Comissão da Verdade ouve depoimentos sobre Sonia Angel Jones e Antonio Carlos Lana

Ossadas dos militantes da ALN foram encontradas no Cemitério de Perus
21/05/2013 22:01 | Da Redação: Monica Ferrero Fotos: Márcia Yamamoto

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Ivan Seixas, Adriano Diogo e Suzana Lisboa <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg125379.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Reunião desta terça-feira, 21/5, da Comissão da Verdade da Assembleia <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg125380.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>  Adriano Diogo e Suzana Lisboa<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg125381.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Os casos de Sonia Maria Lopes de Moraes Angel Jones e Antonio Carlos Bicalho Lana foram abordados na audiência da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva nesta terça-feira, 21/5. Ambos, que militavam na Aliança Libertadora Nacional (ALN), foram mortos pela repressão em novembro de 1973.

A trajetória do casal foi descrita por Suzana Keniger Lisboa, relatora do caso na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP). Sonia vivia no Rio de Janeiro quando foi presa, em maio de 1969. Julgada em agosto do mesmo ano, foi absolvida e libertada. Na ocasião seu pai, João Luiz Moraes, que era coronel do Exército, foi avisado de que a vida de Sonia correria risco se ele fosse presa novamente.

Por isso, Sonia partiu para o exílio na França, em maio de 1970. Mas, com a prisão e desaparecimento de seu marido, Stuart Angel, dirigente do MR-8, decidiu voltar ao Brasil via Chile, em 1973, para retomar a luta de resistência contra a ditadura. Passou a morar com Antonio Carlos Bicalho Lana em São Vicente. Ambos foram presos em Santos em novembro daquele ano. Há relatos de que a prisão deu-se com base em uma das cerca de vinte delações de João Henrique Ferreira de Carvalho, o Jota, que desestruturaram toda a ALN.

Há mais de uma versão sobre a morte de Sonia, e a data não é precisa, mas à época foi divulgado que ambos haviam morrido em confronto com a polícia, em São Paulo. Porém, há relatos que foram torturados, e uma foto de Lana morto, encontrada no arquivo do IML de São Paulo em 1990, mostra ferimentos em seu rosto, que teriam sido feitos quando da prisão.

Apesar de Sonia e Lana terem sido identificados, ambos foram enterrados como indigentes no cemitério Dom Bosco, em Perus, ela com o nome de Esmeralda Siqueira Aguiar. Seus restos foram exumados em 1991. Os laudos de ambos foram assinados por Harry Shibata, e foram contestados pela família de Sonia, que o processou em 1982, quando nova análise dos restos apontados como os de Sônia mostrou que os ossos eram de um homem.

Luta por identificação

Suzana Lisboa relatou a luta da família de Sonia primeiramente para protegê-la, e, depois de sua morte, pelo restabelecimento da verdade. Também citou o desencanto de seu pai João Luiz Moraes com o Exército. Ambos tornaram-se militantes do movimento dos familiares de mortos e desaparecidos políticos. Seu pai escreveu o livro O Calvário de Sônia: uma História de Terror nos Porões da Ditadura, do qual Suzana Lisboa leu trechos.

Em agosto de 1991, finalmente ambos foram enterrados em suas cidades natais: Sonia no Rio de Janeiro, e Antonio Carlos Bicalho Lana em Ouro Preto (MG). Ambos receberam diversas homenagens póstumas.

Na abertura da audiência, foi exibido trecho do vídeo, de 1985, também produzido pela família, de nome Sônia: Morta e Viva, dirigido por Sérgio Waissmann. Ele está disponível no link http://migre.me/eEJla. Sobre os casos, falaram ainda Maria Amélia Teles e Ivan Seixas, coordenadores da Comissão da Verdade.

Seixas afirmou que o delator Jota, hoje médico pediatra em Brasília, já foi ouvido pela Comissão Nacional da Verdade, quando declarou que não se arrependia. Suzana Lisboa defendeu a convocação de Harry Shibata para depor na comissão, pois ele teria informações e fotos relevantes sobre a época.

No final da audiência, o presidente da comissão, deputado Adriano Diogo (PT), comentou o falecimento, dia 17/5, do general Jorge Videla, que presidiu a Argentina entre 1976 e 1981. Em 2010, Videla foi julgado e condenado à prisão perpétua pela morte de prisioneiros após seu golpe de Estado. Foi exibida na comissão entrevista dada à jornalista Miriam Leitão, em 2012, com o jornalista argentino Ceferino Reato sobre aquele período, no canal GloboNews. Ela pode ser vista em http://migre.me/eEJ8J.

alesp