Imprensa alternativa continua em foco na Comissão da Verdade

Aproveitando a abertura política, jornais passaram a conscientizar a população
02/10/2013 19:46 | Monica Ferrero " Foto: Vera Massaro

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Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2013/fg130601.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Mariluce Moura<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2013/fg130602.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Antonio de Pádua Prado Júnior<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2013/fg130603.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Sebastião Neto<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2013/fg130604.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adriano Diogo e Mariluce Moura<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2013/fg130605.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Na continuação do ciclo Imprensa de resistência à ditadura, a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva, ouviu, nesta quarta-feira, 2/10, depoimentos sobre os jornais Em Tempo e O Pasquim, e sobre a imprensa da Oposição Sindical. Estavam presentes Tibério Canuto, Antonio de Pádua Prado Júnior, o Paeco, Mariluce Moura e Sebastião Neto.

Na abertura da reunião, o presidente Adriano Diogo (PT) afirmou que, apesar de o foco da comissão ser os mortos e desaparecidos, o jornalismo de resistência foi de grande importância, pois a partir dela "criou-se pólos para que a população começasse a resistir à ditadura".

O jornal Em Tempo nasceu no final da ditadura, portanto não teve de sofrer censura prévia como os precedentes, como os jornais Movimento ou Opinião e a grande imprensa, pois sequer foi mandado para lá, disse Tibério Canuto. Essa imprensa alternativa surgiu a partir de uma reflexão da esquerda, e foi levada adiante por jornalistas que começavam a deixar as prisões.

Uma das características do Em Tempo eram reportagens denunciando torturas e desaparecimentos. Em sua terceira edição, de julho de 1978, por exemplo, o jornal publicou uma lista com o nome de 233 torturadores, subscrita por presos políticos de São Paulo, Minas Gerais e Brasília.

Com a reativação da resistência democrática, disse Canuto, a repressão começou a fazer ações fora da legalidade, ou seja, atos terroristas de direita, com atentados a bomba, entre os anos de 1978 e 1980, sendo o mais famoso deles o que deu errado, em 1980, no Riocentro. Algumas sucursais do Em Tempo foram invadidas e depredadas, e na de Curitiba foi fichada a expressão CCC 233 " Comando de Caça aos Comunistas e o número de torturadores denunciados pelo jornal.

Desculpas de apoiadores

Antonio de Pádua Prado Júnior, o Paeco, após falar de sua trajetória política, destacou a importância da imprensa alternativa. "Durante esses anos de terror, jornais como Opinião e Movimento estavam nas bancas, apesar da censura e da repressão", disse.

Com o começo da abertura política, em 1977, a luta incansável de diversos setores da sociedade começou a mostrar que o apoio à ditadura não era hegemônico na população. Aproveitando as rachaduras do poder, os movimentos de organização dos trabalhadores começaram a se fortalecer, disse Paeco.

A ditadura teve apoio de bancos e empresas, que deveriam pedir desculpas à população, pois aterrorizavam a sociedade, reprimindo a juventude e operários que pensavam em um país diferente. Paeco citou como exemplo o jornal Folha de S.Paulo, que em 1970 entregou a Folha da Tarde à repressão, que ainda recebeu veículos para emboscadas. "Esse é o papel da Comissão da Verdade, esclarecer este período arbitrário e violento", finalizou.

Sopro de vitalidade

A jornalista Mariluce Moura falou sobre o jornal O Pasquim, onde trabalhou como colaboradora em 1976 e onde, na editora Codedri, publicou seu livro A revolta das vísceras. "O Pasquim foi um sopro de vitalidade, alegria, contestação e protesto em tempos tão cinzentos", e mudou para sempre o estilo de entrevistas do jornalismo brasileiro, apesar de ter sofrido muito com a censura e com a prisão de seus jornalistas, disse.

A publicação, fundada em junho de 1969, em seu auge chegou a vender 250 mil exemplares semanais. Depois a publicação foi decaindo, pois os atentados a bomba a bancas de jornais e apreensões acabaram inviabilizando o jornal. Mariluce exibiu e comentou trechos do documentário da TV Câmara, O Pasquim - A Subversão do Humor, dirigido por Roberto Stefanelli (youtu.be/8mhzBQN0B1A).

Imprensa sindical

Sebastião Neto falou sobre a imprensa da Oposição Sindical, e principalmente sobre o Jornal dos Jornais, que era vendido nas fábricas a preço baixo e que continha notícias de interesse do operariado. Foi fundado no dia da morte de Santo Dias, em outubro de 1979, e durou por quatro anos e meio. Não se tratava de uma organização partidária, era um instrumento de massa cuja intenção era ganhar os operários para a luta através de sua conscientização.

Pela Oposição Sindical passaram representantes de todas as correntes ideológicas, e seu trabalho foi a matriz ideológica para a formação da CUT. Também eram editados boletins e cadernetas com informações trabalhistas ou com textos de formação política.

Sebastião Neto lembrou o apoio de Raimundo Pereira, do jornal Movimento, que cedia espaço para a redação do Jornal dos Jornais, e ainda criticava as edições semanais. Para impressão, contava-se com apoio de gráfica simpatizante, que permitia o uso das máquinas aos domingos. Por fim, lamentou que até hoje não haja um jornal que una a esquerda, que é extremamente fragmentada e defendeu a vinda de Vito Giandotti à Comissão da Verdade, cujo depoimento escrito divulgou.

alesp