Livro Holocausto Brasileiro é lançado na reunião da Comissão da Verdade

A obra relata o genocídio no extinto hospício de Barbacena
09/08/2013 21:48 | Da Redação: Sillene Coquetti - Foto: Maurício Garcia e Márcia Yamamoto

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Daniela Arbex fala sobre seu livro<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg128312.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Auditório Paulo Kobayashi durante reunião<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg128313.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> .<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg128314.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Público acompanha relato sobre acontecimentos no Hospital Colônia<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg128315.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adriano Diogo preside sessão<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg128316.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Daniela Arbex emociona plateia com seu relato<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg128317.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Daniela Arbex <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg128318.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Padre Julio Lanceloti<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg128319.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Daniela Arbex autografa sua obra Holocausto Brasileiro - Vida, genocídio e 60 mil mortes no maior hospício do Brasil<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg128320.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), recebeu nesta sexta-feira, 9/8, a jornalista e escritora Daniela Arbex, para lançar seu livro: Holocausto Brasileiro - Vida, genocídio e 60 mil mortes no maior hospício do Brasil. Conhecido como Colônia, o Hospício de Barbacena, depois, Hospital Colônia de Barbacena, foi aberto em 1903, e atualmente abriga o Museu da Psiquiatria Brasileira.

A autora do livro é repórter especial do jornal Tribuna de Minas e relatou que o livro surgiu a partir de uma série de matérias publicadas a respeito do Hospital Colônia. O livro traz relatos de sobreviventes e de testemunhas acerca do funcionamento e tratamento prestado no hospício. A Colônia funcionava como "descarte de pessoas que não eram aceitas na sociedade". Pesquisas revelam que 70% dos internados não tinham diagnóstico de doença mental. Eram, em sua maioria, homossexuais, alcoólatras, prostitutas ou pessoas que contestavam a sociedade.

Colchão de capim

Com capacidade para 200 leitos, o hospital chegou a receber 5 mil pacientes, devido a determinação superior de retirar os leitos e substitui-los por colchões de capim, para caber mais pessoas. No entanto, com o aumento de internos, cresceu o número de óbitos com as causas mais diversas: fome, eletrochoque, doenças respiratórias e diarreia.

Ainda segundo a autora, entre 1969 e 1980, foram vendidos a 17 faculdades cerca de 1.853 corpos. No abandonado Cemitério da Paz estão enterrados 60 mil corpos. O Estado de Minhas Gerais reconheceu sua culpa e prometeu construir um memorial aos mortos, mas o projeto ainda não saiu do papel. "Meu sonho era imortalizar essa história para que os brasileiros não esquecessem o que aconteceu", afirmou Daniela.

Indigentes

A comissão contou com a presença do padre Júlio Lancellotti, que parabenizou a jornalista e informou que, por coincidência, há 71 anos morria na câmara de gás de Auschwitz (campo de concentração alemão) Edith Stein, conhecida como Santa Teresa Benedita da Cruz, padroeira da Europa. Júlio disse que nos dias atuais os moradores de rua seriam os enviados para a Colônia e mostrou-se contrário ao PL que tramita na Câmara de São Paulo, de autoria do vereador Mario Covas Neto, que visa recolher o DNA desses moradores para não serem enterrados como indigentes. "A preocupação não deveria ser apenas com a consequência, mas sim com a causa. Deveriam fazer políticas públicas para não termos pessoas vivendo nas ruas", afirmou.

Júlio expôs que, devido a seu trabalho com moradores de rua, vivenciou o seguinte episódio: um caminhão baú chegou ao cemitério de Perus carregado com corpos, que foram enterrados como indigentes em vala comum. Segundo dados apresentados, no ano passado, 815 pessoas foram enterradas como indigentes e, neste ano, o número chega a 360.

Hospício infantil

O convidado Guilherme Veloso lembrou a existência, em Belo Horizonte, nos anos 1920, de um hospício infantil, que abrigava autistas, surdos que permaneciam dopados com medicamentos. Veloso contou ainda que os mortos eram enterrados em covas rasas em um cemitério anexo ao hospital. O muro desgastado permitiu que cachorros invadissem o local para pegar os restos mortais. "Diversas vezes apareciam cachorros no centro da cidade com pedaços humanos na boca", afirmou. O local hoje abriga uma escola.

A defensora pública Daniela Skromov, enfatizou que não está claro na legislação o fechamento desse tipo de local. "As autoridades não veem hospícios como algo ruim, pois para elas as pessoas são descartáveis. É o que acontece, por exemplo, com os usuários de drogas."

O desembargador Antonio Carlos Malheiros afirmou que as internações involuntárias são um reflexo dos manicômios do passado. A subcoordenadora da subsede do CRP-SP, Maria Orlene Daré, acusou as clínicas terapêuticas de violarem direitos humanos. O juiz da Vara da Infância e Juventude, Paulo Fadigas, disse que faltam pessoas qualificadas para esse tipo de tratamento.

Ao término da fala dos convidados, foi exibido um documentário sobre o livro.

alesp