Em depoimento à Comissão da Verdade, versão oficial de morte de militantes é contestada

Darci Miyaki estava presa no DOI-Codi quando testemunhou mortes sob tortura
21/08/2013 21:04 | Da Redação: Fernando Caldas Fotos: Roberto Navarro

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Darcy Miyaki<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg128739.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Vivian Mendes e Thais Barreto fazem a leitura do histórico dos desaparecidos <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg128734.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adriano Diogo <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg128735.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Darcy Miyaki<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg128740.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Roberto Azzi, Darcy Miyaki, Adriano Diogo e Thais Barreto <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg128736.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Reunião da Comissão da Verdade desta quarta-feira, 21/8<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg128737.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Darcy Miyaki<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg128741.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

As versões oficiais dos órgãos de repressão sobre as mortes de Hélcio Pereira Fortes e Frederico Eduardo Mayr foram contestadas pela ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) Darci Toshiro Miyaki. Ela foi ouvida nesta quarta-feira, 21/8, pela Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva da Assembleia Legislativa de São Paulo, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT).

Presa em janeiro de 1972, no DOI-Codi do Rio de Janeiro, Darci Miyaki disse que foi transferida junto com Hélcio Pereira Fortes para o DOI-Codi em São Paulo, lugar onde avistou também Frederico Eduardo Mayr. Ela contou à Comissão da Verdade que, no DOI-Codi de São Paulo, "após três dias de tortura, os torturadores me jogaram roupas e um capuz e me levaram para um lugar onde estava um rapaz vestido com um terno, em pé e encostado a uma parede. Por meio de uma falha da costura no capuz, consegui ver que era Hélcio Pereira Fortes".

Miyaki também ouvia gritos de Hélcio durante três dias pelo menos. Depois disso, ouviu de um carcereiro, antes de ser colocada em uma solitária, que dali havia saído um "presunto fresquinho". Miyaki acredita então que Hélcio tenha morrido entre o dia 30 e 31/1 em consequência das torturas, depois de os jornais já terem noticiado sua morte no dia 29/1.

Quanto ao Frederico Eduardo Mayr, ela disse que não o conhecia antes de o ver no DOI-Codi/SP por pelo menos três vezes. Uma delas foi em fevereiro, quando o viu sair de uma de uma sala de tortura ensanguentado. "Ele não morreu em um tiroteio, foi preso, torturado e executado", disse Miyaki.

Segundo a versão oficial, Hélcio Fortes teria morrido no dia 28/1/1972 em uma tentativa de fuga, após travar violento tiroteio com agentes dos órgãos de segurança na avenida Bandeirantes. Já a morte de Frederico Eduardo Mayr foi descrita com detalhes de um inacreditável tiroteio, a bordo de um fusca, com policiais, em 24/2/1972.

Equipes de tortura

Darci Miyaki ficou presa no DOI-Codi/SP durante sete meses, antes de ser transferida para o presídio feminino. Ela disse que, durante esse período, foi torturada diariamente, dia e noite, por três equipes, denominadas A, B e C. Segundo ela, essas equipes se revezavam. Trabalhavam 24 horas e folgavam 48 horas. Ela aconselhou à Comissão da Verdade que investigue a composição e a escala dessas equipes para conhecer os responsáveis pelas torturas e mortes de cada um dos presos políticos que passaram pelo órgão de repressão.

Além disso, Miyaki disse que é preciso conhecer mais sobre as equipes de inteligência, compostas em geral por oficiais e pessoas bem formadas, com graduação superior, bem como sobre as equipes de busca, integradas por agentes civis e militares e que teriam responsabilidade sobre o assassinato de muitos de seus companheiros.

A depoente apresentou alguns codinomes de integrantes das equipes de busca, entre eles, Americano, Pepe, Marcão e Bezerra. Entre os agentes que a prenderam no Rio de Janeiro, ela se lembra dos nomes doutor Guilherme e doutor Roberto.

No DOI-Codi/SP, ela destacou o nome de Luís Eduardo: "um torturador cruel, que respondia às ordens do comandante do órgão, o major Ustra, que por sua vez recebia as ordens do comandante do Segundo Exército, que por sua vez recebia as ordens do ministro da Defesa, que por sua vez recebia as ordens do presidente da República."

Em depoimento emocionado, Miyaki disse não concordar com o conceito da lei da anistia aplicado aos combatentes da ditadura. "Não concordo porque deve ser anistiado alguém que cometeu delito ou crime. Nós não cometemos nenhum crime. Nós tínhamos o direito e o dever de lutar contra um regime que deu um golpe em um governo eleito democraticamente."

alesp