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Opinião - Um papa surpreendente

"O Papa mostra que, para aproximar a Igreja dos pobres e dos jovens, precisa mudá-la internamente e dialogar com o mundo atual"
31/07/2013 19:04 | Enio Tatto*

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O papa Francisco surpreende positivamente o mundo desde sua eleição em 13 de março deste ano. Quem esperava um comportamento conservador semelhante ao do seu antecessor - o papa Bento XVI -, hoje pode estar em dúvida. Desde que foi eleito papa, Francisco tem evitado a tradicional pompa do Vaticano e manifestado o desejo por uma Igreja mais colada no povo mais pobre. O papa Francisco quer aproximar a Igreja Católica dos excluídos e dos jovens.

O primeiro sinal dessa mudança de rumo foi escolher o nome Francisco. Batizado como Jorge Mario Bergoglio, o cardeal argentino decidiu também assumir para si a marca do santo de Assis: a simplicidade e a proximidade com as pessoas. Um de seus primeiros atos como Francisco foi a dispensa do apartamento papal para ficar na Casa de Santa Marta, na qual ficam hospedados, em geral, cardeais, bispos, leigos que estão a trabalho ou em visita ao Vaticano.

Também foi muito positivo o destino da primeira viagem realizada no início de julho pelo papa à Ilha de Lampedusa, no sul da Itália, onde milhares de refugiados, em sua maior parte da África, perdem suas vida para entrar no ocidente. Lá estava o povo pobre e sofrido com quem ele quer estar próximo.

No começo do mês anunciou uma reforma no Código Penal do Vaticano, no qual introduziu punições mais pesadas para quem cometer crimes contra crianças ou crimes financeiros. Ao anunciar o Motu Proprio, decreto de sua autoria, o papa disse que pretende renovar o compromisso com a Santa Sé com as convenções internacionais contra crimes como lavagem de dinheiro e terrorismo, assim como crimes contra o ser humano, entre eles o racismo, a discriminação e a tortura.

Entre outras medidas, constituiu um conselho consultivo de oito cardeais dos cinco continentes para reformar a Cúria e criou uma comissão especial para investigar e reformular o Banco do Vaticano. O Papa mostra que, para aproximar a Igreja dos pobres e dos jovens, precisa mudá-la internamente e dialogar com o mundo atual.

Em sua primeira viagem internacional desde que assumiu, o papa Francisco corroborou no Brasil sua intenção de mudar a Igreja Católica, aproximando-a do povo. No Santuário Nacional de Aparecida/SP, por exemplo, utilizou em seu sermão na Basílica Nacional a expressão "Bispo de Roma". O novo papa não pretende se impor como chefe da Igreja Católica, mas como dirigente de um trabalho solidário em que cada um assume o seu papel.

"Quero que a Igreja vá para as ruas. Quero que nos defendamos de tudo que seja acomodação e de ficarmos fechados em torno de nós mesmos. As paróquias devem sair às ruas. Se não, acabam se transformando numa ONG. E a igreja não pode ser uma ONG", disse o papa Francisco durante o encontro com jovens argentinos na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro.

Durante a Jornada Mundial da Juventude, também no Rio, o papa Francisco mostrou-se simpático e disposto a estimular os fiéis à evangelização, a buscar as periferias e a se aproximar da população pobre. Uma das citações mais importantes do papa sobre a (re) aproximação da Igreja com os pobres foi feita no encontro com a sociedade civil no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Disse o papa: "O futuro exige de nós uma visão humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza. Que ninguém fique privado do necessário, e que a todos sejam asseguradas dignidade, fraternidade e solidariedade: esta é a via a seguir".

O papa foi direto. Segundo ele, quando a Igreja se comunica com documentos age como a mãe que se comunica com o filho por carta. "Não conhecemos nenhuma mãe por correspondência", disse o pontífice. Também foi direto quando questionado no voo do Brasil de volta ao Vaticano sobre a homossexualidade: "Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?" Ou seja: temas de moral sexual eram proibidos de serem debatidos. Agora, as portas estão abertas para a discussão.

O papa Francisco vem nos surpreendendo pelos seus gestos e seus sermões, aproximando a Igreja Católica dos jovens e dos excluídos. Nosso desejo é que guie as mudanças da Igreja, colocando-a no rumo de uma verdadeira teologia católica em defesa dos mais pobres.

*Enio Tatto é deputado estadual e 1º secretário da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa.

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