Verdade e Infância Roubada: irmãos relembram infância de perseguição e exílio

A avó de ambos foi militante do PCdoB e colaboradora de Lamarca
08/05/2013 20:56 | Da Redação: Josué Rocha Fotos: Marco Antonio Cardelino

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Zuleide Aparecida do Nascimento,  Luis Carlos Max do Nascimento, Adriano Diogo e Ivan Seixas <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124656.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Luis Carlos Max do Nascimento e Adriano Diogo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124657.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Luis Carlos Max do Nascimento<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124658.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ivan Seixas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124659.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ivan Seixas e Adriano Diogo <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124665.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Zuleide Aparecida do Nascimento, Luis Carlos Max do Nascimento, Adriano Diogo e Ivan Seixas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124666.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Zuleide Aparecida do Nascimento e Luis Carlos Max do Nascimento<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124667.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A Comissão da Verdade Rubens de Paiva ouviu na manhã desta quarta-feira, 8/5, testemunhos de dois irmãos, Luis Carlos Max do Nascimento e Zuleide Aparecida do Nascimento, que foram exilados do Brasil quando tinham apenas três e cinco anos de idade, respectivamente. Eles foram banidos do país, na companhia da avó paterna, Tercina Dias de Oliveira (ex-militante do PCdoB), e de outras duas crianças.

Filhos de pais separados, eles moravam na companhia desta avó, que passou a atuar junto a guerrilheiros quando o PCdoB foi para a clandestinidade na época da ditadura militar. Eles relataram que em 1969 viveram durante alguns meses no Vale do Ribeira, onde fora instalado um centro de treinamento para guerrilheiros. Lembraram que Tercina Dias cozinhava e costurava para Carlos Lamarca, um dos responsáveis pelo treinamento.

Perguntados por Adriano Diogo (PT), presidente da Comissão da Verdade, se tinham consciência dos fatos à época, Luiz Carlos afirmou que de fato não tinham uma vida comum. "Não podíamos brincar do lado de fora, e quando saíamos, não podíamos olhar fixamente para os lugares nem para outras pessoas, além de nos tratar mutuamente com nomes diferentes", ele disse, completando que sua irmã era chamada de Zulmira e ele de João Carlos. A avó era chamada pelos guerrilheiros de Tia. "Tínhamos de nos parecer como uma família de camponeses", declarou Zuleide.

Ela afirma que até hoje tem problema de identidade: "sei que nasci no Brasil, mas me sinto cubana, costumo dizer que sou latino-americana". Eles foram para Cuba após terem sido presos, depois de terem deixado o Vale do Ribeira.



Exílio

Eles se recordam que foi em Peruíbe, numa madrugada, que a casa foi invadida violentamente e revistada por militares. Foram levados para o Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (DEOPS/SP), na Capital.

Luis Carlos ainda chora quando se lembra do momento em que foi separado da avó pelos policiais. "Dois a levaram e um me segurou pelo braço", relata, afirmando que este é o momento mais doloroso desta história. Adultos presos, crianças no Juizado de Menores. Foram se reencontrar por exigência de Tercina Dias, que não aceitou o exílio sem a presença deles, de outro neto Ernesto Carlos Nascimento e de outra criança que ela tinha adotado (Samuel Dias de Oliveira).

Relataram que após breve período na Argélia, foram para Cuba por interferência de Fidel Castro, que ao saber da existência de crianças no exílio, colocou-se à disposição para recebê-los e educá-los.

Na semana em que se comemora o Dia das Mães, outro dado comovente extraído dessa história foi o fato de os depoentes terem ficado separados da mãe por quase 40 anos, pois ao retornarem para o Brasil não conseguiram retomar o contato, o que só ocorreu em 2009. Infelizmente, a mãe faleceu pouco tempo depois.

Ivan Seixas, um dos coordenadores da comissão, leu, no início dos trabalhos, texto que retrata casos de crianças em situação análoga à de Luis Carlos Max do Nascimento e Zuleide Aparecida do Nascimento.

"Crianças foram sequestradas e escondidas nos centros clandestinos da repressão política. Foram arrancadas do convívio com seus pais e famílias, enquadradas como elementos subversivos pelos órgãos de repressão e banidas do país. Foram obrigadas a ficar em orfanatos, morar com parentes distantes, e viver com identidade falsa, na clandestinidade, impedidas de conviver, crescer e conhecer os nomes de seus pais", finalizou Seixas.

alesp