Ex-militar testemunha sobre execução de casal em 1968
16/05/2013 22:00 | Da Redação: Monica Ferrero Foto: Roberto Navarro






A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), recebeu nesta quinta-feira, 16/5, o ex-militar Valdemar Martins de Oliveira, que prestou esclarecimentos sobre o assassinato do casal Catarina Abi-Eçab e João Antônio Santos Abi-Eçab, em 8/11/1968. As mortes, na época, foram creditadas a acidente automobilístico.
Valdemar Martins de Oliveira contou que entrou no Exército em janeiro de 1968 porque queria atuar na Brigada de Paraquedistas do Rio de Janeiro. Após o curso, foi convidado a atuar no Centro de Inteligência do Exército, tendo feito cursos específicos, onde aprendeu sobre anticomunismo, espionagem e métodos de interrogatório, entre outros. Algumas aulas foram ministradas por dois militares norte-americanos, com experiência na guerra do Vietnã.
O casal Catarina Abi-Eçab e João Antônio dos Santos Abi-Eçab foi preso no Rio de Janeiro, segundo Oliveira, na ânsia do governo militar de achar culpados pela execução do capitão do Exército dos EUA Charles Chandler. Na verdade, o casal não teve participação no crime contra o militar americano, que, viu-se depois, foi assassinado pela organização Var-Palmares. Oliveira testemunhou Catarina e João Antônio sendo levados, amarrados, amordaçados e já feridos por torturas, a sítio em São João do Meriti (RJ), que seria de um coronel do Exército. Depois de interrogatório, João foi levado para outras buscas, e Catarina foi posta no pau-de-arara e torturada até que não esboçasse reação.
João Abi-Eçab foi trazido de volta ao sítio, muito ferido, e acompanhado por outros presos. O chefe da operação, Fred Perdigão Pereira, ao vê-los deitados no chão, inconscientes, considerou que eles não teriam mais serventia, e matou cada um com um tiro na cabeça. O ex-soldado manifestou-se contra o assassinato, quando foi chamado de "esquerdista" e enviado de volta ao quartel. "A partir daquele dia ficou difícil para mim, porque havia desconfiança", disse.
Perseguição
Depois disso Valdemar Martins de Oliveira soube por terceiros que foi montada uma cena de acidente na BR 116, em Vassouras (RJ). Sobre a metralhadora colocada no local, ele disse ter certeza que não era do casal, afirmando que era de uso do Exército e que seria fácil rastreá-la.
Por conta da desconfiança do Exército, Valdemar foi enviado para Marília, no interior de São Paulo, com a missão de vigiar cidades e igrejas. De quando em quando, entregava envelopes lacrados a um delegado em Ribeirão Preto. Depois fez serviço semelhante em São Paulo. Disse que, ao fotografar passeatas, começou a perceber que aquilo que os jovens reivindicavam não representava a ameaça pregada pelo Exército.
Quando passou a manifestar desejo de retornar a sua vida militar, sofreu ameaças e a casa de sua mãe foi invadida. Na ocasião, ele foi agredido, assim como sua mãe. De braço quebrado, resolveu ir embora, pois "a coisa ia complicar". Isso aconteceu em 1970.
Valdemar narrou as tentativas que fez para regularizar sua vida no Exército, o que não conseguiu, estando oficialmente licenciado. Conseguiu refazer sua vida, mas reclama que até hoje é vilipendiado por alguns sites da internet, que o chamam de desertor. Para ele, foi o Exército que desertou dele. Valdemar diz que é ameaçado até hoje.
Valdemar Oliveira defendeu a necessidade de apurar quem são os mandantes dos crimes cometidos durante a ditadura pela repressão: "Alguém, e de alta patente, comandou as ações", disse, citando os casos da explosão no Riocentro, em 1981, e do desaparecimento de Rubens Paiva, onde estavam envolvidos colegas seus do Batalhão de Paraquedistas. No caso Riocentro, ele disse suspeitar de queima de arquivo, pois os militares envolvidos eram experientes.
O ex-soldado entregou à Comissão da Verdade os documentos envolvendo sua situação no Exército, incluindo os recibos de pagamento que recebia, assim como cópias das petições judiciais que fez. "Não roubei, não matei, não torturei, não devo nada a nenhuma justiça, quero que meu nome seja limpo. Chegou a hora de o povo brasileiro entender o que foi a ditadura". Ele lamentou que ainda haja pessoas saudosas da ditadura, que não hesitam em vilipendiar outros militares e até a presidente da República.
Além dos jornalistas presentes, fizeram perguntas os coordenadores da Comissão da Verdade Maria Amélia Teles e Ivan Seixas, o advogado Darcy Passos e o cientista político Bernardo Kucinski, entre outros. Estavam presentes o irmão do depoente, Osvaldo Martins de Oliveira, e o sobrinho Marcos.
O caso
Catarina Abi-Eçab e João Antônio dos Santos Abi-Eçab, nascidos em São Paulo, eram militantes da Aliança Libertadora Nacional (ALN) e estudantes de Filosofia na USP. Segundo Belisário Santos Júnior, advogado que relatou o caso na Comissão Especial de Mortos e Desparecidos Políticos em 2005, no Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a partir de 1964 consta a versão policial de que a morte se deu por conta de acidente que causou detonação do veículo onde viajavam por carregar explosivos, na BR 116, próximo a Vassouras (RJ). Para a imprensa, foi divulgado que o casal levava mala com armas e munição.
Porém, segundo Belisário, desde o início recaíram suspeitas sobre a versão oficial. Testemunhas afirmaram que a colisão com a traseira de um caminhão seria impossível naquele trecho da estrada, que haveria perseguição por viatura policial, e que João Abi-Eçab estaria vivo após o acidente. Um fotógrafo relatou ter sido proibido de registrar sacolas encontradas no local, que não foi devidamente periciado, assim como os corpos.
Em 2000, o ex-soldado Valdemar de Oliveira foi entrevistado pelo jornalista Caco Barcellos e deu detalhes sobre o caso. A família de Catarina Abi-Eçab decidiu então exumar seu corpo. A necropsia apontou como causa mortis traumatismo craniano causado por arma de fogo, o que descartou definitivamente as hipóteses anteriores.
Público presente à reunião ouve depoimento de Martins de Oliveira no plenário Tiradentes
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