Comissão da Verdade ouve relatos sobre o desaparecimento de Aylton Mortati

Documento apresentado à comissão indica farsa para ocultar morte por tortura do militante
19/02/2013 18:05 | Da Redação Fotos: Roberto Navarro

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 Virgílio Eney e Adriano Diogo  <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-02-2013/fg121276.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ivan Seixas, Virgílio Eney, Adriano Diogo e Renato Martinelli <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-02-2013/fg121277.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Renato Martinelli<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-02-2013/fg121278.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Reunida nesta terça-feira, 19/2, no auditório Teotônio Vilela, a Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), ouviu relatos sobre o preso político Aylton Adalberto Mortati, desaparecido desde novembro de 1971. Aylton, conhecido também por Tenente, cursava direito na Universidade Mackenzie quando entrou no movimento estudantil.

Integrante da Aliança Libertadora Nacional (ALN), Aylton foi preso no Congresso de Ibiúna em 1968. Depois participou do sequestro do avião da Varig em 1969 e foi para Cuba, onde teve treinamento de guerrilha por dois anos. Regressou clandestinamente ao Brasil em 1971, como militante do Movimento de Libertação Popular (Molipo).

Segundo informações colhidas pela comissão, Aylton teve seu endereço residencial revelado por um agente da repressão infiltrado no movimento. Em 4/11/1971, ele foi preso perto da casa onde estava abrigado, na rua Cervantes, 7, na Vila Prudente, em São Paulo.

Depois de sua captura não há nenhum dado oficial sobre o seu paradeiro. Segundo relatos de outros presos políticos, ele teria sido torturado e morto na sede do DOI-Codi e provavelmente enterrado clandestinamente no Cemitério Dom Bosco, no bairro de Perus.

O ex-colega de faculdade Renato Martinelli fez um relato sobre a convivência de dois nesse período e um retrato das ações dos grupos de repressão que atuavam na universidade. Martinelli foi para o exterior e não teve mais contato com Aylton, só sabendo de seu desaparecimento quando voltou ao Brasil.



Mais testemunhos



O advogado Virgílio Lopes Eney, que atuou no caso de Aylton a pedido de sua mãe, Carmem Mortati, compareceu à reunião e relatou o que sabia sobre a prisão e desaparecimento do ativista político. O advogado informou que chegou a encontrar uma certidão de óbito em nome de Aylton Adalberto Mortati, casualmente, sobre uma mesa na 2ª Auditoria Militar do Exército. Ao tentar ler o documento o advogado foi preso, interrogado e informado de que seu cliente nunca havia sido preso.

A participante da comissão e ex-presa política Maria Amélia de Almeida Teles entregou, em nome da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos, uma ficha de requisição feita pela Polícia Civil ao Instituto Médico Legal de exame de um corpo supostamente encontrado nos baixos do viaduto Bresser, próximo a rua Pires do Rio, em 14/11/1971, que aparentemente se refere a Aylton.

Ivan Seixas, coordenador da comissão e também ex-preso político, afirmou que o documento deixa claro que se tratava de uma farsa para encobrir a morte ocasionada por tortura. Seixas chamou a atenção para o nome do delegado que assinou o pedido de exame do corpo, David dos Santos Araújo, conhecido como Capitão Lisboa, torturador integrante da Operação Bandeirantes.

Seixas argumentou que a comissão deveria convocar o Capitão Lisboa para prestar esclarecimentos e solicitar que seja agilizado o processo de identificação das ossadas encontradas em uma vala comum no cemitério de Perus. (PM)

alesp