Comissão da Verdade, ciclo Verdade e Gênero, homenageia Inês Etienne Romeu

Audiência pública das comissões nacional e estadual recebe ministra Eleonora Menicucci
25/03/2013 23:26 | Da Redação: Blanca Camargo Fotos: Dulce Akemi

Compartilhar:

Paulo Sérgio Pinheiro, Adriano Diogo, Amelinha, e Eleonora M. de Oliveira <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2013/fg122953.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Inês Etienne Romeu recebe homenagens da Comissão da Verdade, ciclo Verdade e Gênero<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2013/fg122954.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Reunião conjunta das comissões da Verdade estadual e nacional <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2013/fg122955.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> .<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2013/fg122956.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Segunda mesa: Rosa Maria Cardoso, Maria Rita Kehl, Adriano Diogo, Ivone Gebara e Eleonora de Oliveira <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2013/fg122957.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva e a Comissão Nacional da Verdade, que têm como objetivo investigar as violações de direitos humanos durante a ditadura militar (1964/1985), no Brasil, promoveram, nesta segunda-feira, 25/3, audiência pública para homenagear Inês Etienne Romeu (leia o box), dentro do ciclo de debates Verdade e Gênero, na Assembleia. Inês, única sobrevivente da Casa da Morte, em Petrópolis (RJ), centro de tortura da repressão militar, denunciou a existência do centro desconhecido pela sociedade brasileira.

A ministra Eleonora Menicucci de Oliveira, da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, da Presidência da República, veio a São Paulo homenagear a companheira de militância.

Além da ministra, estiveram presentes o deputado Adriano Diogo, coordenador da Comissão da Verdade de São Paulo, Paulo Sérgio Pinheiro, coordenador da Comissão Nacional da Verdade, a teóloga e filósofa especialista em gênero, Ivone Gebara, que fez palestra sobre o tema Verdade e Gênero, a psicanalista Maria Rita Kehl e a advogada Rosa Maria Cardoso (ambas integrantes da comissão nacional), e Maria Amélia de Almeida Teles (da comissão estadual).



A homenagem



A ministra Eleonora Menicucci manifestou sentir um misto de alegria e sofrimento em participar da audiência. Alegria por ter sobrevivido à prisão e à tortura, integrar hoje o governo federal e poder assitistir o resgate da memória dos acontecimentos que a Comissão Nacional e a Estadual realizam. E de sofrimento em fazer e ouvir os relatos das torturas, "porque quando falamos, voltamos a viver o que sofremos".

Eleonora, que também foi presa pelos órgãos de repressão política, elogiou a iniciativa de se tratar da questão de gênero no período, resgatando a memória do sofrimento que especialmente as mulheres enfrentaram por sua militância em favor da restauração da democracia no país, "deixando no armário todos os nossos sonhos para lutar por um Brasil mais justo".

Segundo a ministra, se não fosse a determinação de Inês Etienne Romeu em denunciar as torturas que sofreu e os assassinatos de companheiros que testemunhou na Casa da Morte, a sociedade brasileira não saberia do que ali acontecia e não haveria como encerrar a violência ali praticada. "Inês não está aqui para receber esta homenagem devido à sua fragilidade de saúde. Sem sua coragem e ousadia, não haveria pistas da Casa da Morte."

Ao finalizar sua fala, Eleonora enfatizou que estava presente não como ministra, mas como mulher e amiga de Inês. "Não se recupera a memória dos fatos que ocorreram durante a ditadura se não se recuperar a memória do que essas mulheres viveram. A Inês representa todas essas mulheres. O que ela passa para mim hoje é que ela estava e nós estávamos certas ao lutar."



A memória



Maria Amélia de Almeida Teles, assessora da Comissão da Verdade de São Paulo, relatou episódios de violência sexual de que foi vítima na prisão e o impacto do que isso provocu em sua vida e de outras mulheres que sofreram a mesma violência. Segundo ela, durante muito tempo as sobreviventes não podiam falar nem umas com as outras desses acontecimentos, por isso a importância de se buscar a recuperação dessa memória no âmbito da Comissão da Verdade, "porque a desigualdade entre os homens e as mulheres foi usada contra nós."

Paulo Sérgio Pinheiro, coordenador da Comissão Nacional, disse ser uma certeza a utilidade de audiências para debater a violação dos direitos das mulheres na época da ditadura. "Essas vozes trazem sofrimento, mas persistência na busca da verdade", disse ao exaltar a busca das mulheres pela realidade do que aconteceu. O coordenador destacou ainda o empenho do governo Dilma Rousseff em instalar a comissão e dar-lhe todo apoio, "sem interferir".



A reflexão



A palestrante Ivone Gerbara propôs uma reflexão sobre o que significa verdade, no contexto de uma comissão da verdade. "O que queremos dizer quando criamos a Comissão da Verdade? Buscamos a verdade porque vivemos um erro, um engano, uma mentira da história oficial. Há uma falta de clareza." Para ela, há um caráter objetivo da verdade inscrito nas justificações subjetivas dos acontecimentos que merece exame.

Maria Rita Kehl questionou: "O que seria violência específica de gênero?", para concluir que havia uma natureza secundária na violência sexual praticada nos porões da ditadura, tanto contra mulheres como contra homens, que sofreram estupros e abusos desse tipo: a parceria com o machismo, que pressupõe a dominação de um sobre o outro, de quem tem poder diante do que está despido de poder.



Inês



Inês Etienne Romeu nasceu em Pouso Alegre, Minas Gerais, em1942, e é uma das vítimas da ditadura militar no Brasil. Integrante da VAR-Palmares e da PolOp, é a única sobrevivente da Casa da Morte de Petrópolis, local onde eram torturados e executados clandestinamente presos políticos brasileiros. Estudante de História, em Belo Horizonte, trabalhou como bancária e atuou no Sindicato dos Bancários e do movimento estudantil.

Em 5 de maio de 1971, integrante da chefia da VAR-Palmares, foi presa na cidade de São Paulo pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, sob acusação de participar do sequestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher.

Inês foi levada à Casa da Morte, em Petrópolis, permanecendo ali até agosto do mesmo ano, sob tortura e estupros. Durante esse período, a militante tentou suicídio duas vezes.

Por força de uma campanha internacional de denúncia de sua prisão clandestina, acabou sendo solta sob a condição de aparecer em local público dois dias depois, para ser morta como que em reação à prisão.

Ação familiar e de seu advogados, no entanto, permitiu a oficialização de sua prisão, tendo ela cumprido mais de oito anos de cadeia, no Rio de Janeiro. Após sua libertação, em 1979, graças à Lei da Anistia, Inês passou a dedicar-se à denúncia e esclarecimento dos crimes ocorridos nos porões da ditadura, com o apoio de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil e a Associação Brasileira de Imprensa, além das famílias de desaparecidos.

Graças a ela, o médico e ex-militar Amílcar Lobo, que atuou nos porões da repressão teve seu registro cassado pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro.

Em 2003, aos 61 anos, foi encontrada caída e ensanguentada em seu apartamento, com traumatismo cranioencefálico causado por golpes múltiplos.

Em 2009, Inês recebeu o Prêmio Direitos Humanos de 2009, na categoria Direito à Memória e à Verdade.



Fontes: Wickpédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/In%C3%AAs_Etienne_Romeu, consultada em 25/3/2013. Blog do Luís Nassif (Luis Nassif on line), consultado na mesma data.

alesp