Comissão da Verdade quer tombar prédio onde funcionou DOI-Codi

Local era um centro de tortura e extermínio, disse presidente do Condepe
29/11/2012 20:57 | Monica Ferrero " Foto: Maurício Garcia

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Adriano Diogo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-11-2012/fg119597.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ivan Seixas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-11-2012/fg119598.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Mauricio Politi<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-11-2012/fg119599.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Sandra keishi<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-11-2012/fg119601.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A Comissão estadual da Verdade Rubens Paiva reuniu-se nesta quinta-feira, 29/11, para propor o tombamento da sede do DOI-Codi, na capital paulista, e seu uso como lugar de memória. O deputado Adriano Diogo (PT) informou que o pedido de tombamento está em tramitação no Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat).

Ivan Seixas, presidente do Conselho de Defesa da Pessoa Humana (Condepe) e coordenador da Comissão da Verdade e também proponente do tombamento, afirmou que a ideia é transformar aquele local, onde esteve preso, e que era um "centro de tortura e extermínio", em um centro de memória.

Em setembro de 1969, além da delegacia, o local passou a abrigar, além do DOI-Codi, a Operação Bandeirantes (Oban), "um capítulo trágico da sociedade brasileira, um órgão ilegal funcionando em prédio público, da Secretaria de Segurança, financiado por empresários, com apoio do então governador Abreu Sodré e do Exército".

Seixas apresentou fotos feitas em visita ao prédio, localizado na rua Tutoia, onde funciona hoje o 36º Distrito Policial, destacando que celas onde eram feitas as torturas de presos políticos estão hoje desocupadas, inclusive porque correm histórias de que seriam assombradas. As três construções feitas para o aparato repressivo são localizadas em terreno que só foi legalizado em 1978, por decreto do então governador Paulo Maluf. Adriano Diogo lembrou que o decreto de autorização do uso do terreno pelo 2º Exército ainda não foi revogado.



Para não esquecer

Maurice Politi, do Núcleo de Preservação da Memória Política de São Paulo, ressaltou a importância de locais de preservação da memória, que somam 94 em todo mundo, sendo que 37 deles se localizam na América Latina. Lembrou que São Paulo já conta com o Memorial da Resistência, localizado no centro de São Paulo, onde funcionou o Dops, e destacou sua importância. Representante do Grupo de Trabalho Memória e Verdade do Ministério Público Federal, Sandra Kishi discorreu sobre os aspectos jurídicos que embasam o tombamento de locais de memória.

Diversas pessoas que estiveram presas no Doi-Codi e na Oban deram depoimentos emocionados à Comissão da Verdade. Lembraram circunstâncias e detalhes das prisões, todas no início da década de 1970, de companheiros também presos e das torturas físicas e psicológicas a que foram submetidos. Falaram também de torturadores e carcereiros, e explanaram sobre a lógica que movia a repressão.

"Temos uma dívida com todos os que foram torturados e mortos no DOI-Codi", disse Reinaldo Morano. Rosalina Santa Cruz disse: "apesar de ter sido torturada, sou uma resistente, não uma vítima". Artur Scavone sugeriu que fosse colocadas onde eram as celas placas com os nomes dos que lá morreram, ideia apoiada pelo vereador Gilberto Natalini, também ex-preso e que coordena a Comissão da Verdade na Câmara Municipal de São Paulo. O ex-preso Aton Fon Filho também prestou depoimento.

Ivan Seixas anunciou o lançamento do livro Seu Amigo Esteve Aqui, que conta a história de Carlos Alberto Soares Freitas, militante político assassinado na Casa da Morte, em Petrópolis (RJ), na década de 1970, que considerou "um documento histórico fundamental" sobre o período. Estiveram presentes também à reunião o deputado Uysses Tassinari (PV) e representantes do Condephaat.

Adriano Diogo leu texto de Marcelo Rubens Paiva sobre a descoberta recente de documentos sobre a prisão de seu pai, Rubens Paiva, e postagem do blog de Juca Kfouri, que ressalta as ligações da Confederação Brasileira de Futebol e seus dirigentes passados e atuais com a ditadura militar.

alesp