Comissão da Verdade aborda casos de dois militantes mortos no Chile

Um dos relatos foi de sobrevivente, que flutuou desacordado com três projéteis no corpo
29/08/2013 18:28 | Da Redação Fotos: Roberto Navarro

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Ângela Mendes de Almeida, militante do POC<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg129153.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> 	Ângela Mendes de Almeida, Adriano Diogo e Dr. Ulysses <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg129154.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Auditório Teotônio Vilela da Assembleia na manhã desta quinta-feira, 29/8 <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2013/fg129155.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Luiz Carlos Almeida e Nelson de Souza Kohl, que além de pertencerem ao mesmo partido (Partido Operário Comunista - POC), foram igualmente executados pelos órgãos de repressão do Chile, tiveram seus casos abordados pela Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva nesta quinta-feira, 29/8, em reunião presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT).

Físico formado pela USP, Luiz Carlos Almeida foi preso em 14 de setembro de 1973, em sua casa no bairro de Barrancas, em Santiago do Chile. Após ser torturado, foi levado a uma ponte sobre o rio Mapocho, onde foi fuzilado.

Sobrevivente

O relato sobre sua morte partiu de outro brasileiro sequestrado com ele, de nome muito semelhante - Luiz Carlos Almeida Vieira - que também foi fuzilado, mas escapou com vida apesar de ter sido atingido por três projéteis antes de cair no rio e ser arrastado pelas águas.

Vieira hoje vive na Suécia e fez o relato para a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Ele informou que conheceu Luiz Carlos Almeida em setembro de 1973, alguns dias antes do golpe contra o governo de Salvador Allende. Em 13 de setembro, a casa onde moravam foi invadida por carabineiros que os levaram para o Estádio Nacional, onde foram torturados. Posteriormente, os dois jovens brasileiros e mais um uruguaio, que também se encontrava preso, foram transportados em veículo militar até as margens do Rio Mapocho. O uruguaio foi imediatamente metralhado ao tentar entrar no rio. O mesmo aconteceu a Luiz Carlos de Almeida. Luiz Carlos de Almeida Vieira perdeu a consciência ao ser baleado e foi levado pelas águas do rio, conseguindo se salvar.

Atestados inverídicos

Também militante do POC, Nelson de Souza Kohl nasceu em Marília (SP) e entrou no movimento estudantil quando cursava a Escola de Comunicação da USP. Sua militância no partido fez com que fosse perseguido pelos órgãos de repressão. Exilou-se, então, na Argentina. Mudou-se para o Chile em novembro de 1972. Na mesma época foi condenado à revelia a dois anos de prisão pela 1ª Auditoria do Exército em São Paulo. Em setembro de 1973 foi sequestrado pela Força Aérea Chilena, permanecendo desaparecido desde então.

Segundo relato da Comissão de Representação Externa da Câmara Federal para Esclarecer os Casos dos Mortos e Desaparecidos Políticos, foi encontrado no Chile o seu atestado de óbito, no qual consta que teria sido morto em confronto com a polícia dois dias após sua prisão.

Um dado que compromete a veracidade do atestado de óbito é que o mesmo foi assinado pelo médico Alfredo Vargas, diretor do Instituto Médico Legal de Santiago, o mesmo que atestou a morte de dezenas de pessoas no golpe chileno, entre elas a do ex-presidente Salvador Allende.

Marcas da repressão

Ângela Mendes de Almeida, militante do POC na mesma época de Nelson Kohl, morava em Santiago do Chile quando ele foi preso. Ela relatou à comissão aspectos do convívio de ambos e suas impressões a respeito do dia do golpe militar no Chile. Moravam na mesma casa em Santiago, Nelson, e o casal Celso Castro e Sandra Castro, também militantes do POC, com os filhos Flávia e Joca.

Trecho do filme Diário de uma Busca, de Flávia Castro, foi transmitido durante a audiência. Nele, a diretora retrata a prisão de Nelson e suas lembranças dos acontecimentos da época, quando tinha por volta de oito anos.

Foi lida mensagem de Elaine Beraldo, esposa de Nelson, que vive na França, em que revela a esperança de que as comissões da verdade nacional e paulista tragam à tona a verdade sobre os acontecimentos da repressão militar no Brasil.

Ceici Kamayama, que faria depoimento sobre Luis Carlos Almeida, não pôde comparecer à sessão.

Participaram também da audiência o secretário de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo do município de São Paulo, Eliseu Gabriel, e deputado Dr. Ulysses (PV), membro da Comissão da Verdade.

alesp