A audiência da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva desta quinta-feira, 28/2, tratou de desaparecidos políticos militantes e dirigentes do PCB: Davi Capistrano, Elson Costa, Hiram de Lima Pereira, João Massena Melo, José Montenegro de Lima, José Roman, Luiz Ignácio Maranhão Filho, Nelson Vera e Walter de Souza Ribeiro. Familiares e militantes da época testemunharam o desaparecimento e as tentativas de obter informações dos desaparecidos. Todos teriam sido torturados e mortos pela Operação Radar, cujo objetivo era prender e executar os dirigentes de PCB, sem deixar vestígios. Tais informações foram obtidas por meio de entrevistas à imprensa fornecidas pelo médico e torturador Amílcar Lobo e pelo ex-agente do DOI-Codi Marival Dias Chaves Canto. Os desaparecidos foram, finalmente, reconhecidos pela Lei 914/1995 como mortos por responsabilidade do Estado. José Miguel Wisnik, músico, compositor e ensaísta brasileiro, sobrinho de Elson Costa, falou sobre o tio e padrinho. Contou que Elson dedicou sua vida à militância do PCB desde 1940, passando pelo Estado Novo e adentrando a ditadura militar. "Ele demonstrava uma convicção límpida e serena, ao mesmo tempo que discreta", relatou. "Dava muita atenção à família, embora houvesse períodos em que desaparecesse. Quando despontou meu interesse pelo piano, me deu várias partituras", disse Wisnik, lembrando da época em que entrou na faculdade de filosofia da USP e passou a ouvir que o PCB era considerado um movimento mais moderado. "Isso desqualifica a afirmação da ditadura de que combatia aqueles que pretendiam pegar em armas", comentou. Wisnik contou que Elson orgulhava-se de resistir à tortura: "ele reconhecia isso como uma capacidade individual, pois entendia quem não a suportasse". Para Wisnik, isso é uma prova das prisões e torturas a que o tio foi submetido. Considera também imprescindível que informações veiculadas pela revista Istoé de que Elson teria sido sequestrado por integrantes do próprio PCB ou de que teria se evadido para o Paraná, onde ainda estaria vivendo, sejam veementemente repudiadas. Maria Helena Soares de Souza, também sobrinha de Elson Costa, contou que sua esposa ainda é viva e tem 92 anos. Ela, assim como todos seus familiares, tentaram de todas as formas encontrá-lo. Maria Helena reivindicou à comissão que o atestado de óbito de Elson mude de "desaparecido" para "morto sob tortura". Diversas outras testemunhas falaram sobre seus familiares ou relataram a história do movimento do PCB na época. A audiência começou sob a presidência do deputado João Paulo Rillo (PT) e depois foi assumida pelo deputado Adriano Diogo (PT). Por indicação dos familiares presentes à audiência, outras pessoas serão ouvidas sobre a repressão a militantes do PCB.