Filhos e mães na Comissão da Verdade

Eliana Paiva foi uma das depoentes
09/05/2013 22:01 | Da Redação: Monica Ferrero Fotos: Maurício Garcia e José Antonio Teixeira

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 Paulo Sipahi, Camila Sipahi e Adriano Diogo <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124754.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Público presente<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124755.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>  Darcy Andozia  <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124756.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Camila Sipahi<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124757.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>  Eliana Paiva <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124758.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Irmãos Paulo e Camila Sipahi<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124759.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Eliana Paiva<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124760.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>  Ernesto Carvalho <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124761.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Paulo Sipahi<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124762.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Reunião da  Comissão da Verdade Rubens Paiva desta quinta-feira, 9/5<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124763.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Paulo Sipahi<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124764.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Público presente <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124765.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A Comissão da Verdade Rubens Paiva, presidida por Adriano Diogo (PT), prosseguiu nesta quinta-feira, 9/5, com o seminário Verdade e Infância Roubada. Foram ouvidos filhos e duas mães.

"Não tive minha infância roubada, pois quando fui presa tinha 15 anos de idade", contou Eliana Paiva, filha do ex-deputado Rubens Paiva, cassado em 1964. Como não conseguia mais emprego em São Paulo como engenheiro civil, Rubens foi para o Rio de Janeiro, onde montou uma empresa. Ela relatou a vida normal de adolescente que levava.

Moravam em uma casa do bairro do Leblon, que era ponto de encontro de diversos tipos de pessoas, pois seu pai era muito alegre. A partir do recrudescimento da ditadura em 1968, Rubens passou a ajudar militantes, e por isso acabou preso. No dia seguinte à prisão do pai, no dia 20/1/1971, Eliana foi presa junto com a mãe.

Foram levadas ao DOI-Codi. Ela relatou os interrogatórios a que foi submetida nas 24 horas que ficou presa, e disse ter ouvido gritos de tortura. Eliana afirmou que percebeu uma mudança de atitude dos policiais, quando supôs que seu pai estava morto. "Ele deve ter enfrentado os policiais, por isso o mataram", disse. Sua mãe passou 11 dias presa.

Desenhos expressivos

Os irmãos Paulo e Camila Sipahi tinham respectivamente 6 e 5 anos quando os pais Antônio Othon Pires Rolim e Rita Miranda Sipahi Pires foram presos. Falaram das visitas quinzenais aos pais no Presídio Tiradentes, onde ficaram por um ano. Ambos mostraram desenhos de sua autoria, e relataram a dificuldade de entender, na época, o que aconteceu.

Camila e Paulo comentaram que era difícil na infância entender os motivos da prisão dos pais, pois quem ficava preso era bandido, e sabiam que os pais não eram. "Quando menina, pensei que nunca poderia contar minha história, mas ouvindo os depoimentos durante toda a semana, reconheci minha história, os lapsos de memória, os segredos, as histórias mal explicadas", disse Camila.

Nome proibido

"Meu pai, Devanir Carvalho, era um operário metalúrgico, no ABC, onde foi um dos fundadores do sindicato, e foi morto em 5/4/1971, contou Ernesto Carvalho, nascido em 1968. Ele relatou que uma das primeiras coisa que perdeu foi seu nome, pois deveria ter o Guevara no registro, mas não foi possível, embora informalmente e profissionalmente o use.

Ernesto, com 3 anos de idade, estava em uma casa na zona norte de São Paulo, com a mãe e o irmão de 7 anos, quando a polícia a invadiu. No tiroteio, dois militantes morreram, e a mãe foi presa. Foram todos levados para a Oban, e depois Ernesto e o irmão foram entregues aos avós. Trinta dias depois, com a libertação da mãe, saíram do Brasil, indo ao Chile. Com o golpe, dois anos depois, tiveram de perambular pela cidade à procura de abrigo em alguma embaixada.

Conseguiram abrigo na Argentina, onde ficaram num lugar da ONU para refugiados. Ernesto lembra do clima de medo que havia no local, pois a Operação Condor, de colaboração entre as ditaduras latino-americanas, estava atuante, e vários refugiados eram pegos em armadilhas e desapareciam.

Da Argentina, foram para Portugal, onde retornaram após a anistia. No Brasil, Ernesto relatou que era tratado na escola como filho de bandido, mas disse ter hoje orgulho de seu pai e da luta de toda sua geração.

Os depoentes foram unânimes na opinião que a violência policial da época da ditadura é perpetuada nas prisões, os métodos de investigação com uso de tortura são os mesmos. Para Paulo Sipahi é preciso registrar essas histórias para as próximas gerações, pois ainda hoje, principalmente entre os jovens, há quem ache que a ditadura foi uma coisa boa.

Mães

A seguir foram ouvidas duas mães, Darcy Andozia e Lenira Machado. O filho de Darcy, Carlos Alexandre Azevedo, foi levado para o Dops de sua casa, em São Bernardo do Campo, com um ano e 8 meses de idade, em janeiro de 1974. Como chorava muito, foi agredido por um policial, ficando ferido na boca. A criança teria sido usada para pressionar os pais Darcy e Dermi Azevedo, que estavam presos, e estavam sendo torturados pela equipe do delegado Fleury.

Ao serem libertados, continuou Darcy, tentaram recomeçar a vida, mas Carlos Alexandre nunca se recuperou. Sofreu perseguição na escola e, segundo sua mãe, foi se fechando cada vez mais, adquirindo um quadro de fobia social do qual nunca se livrou, apesar de todo o atendimento médico e psicológico que recebeu. No último dia 16/2, Carlinhos se suicidou, por, segundo Darcy, "não conseguir se adaptar ao mundo".

Lenira Machado, ex-militante da Ação Popular (AP), depôs sobre seu filho Aritanã Machado Dantas. Ela era de família tradicionalmente comunista, mas o marido, também militante, era filho do general Altino Rodrigues Dantas. Quando de sua segunda prisão, Aritanã tinha 9 anos. Quando foi solta, descobriu que havia perdido sua guarda para o sogro. Não era permitida sequer a visita à criança, pois a família dos avós paternos a chamavam de terrorista. Só podia vê-lo no hall do apartamento por uma hora. Conseguiu reaver a guarda apenas em 1976.

"Meu filho logo aprendeu que não podia usar o nome dos pais, também passou pela experiência de visitas no presídio", continuou Lenira, que disse que ele também sofreu preconceito em escolas. Saíram do Brasil e foram para Moçambique, onde Aritanã, aos 14 anos, começou a trabalhar com cinema, integrando a equipe técnica de Ruy Guerra, e conseguiu tomar um rumo para sua vida. Após seis anos de luta por sua saúde, Aritanã Machado Dantas faleceu em 11/1/2013.

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