Comissão da Verdade ouve mais três histórias de filhos de militantes

Danos psicológicos e problemas com documentação oficial são recorrentes, afirmam depoentes
07/05/2013 23:46 | Da Redação: Monica Ferrero Fotos: Maurício Garcia

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Tessa Lacerda, Amelinha Telles, Adriano Diogo, José Paulo Ramos e Carmen Nakasu<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124601.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Tessa de Moura Lacerda relatou a dor da ausência do pai<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124602.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Público presente <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124603.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adriano Diogo <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124604.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Tessa Lacerda contou como seus pais foram presos em outubro de 1973<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124605.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Público presente <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124606.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> José Paulo Ramos<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124607.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Tessa de Moura Lacerda e Adriano Diogo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124608.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Quando tinha um ano de idade, Carmen Nakasu foi presa com os pais na estação da Luz, na capital de São Paulo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124609.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adriano Diogo e José Paulo Ramos<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124610.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Tessa de Moura Lacerda<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124611.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> "O fato de não ter um corpo para que eu faça o rito, impede que eu possa ter o luto por essa morte", falou Tessa de Moura Lacerda<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124612.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Nesta terça-feira, 7/5, a Comissão da Verdade Rubens Paiva, presidida por Adriano Diogo (PT), prosseguiu com o seminário Verdade e Infância Roubada. Foram ouvidos os depoimentos de Tessa de Moura Lacerda, Carmen Nakasu e José Paulo Ramos, filhos de militantes presos pela ditadura.

A primeira a depor foi Tessa Lacerda, que contou que seus pais, Gildo Macedo Lacerda e Mariluce Moura, foram presos em outubro de 1973, em Salvador. Mariluce estava grávida, e foi libertada dias depois. Gildo, três dias depois, morreu sob torturas. Tessa relatou a dor da ausência do pai, embora sua mãe tenha se casado depois.

"O fato de não ter um corpo para que eu faça o rito, impede que eu possa ter o luto por essa morte", falou Tessa, referindo-se ao fato de o corpo de Gildo nunca ter sido entregue à família, por ter sido jogado em vala comum, onde se degradou, impossibilitando a identificação. "Queria poder levar meus filhos ao túmulo de meu pai. É uma história que não fecha, não é justa com ninguém", disse.

Até os 18 anos de idade, Tessa não tinha o nome do pai na certidão de nascimento, o que lhe causava muitos constrangimentos. Para obter esse reconhecimento, teve de entrar com ação judicial. Segundo sua mãe, Mariluce Moura, havia uma certidão de casamento, mas com os nomes falsos que usavam na ocasião. Só com a Lei 9.140/1995, o governo federal reconheceu as mortes dos desaparecidos, então o registro pôde ser feito.

Recentemente, afirmou Tessa, a família decidiu processar o Estado brasileiro pela morte de Gildo Lacerda. Por isso, ela submeteu-se à avaliação psicológica que, embora não tenha apontado danos, indicou a existência de insegurança, baixa auto-estima e medo " Tessa não dorme com as luzes apagadas até hoje. "São coisas que carrego da infância e não consigo superar", finalizou.

Vida em Cuba

Filho de Derlei Catarina de Luca e Nilo César, José Paulo Ramos nasceu em 1972, em Londrina. Quando tinha um ano, sua mãe, após prisão, decidiu fugir do Brasil para não ser morta, indo para Cuba. José Paulo só a reencontrou um ano depois. Voltaram ao país apenas com a anistia, em 1979, quando ele conheceu o pai e sua família.

No ano em que ficou sem a mãe no Brasil, ele passou por várias famílias e também esteve com a avó. José Paulo relatou ter boas lembranças da vida em Cuba. Embora tenha demorado um ano para chamar Derlei de mãe, ele considera esse período "uma ferida sarada". Disse também ter orgulho das ações da mãe para tentar melhorar o país.

Presa com os pais

Quando tinha um ano de idade, Carmen Nakasu foi presa com os pais na estação da Luz, na capital de São Paulo, onde eles, em fuga, iam tomar um trem para o Rio de Janeiro. Carmem ficou cerca de cinco dias sequestrada, com uma investigadora da Oban, sendo depois entregue à família materna.

Apenas três meses depois sua mãe foi libertada, quando notou algumas mudanças de comportamento na filha, que passou a ser mais insegura e a ter medo de água e de barulho. Desde criança, contou a mãe Elzira Vilela, ela necessitou de tratamentos psicológicos. Apenas aos 18 anos, após terapia regressiva, Carmem contou que conseguiu localizar no momento da prisão dos pais a "sensação de angústia que vinha do nada".

A mãe Elzira Vilela ainda relembrou os problemas envolvendo o parto de Carmem, em 1973. Como eram perseguidos, foi difícil arrumar um hospital, mas um médico amigo conseguiu abrigá-la em Valinhos. Mas os documentos iniciais continham o nome falso que era usado na época, assim como local de nascimento incorreto.

Carmem afirmou sentir orgulho dos pais, "que enfrentaram tudo sem discutir, sem delatar ninguém, que resistiram a todo tipo de tortura por uma causa muito maior que a minha existência, a causa do povo brasileiro, do respeito aos camponeses, aos operários". Através da música, mas especialmente do canto lírico, ela afirmou ter conseguido superar seus problemas. Ao final da reunião, Carmem cantou a Bachiana brasileira nº 5, de Heitor Villa-Lobos.

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