Os argumentos utilizados por Livinston Bauermeister, diretor de operação do grupo Restoque, responsável pela grife Le Lis Blanc, não convenceram o deputado Carlos Bezerra Jr., líder do PSDB na Assembleia e responsável pela convocação do representante do grupo na Comissão de Direitos Humanos (CDH), no dia 20/8. O parlamentar acredita que as respostas dadas pelo diretor do grupo são as mesmas de outras grandes grifes que já prestaram esclarecimentos na comissão, por solicitação dele. "Fico estarrecido com a semelhança de argumentos utilizada pelas empresas flagradas com escravidão que vêm aqui se explicar. Não sei se essa semelhança é só na questão das estratégias de defesa ou também nas ações. O que fica evidente é que as práticas na indústria têxtil são muito parecidas. Numa ponta tem gente lucrando absurdamente. Na outra, pessoas sendo humilhadas", explica Bezerra Jr. Livinston afirma que o grupo desconhecia o trabalho escravo em sua produção, e que depois do fato tomou medidas junto aos fornecedores. "Nosso objetivo é que, a partir de agora, todas as irregularidades sejam sanadas. Seremos implacáveis no combate a escravidão em nossa cadeia produtiva e já notificamos nossos fornecedores", alega Bauermeister. Para o procurador Tiago Muniz Cavalcanti, do Ministério Público do Trabalho, que participou da oitiva, o grupo Restoque sabia do trabalho escravo. "O MP já sabia o que ia encontrar na fábrica. É evidente que a empresa também sabia. É uma cegueira deliberada. Fiscalizam a qualidade técnica, mas não as condições de trabalho", conta. "Oficinas clandestinas como essas, com terceirização de fachada, vão diluindo os direitos dos trabalhadores ao escondê-los em casas fechadas. Dessa forma, fica oculto o enorme lucro que está por trás de tudo isso. Quem se beneficia dessa exploração diz sempre desconhecer o trabalho escravo em sua produção e, apesar da marca vender luxo e excelência, não houve o mínimo de capacidade técnica para averiguar suas subcontratadas", justifica Bezerra Jr. Esse é o primeiro caso de trabalho escravo no ramo têxtil após a regulamentação, em maio deste ano, da nova lei paulista contra a escravidão, de autoria de Bezerra Jr. Caso o grupo Restoque seja condenado em qualquer ação civil ou criminal por um colegiado em segunda instância, a empresa será a primeira a ter cassado por dez anos seu registro no ICMS em São Paulo. Sem esse cadastro as empresas não podem emitir nota fiscal, o que inviabiliza qualquer transação comercial. carlosbezerrajr@al.sp.gov.br