Comissão da Verdade debate casos de militantes de Osasco

Versões oficiais das mortes dos operários não condizem com testemunhos e laudos
12/09/2013 19:30 | Da Redação: Monica Ferrero Fotos: Roberto Navarro

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Ana Maria Gomes, Adriano Diogo, Celeste Marcondes, Amelinha Teles <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2013/fg129757.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ana Maria Gomes<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2013/fg129758.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ana Maria Gomes e Adriano Diogo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2013/fg129759.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>  Celeste Marcondes<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2013/fg129760.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Público presente<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2013/fg129761.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), realizou nesta quinta-feira, 12/9, reunião para abordar os casos João Domingues da Silva e Dorival Ferreira, ambos com atuação na cidade de Osasco.

O operário João Domingues da Silva era militante da organização VAR-Palmares e, assim como seu irmão Roque, foi um dos líderes da greve de Osasco, ocorrida em julho de 1968. Na madrugada de 30/7/69, o carro em que estava com o também militante Fernando Ruivo foi interceptado por policiais. Fernando morreu na hora, e João foi ferido.

Ana Gomes testemunhou sobre João Domingues da Silva, que à época era seu cunhado. Ela contou que João, com um tiro no peito, conseguiu fugir para a casa da irmã Iracema, que lhe prestou os primeiros socorros.

Porém João, ensanguentado, foi visto por um guarda-noturno, que chamou a polícia. Logo a casa foi cercada e João preso, juntamente com Iracema, seu marido e o irmão caçula José, que tinha 14 anos.

Falta de atendimento médico

"Iracema descobriu que João havia sido atendido no Hospital das Clínicas e que, apesar de estar em estado grave, recém-operado, foi levado ao Hospital Geral do Exército", continuou Ana. Iracema foi visitá-lo cerca de um mês depois da prisão, e constatou que ele não recebia atendimento médico, apenas soro, e que continuava sendo interrogado e torturado, portanto seu estado de saúde declinava.

João morreu no dia 23/9/1969, aos 20 anos de idade. Em seu atestado de óbito, foram constatados diversos ferimentos além das cicatrizes da cirurgia feita no HC. Na opinião de Ana Gomes, se tivesse sido tratado, ele sobreviveria, assim o descuido médico foi uma forma de tortura.

Ela comentou que, quando foi presa, um policial a morte de João como exemplo para ameaçá-la, dizendo que ela também iria "apodrecer numa cama de hospital". Ana Gomes destacou o papel de Iracema, "uma mulher de coragem extraordinária", que serviu de ponte entre os presos políticos, como o irmão Roque.

Exílio

Ana ainda narrou sua vida no exílio, no Chile, onde chegaram logo após a eleição de Allende. Com o golpe militar chileno de 11/9/1973, conseguiu se refugiar na embaixada argentina e, posteriormente, assim como Roque, exilou-se na Suécia.

O irmão caçula de Roque e João também foi para lá, mas nunca se recuperou do trauma da prisão, passando a usar drogas. José acabou morrendo de câncer aos 40 anos de idade. "São dívidas que a ditadura militar tem para com os brasileiros que dedicaram a vida à luta pela democracia", disse Ana Gomes.

Ana Gomes, Celeste Marcondes e Maria Amélia Teles também falaram sobre o exílio no Chile. Contaram do apoio que o povo chileno prestou aos exilados. Lamentaram que a repressão brasileira foi dar aulas de tortura aos policiais chilenos, na Operação Condor. Lembraram o papel do imperialismo norte-americano na queda, uma a uma, das democracias latino-americanas.

Dorival

Sindicalista e operário da construção civil de Osasco, Dorival Ferreira era militante da ALN. No dia 2/4/1970, sua casa foi invadida por agentes do DOI-Codi, e Dorival foi preso, ferido com um tiro nas costas. Na versão oficial, teria havido tiroteiro, mas as provas a contradizem. Dorival morreu no dia seguinte à prisão. Nas fotos e no relatório da Polícia Científica, foram constatados 11 tiros, o que levam a crer que houve execução.

alesp