta como fez anteriormente inquieto com os problemas do país pintando cenas de violência e de corrupção.



Waldomiro de Deus



Waldomiro de Deus, nasceu em Itajiba, no sul da Bahia, em 1944.

Aos 12 anos começou a percorrer o Brasil passando inicialmente pelo interior de Minas e em 1958 chegou a São Paulo. Viveu como menino de rua e trabalhou como engraxate em Osasco. Sua primeira obra de arte: uma escultura de barro em que mostrava uma santa em trajes modernos.

Aos 17 anos conseguiu emprego como jardineiro e paralelamente começou a pintar. Lembrando o interior de sua Bahia natal, retratava festas populares, histórias sobre mula-sem-cabeça e lobisomens. Descoberto pelo Marquês Terry Della Stuffa que lhe ofereceu espaço e material para pintar teve a oportunidade de conhecer o professor Pietro Maria Bardi e o físico Mário Schemberg que entusiastas impulsionaram sua carreira.

A partir de 1966 viveu na Europa, expondo na França, Itália, Bélgica e Holanda conhecendo celebridades como Salvador Dali. Voltou ao Brasil em 1975, passando a residir em Goiânia e São Paulo mantendo seu atelier em Osasco.

Pintou mais de 2000 obras sobre folclore, céu, planetas e situações do cotidiano. Suas obras encontram-se em coleções particulares e museus no exterior, em vários estados brasileiros e no Museu de Arte do Parlamento de São Paulo.

Há mais vinte anos Lourdes de Deus iniciou a pintar na mesma linha de hoje, salvo que, atualmente, em virtude das reflexões amadurecidas pela convivência com Waldomiro de Deus, seu marido e em suas peregrinações pelo Brasil, compreendeu que o importante é criar descrevendo o quotidiano e as coloridas manifestações folclóricas brasileiras.

Esse entusiasmo lhe consente, através de cada quadro, de voltar ser a menina de outrora e de provar a viver como então as sensações que sentiu e que permaneceram em seu coração. Através de suas obras, a artista transmite um ar de festa que consegue surpreender pela originalidade da composição e da figuração onde o delicado intimismo lírico se faz sempre presente.

Com constante coerência, tanto pelo rigor estilístico, o amor que tem pelas coisas vividas e apaixonada sinceridade de acentos consegue descrever os seres, os ambientes e as paisagens presentes na sua memória. Por intermédio da cor conserva as insubstituíveis funções líricas de sua mensagem evocativa.

A exemplo da obra "Violeiros com carro de boi", doada ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo, Lourdes de Deus pinta quadros repletos desta vida intensa e ensolarada que caracteriza a primavera brasileira que ela embeleza através de um cromatismo envolvente.



Lourdes de Deus



Lourdes de Deus, pseudônimo artístico de Maria de Lourdes da Hora de Deus Souza, nasceu em Custódia, PE em 1959. Casou-se com o pintor naif Waldomiro de Deus em 1976 e iniciou a pintar em 1992.

Participou de diversas exposições individuais e coletivas tais como as do Fórum de Natal, Goiânia, GO ; Coletiva Santuário da Arte, Goiânia, Go (1990) ; Coletiva Teatro Jataí, Goiânia, GO (1991) ; Coletiva Shopping Center Rio Verde, Goiânia, GO (1992) ; I Exposição Primitiva de Natal, Brasília, DF; Mulheres nas Artes, MAG, Goiânia, GO (1993) ; Bienal Brasileira de Arte Naif, SESC, Piracicaba, SP; Coletiva Galeria Frei Confrade, Goiânia, GO (1994) ; Homenagem Dia das Mulheres, Goiânia, GO (1995) ; Individual Correio no Espaço Cultural, Goiânia, GO (1996) ; Mostra Itinerante Lendas e Crenças, São Paulo, SP ; Coletiva Família de Deus, na Hebraica, São Paulo, SP (1997) ; Exposição Itinerante SESC Piracicaba, SP ; Espaço Cultural Universitário, Santos, SP (1998) ; O Místico na Arte Popular, Itaquera, SP ; Exposição Centro Cultural, Rio Claro, SP ; Teatro Municipal de Osasco, SP ; Naifs do Brasil, São Paulo, SP ; Coletiva no Osasco Plaza Shopping, Osasco, SP ; Galeria Casa Grande, Goiânia, GO (1999) ; Espaço Jorge Batista, Osasco, SP ; Centro de Convivência Cultural na Galeria de Arte D, Campinas, SP (2000) ; Galeria Jacques Ardies, São Paulo, SP ; Museu de Arte Naif, Assis, SP (2001).

Possui obras em diversas coleções particulares e no acervo do Museu de Arte do Parlamento de São Paulo.



Magia popular



Ao mesmo tempo que transmite uma mensagem de vida harmoniosa e pacífica ao reevocar jogos infantis, festas folclóricas na natureza amena e pura, Waldeci de Deus é uma figura de relevo na pintura naif brasileira pela sua seriedade pictórica.

Suas composições descrevem, através de cores claras e vivas, o trabalho do cotidiano e as festas de sua terra natal, revelando o espírito popular por intermédio da magia inerente aos verdadeiros naifs.

A artista não pinta para se distrair, mas o faz por uma verdadeira necessidade interior. Ela ama fixar paisagens pitorescas com seus casarios, animadas por uma multidão de personagens. Com uma escrita intensa, no sentido do desenho, confere à suas obras um cuidadoso detalhismo e um charme particular.

Waldeci de Deus se afirma dia a dia, provando que a perseverança vale tanto quanto a inspiração. Sua pintura é sensível e minuciosa, feita visivelmente com muito amor.

A obra "O Canto do Pilão", doada ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo, espelha bem o sentimento de Saint Exupéry em "O Pequeno Príncipe", quando afirma que "Somente vemos bem com o coração".



Waldeci de Deus



Waldeci de Deus, pseudônimo artístico de Waldeci de Deus Fuhrman, nasceu em Boa Nova, Bahia, em 1952. Transferiu-se para São Paulo em 1967, onde começou a pintar seguindo o caminho de seu irmão Waldomiro de Deus.

Com mais de 30 anos de carreira e mais de 600 quadros pintados, já teve obras expostas na Alemanha, Suíça, França, Itália e Estados Unidos.

Participou de diversas exposições individuais no Sesc, Santos, SP (1970); Grande Hotel da Barra, Salvador, BA (1971); Sesc, São Paulo, SP (1972/1979); Galeria KLM, SP (1974); Galeria Nuclearte, Osasco, SP (1975); Galeria Arumã, Ribeirão Preto, SP; Pintura Primitiva, Jabuticabal, SP (1976); Museu Dimitri Sensaud Lavaud, Osasco, SP (1978/1988); Via Cores, Sesi, São Paulo, SP (2003).

Esteve presente ainda em inúmeras mostras coletivas, como Festival da Batida USIS, São Paulo (1969); Frankfurt, Alemanha; Instituto Brasileiro Americano, Washington, EUA; Universidade de Indiana, EUA (1971); 21º Pittori Naifs Brasiliani, Itália; Birmingham Museum Art, Alabama, EUA (1973); 5º Naifs no Paço Municipal, São Bernardo do Campo, SP (1979); Arte Negra e Raízes, Paço das Artes, São Paulo, SP (1981); Mito e Magia dei Colori, Napoles, Itália (1982); Centro de Arte Primitiva, SP (1992); O Místico na Arte Popular Brasileira, São Paulo, SP (1993); Bienal Brasileira da Arte Sesc, Piracicaba, SP (1994), Naifs do Brasil, Sesc, Piracicaba, SP (1998), entre outros.

Suas obras estão incluídas no Dicionário de Artes Plásticas, MEC (1979); Artes Plásticas Brasil, 1989 e 1990, Editora Júlio Louzada (1989, 1990); Bienal Brasileira de Arte Naif Sesc, Piracicaba, São Paulo (1994).

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