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Opinião - Ribeirão Preto perde o seu poeta

"Era uma figura notável; uma grande perda para Brodowski, para Ribeirão Preto (...) e para o Brasil."
29/04/2013 11:19 | Welson Gasparini*

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Ribeirão Preto, para minha tristeza e de quantos tiveram a ventura de conhecê-la, acaba de perder o seu poeta maior, o autor dos maravilhosos versos do hino desta cidade: morreu José Saulo Pereira Ramos, ou Saulo Ramos, também conhecido como o Poeta do Café, um dos maiores e mais conceituados advogados deste pais.

Conheci Saulo quando ele, após uma vida consagrada como jurista e poeta, decidiu fincar suas raízes em Ribeirão, no condomínio San Leandro (nas imediações de Bonfim Paulista). Tive então várias oportunidades de conviver com ele, inclusive em inesquecíveis almoços na Fazenda Ponta da Serra, em Brodowski, convidados por Flávio Prudente Corrêa, e ao lado de amigos como Ovídio Rocha Sandoval, José Maria da Costa e Augusto Martinez Peres, entre outros. Saulo impressionava pela simplicidade e simpatia com que atendia todos os que dele se acercavam.

Jurista brilhante, frequentemente era contratado para dar parecer em grandes demandas, conforme registra no seu consagrado Código da Vida, onde ele relata passos importantes do seu caminho.

Teve entre seus clientes personalidades como o cantor Roberto Carlos, organizações como o Bradesco e políticos como Jânio Quadros e José Sarney (em cujo governo, por sinal, ocupou a procuradoria geral da República e o Ministério da Justiça). Foi discípulo de Vicente Ráo (um dos mais notáveis advogados deste país) e amigo fraternal de Guilherme de Almeida, o Príncipe dos Poetas Brasileiros. Apesar de sua erudição, gostava das coisas simples e era fã da música sertaneja mantendo como funcionário do seu escritório de advocacia em São Paulo " pelo prazer da convivência " o compositor João Pacífico, autor do clássico Cabocla Tereza. Entre seus grandes amigos em Ribeirão destacava-se meu ex-secretário da Cultura, Divo Marino, de quem foi colega na Faculdade de Direito de Bauru.

Menino pobre de Brodowski - sempre fez questão de proclamar sua origem " formou, ao lado do amigo Cândido Portinari, uma dupla de ouro, motivo de orgulho daquela comunidade.

Antes de advogado, foi jornalista, trabalhando durante 10 anos no jornal Tribuna de Santos onde conheceu, num bar de posto de gasolina, o então vereador de São Paulo, Jânio Quadros. Dele se tornou amigo, confidente e ativista nas suas campanhas para a prefeitura, o governo do Estado e a presidência da República.

Era uma figura notável. Uma grande perda para Brodowski, para Ribeirão Preto (que honrou como autor do hino e patrono, no último ano de minha administração como prefeito, na edição 2008 da Feira do Livro) e para o Brasil.

Num dos seus melhores depoimentos, constante do livro Sociedade Ribeirãopretana em Evidência, assim o poeta explicava sua volta à cidade onde primeiro revelou seu talento literário: "Ribeirão Preto tem muito a ver comigo, por isto mesmo eu tenho pressa de voltar: a raiz chama". A raiz, enfim, o chamou de volta a Brodowski, seu destino final!

*Welson Gasparini é deputado estadual (PSDB), advogado e ex-prefeito de Ribeirão Preto

alesp