A Comissão estadual da Verdade ouviu trabalhadores perseguidos pela ditadura militar, nesta segunda-feira, 21/10. Paulo Cseh e Sinfrônio Souza Nunes, dirigentes sindicais da indústria têxtil e da construção civil, respectivamente, testemunharam como as perseguições afetaram suas relações familiares e o funcionamento dos sindicatos. Adriano Diogo (PT), presidente da comissão, observou que eles vivenciaram os momentos mais obscuros da ditadura. Segundo o parlamentar, os anos de 1964 a 1968, embora façam parte de um período de repressão muito forte, com inúmeras perseguições, é pouco relatado. Ele analisa que a ditadura ficou mais exposta a partir do AI-5, editado em 1968. Diogo pontua que esse recrudescimento voltou de forma acentuada entre os anos de 1973 e 1975, inclusive com a morte de Vladimir Herzog nesse período. Paulo Cseh relatou que era dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria e Fiação quando este sofreu intervenção da Delegacia Regional do Trabalho, em 1964. Posteriormente, em 1973, Paulo foi preso na saída de uma pizzaria. Após encapuzá-lo, deram várias voltas com ele e o levaram para o DOPS, tendo ficado incomunicável com seus familiares por 20 dias. Ele lembrou, emocionado, que nesta época quem prestou apoio a sua esposa foi Dom Evaristo Arns, atualmente arcebispo emérito de São Paulo. Paulo afirma que foi a condenado a 2 anos e 6 meses, e à cassação dos direitos políticos. Após ter seu recurso provido, a pena foi reduzida a um ano e meio. "Após a prisão, meu filho, que tinha apenas dez anos de idade, passou a sofrer de depressão e as indústrias não me davam mais oportunidade de trabalho. Fomos sustentados pela minha filha, que trabalhava como professora", declarou. Essa situação, segundo ele, só foi amenizada com a Lei da Anistia, promulgada em 1984, quando passou a receber indenização por parte do governo federal. O ex-preso político afirma, entretanto, que seu drama ainda não acabou. "Meu filho tem hoje 50 anos de idade e está passando por uma depressão muito forte", concluiu. O outro depoente, Sinfrônio Souza Nunes, relatou que ao chegar ao sindicato que trabalhava como dirigente, no dia 1º de abril de 1964, viu a sede rodeada por guardas civis. Voltou 20 dias depois para receber seu salário e outros direitos a que fazia jus, mas o interventor, nomeado pela Delegacia Regional do Trabalho, negou pagamento das férias e do 13º salário. Ainda naquele ano, Sinfrônio disse que foi preso por alguns dias, no DOPS, quando foi interrogado a respeito de várias pessoas que eram líderes sindicais e do Partido Comunista Brasileiro. Ao final do processo, ele não foi condenado.