Membros da Liga Operária relembram momentos de terror no período da ditadura

Ex-presos políticos depõem na Comissão da Verdade e retratam as torturas no Dops e Doi-Codi
20/06/2013 15:08 | Da Redação: Fotos: Roberto Navarro

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Ronaldo de Almeida, José Maria de Almeida, Adriano Diogo, Marcia Basseto Paes, Celso Brambilla e Waldo Mermelstein<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2013/fg126859.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>  Reunião desta quarta-feira, 19/6, da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2013/fg126860.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Dulci Muniz fala na reunião <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2013/fg126861.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adriano Diogo e Marcia Bassetto Paes <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2013/fg126862.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Celso Brambilla<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2013/fg126863.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Em reunião nesta quarta-feira, 19/6, a Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, coordenada pelo deputado Adriano Diogo (PT), ouviu o relato de cinco militantes da Liga Operária, que posteriormente deu origem a Convergência Socialista (CS). Em documento entregue, a CS relatou a perseguição que sofreu pelo regime militar e seus órgão de segurança durante 11 anos (1977 a 1988).

Como diz o relatório, na história desta repressão destacam-se duas operações movidas pelos órgãos de segurança. A primeira, em maio de 1977, resultando nas prisões e torturas dos militantes políticos da Liga Operária, entre eles Celso Brambilla, José Maria de Almeida e Márcia Basseto Paes, que estiveram presentes à reunião da Comissão da Verdade.

A segunda foi uma ação conjunta dos órgãos de segurança, conduzida pelo Dops-SP e pelos DOI-Codis do 1º e 2º Exércitos contra a Convergência Socialista, denominada pela repressão Operação Lótus. A operação foi preparada durante mais de um ano, e finalmente levada a cabo em agosto de 1978, resultando na prisão de 26 militantes inclusive três socialistas estrangeiros.

A Operação Lótus tinha como objetivo impedir que a Convergência Socialista fizesse uma campanha pela legalização de um partido socialista no Brasil e, certamente, visava a destruição desta organização. Dos presos nesta operação, depôs na Comissão da Verdade, Ronaldo Eduardo de Almeida.

A reunião da comissão teve início com a leitura, por Dulce Muniz, da Carta aos Brasileiros, publicada pelo jornal Versus, em 1977, em que os presos políticos, militantes da Convergência, agradeciam as mobilizações sociais contra suas prisões.

Depoimentos dos presos

Em seu depoimento, Márcia Basseto relatou que foi presa, em 28/4/1977, com os companheiros Celso Giovanetti Brambilla e José Maria de Almeida quando distribuíam panfletos para trabalhadores. Foram conduzidos para o Dops e sofreram várias formas de tortura.

Márcia nominou alguns dos torturadores que participaram das agressões que sofreu, entres eles o delegado Luiz Walter Longo, e outros agentes da repressão aos quais teve contato, como o delegado Sérgio Paranhos Fleury e o médico legista Harry Shibata.

Celso Brambilla relatou as consequências da tortura que o deixaram com lesões nas articulações, surdo de um dos ouvidos e com audição prejudicada no outro.

Celso contou ainda sua aflição pelo militante José Maria, que não conhecia a estrutura da organização e que estava apenas participando da panfletagem como simpatizante. José Maria de Almeida e Waldo Mermelstein, fundador da Liga Operária, relataram também suas experiências com perseguições e abusos sofridos.

No relatório apresentado, a Convergência narra ainda que como resultado da Operação Lótus foram presos no Brasil os dirigentes internacionais da Fração Bolchevique (organização que, anos mais tarde, viria a se tornar a Liga Internacional dos Trabalhadores), entre eles Nahuel Moreno, seu principal dirigente e fundador. Durante o mês em que esteve preso no Dops, pairou sobre Moreno a ameaça de ser deportado à Argentina. Só uma intensa campanha internacional, salvou Moreno da deportação à Argentina e da morte certa que o aguardaria em seu país.

A repressão durante estes dois anos teve como resultado em 1977 a prisão de oito militantes da CS e 16 processados pela Lei de Segurança Nacional. Em 1978, foram 26 presos, entre eles os três estrangeiros que foram expulsos do país, e 22 processados pela LSN. Também houve oito presos em Brasília, em 1978, e oito presos e indiciados na LSN no Pará, em 1983.

Documentos entregues

Foram entregues à Comissão da Verdade alguns documentos, que são seguintes relatórios do Dops São Paulo: no Inquérito Policial 25/77, datado de 28/5/1977, indiciando José Maria de Almeida; Celso Giovannetti Brambilla; Márcia Basseto Paes; mencionando os militantes da Convergência Socialista, presos em 22 e 23/8/1978, com informações detalhadas de cada um, bem como da organização e sua estrutura interna; acerca da Operação Lotus, deflagrada em 1/9/1977, que visava desmantelar a organização subversiva Liga Operária/Convergência Socialista, onde também consta as relações internacionais da CS e sua matriz ideológica.

Também foram entregues relatórios sobre o monitoramento do SNI sobre a atuação da CS nas greves operárias do ABC paulista em 1979, relacionando militantes deslocados para o movimento e membros da sua direção; a decisão no Processo 29/1978, determinando a interdição do Jornal Versus, órgão de divulgação da LO/CS: e relatório anual de informações do Centro de Informações do Exército sobre as atividades da CS, datado de julho de 1987. (PM)

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