Opinião - A reinvenção do Pró-álcool - propaganda ou realidade?


21/01/2013 11:32 | * Vitor Sapienza

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Durante muito tempo, o dito popular "a propaganda é a alma do negócio", era visto com bons olhos apenas pelos comerciantes e grandes anunciantes que, por sua vez, investiam muito dinheiro em inserções publicitárias, com o intuito de atingir o maior número de pessoas possível, e consequentemente alavancar as vendas de produtos e serviços.

De uns tempos para cá, os órgãos governamentais perceberam o poder de penetração dos anúncios na camada mais humilde da população e resolveram adotar a máxima em suas ações. Quanto mais convincente, bonito e simpático, maior é a chance de vender uma informação.

As mensagens dos anúncios vendem o agora, o atual, e muitas vezes, se esquecem de contar uma coisa muito importante: a realidade. Foi assim com a campanha publicitária que pretendia vender a nossa autossuficiência em petróleo. Posar com as mãos cheias de óleo não foi uma exclusividade do ex-presidente Lula. Aconteceu, também, durante os anos 1970, na campanha O petróleo é nosso, e, como da primeira vez, ficou provado que não somos tão autossuficientes. No final de 2012, uma série de anúncios foi veiculada em emissoras de rádio e televisão com o intuito de vender o etanol como um combustível viável e brasileiro. Até aí, nenhuma novidade.

É inegável que a produção de combustível a partir da cana-de-açúcar demonstra que, quando existe investimento, os cientistas brasileiros são altamente competitivos com os especialistas de outros países, inclusive os dos EUA.

Pena que a publicidade veiculada não informou, e compete a quem tem mais idade lembrar, que o Pró-álcool não é uma novidade. Nas dácadas de 1970, 1980 e 1990 o governo federal investiu muito para o programa "pegar", mas que, infelizmente, por falta de avanços tecnológicos da indústria automobilística brasileira, "não pegou". Não vou culpar as montadoras de automóveis e não tenho o objetivo de discutir as condições de trabalho no plantio e colheita da cana.

É importante ressaltar que muitas cidades, inclusive do interior paulista, acreditaram na iniciativa federal e se desenvolveram graças à instalação de usinas sucroalcooleiras. Com o passar dos anos essas cidades viram sua economia naufragar por conta da falência do programa lançado pelo governo brasileiro.

Uma pergunta vem à cabeça e não consigo deixar de fazê-la: será que, desta vez, o "Pró-etanol" vai pegar? Funcionará adequadamente ou essa é mais uma propaganda?

Não estou querendo brigar com os publicitários e demais profissionais atrelados à área das comunicações sociais, mesmo porque entendo a importância da divulgação das ações, sejam elas governamentais ou não. É preciso ter responsabilidade com as informações para não levarmos as pessoas a erro.

*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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