Opinião: Ética e ideais na política

O idiota, na concepção original da palavra, trata-se daquele que pensa só em si e em nada quer participar da sociedade
04/11/2013 18:43 | Marco Aurélio*

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Durante os protestos que tomaram as ruas do país no mês de junho, vimos alguns grupos hostilizando pessoas que participavam dos atos vestindo camisetas ou portando bandeiras de partidos políticos. Além de remeter ao fascismo, essas atitudes violentas e repressoras trouxeram uma preocupação a mais " em vez de participar ativamente e tentar mudar aquilo com que não concordam algumas pessoas ainda tentam associar a política ao que não é bom.

Para discorrer sobre a importância da política " e também dos partidos " num ambiente democrático, vale falar ainda a respeito de ética e idealismo.

Considerando ética como um conjunto de valores que norteia o comportamento humano, podemos dizer que ética e política são inseparáveis.

Como diz o professor, filósofo e escritor Mário Sérgio Cortella: "ética é o conjunto de valores e princípios que usamos para decidirmos as três grandes questões da vida, que são: "quero", "devo", "posso". Tem coisa que eu quero, mas não devo; tem coisa que eu devo, mas não posso e tem coisa que eu posso, mas não quero. Tenho paz de espírito quando o que eu quero é o que eu posso e é o que eu devo. Ética é, portanto, o conjunto de valores que eu uso para definir isto na minha vida".

Numa visão idealista, concebemos política como o lugar onde estão as pessoas éticas. No entanto, toda pessoa tem sua ética. O ladrão, o trapaceiro, o mentiroso, o traficante, enfim, todos têm uma ética.

O que temos que ver é se a ética de uma pessoa é consoante com a maioria da população, pois se a política vai cuidar daquilo que é de todos, evidentemente que não pode ser comandada por uma pessoa cuja ética não seja o da maioria da população. Daí a frase "cada povo tem o político que merece".

E o que é uma pessoa idealista? É uma pessoa que tem ideais, propósitos, projetos, metas, desejos claros; enfim, é alguém que age em conformidade com uma crença interior que o move, e que não está disposto a abrir mão desses objetivos interiores por nenhum outro " ao menos neste momento presente.

Portanto, numa visão idealista, repito, concebemos política como o local onde encontraremos as pessoas da mais elevada ética da sociedade.

Este é o sentido original. Se não é o que vemos na prática, várias podem ser as respostas (ou perguntas) para justificar isto: faltam pessoas idealistas? A ética é valor inferior a um favor ou benefício? A política carece de pessoas éticas?

Muitos hoje pensam "detesto polí­tica". Não percebem que, ao dizerem isso, serão comandados por aqueles que gostam de política.

Outros dizem "não faço política", e não sabem que, ao afirmarem isto, já estão fazendo política " a política da omissão, que é um valor antiético, diga-se de passagem. Voltando aos protestos de junho, mesmo quem dizia não pertencer a algum partido, e hostilizou quem o demonstrava, estava, sim, fazendo política.

No livro "Política para não ser idiota", Mário Sérgio Cortella deixa muito claro que só há um caminho para não ser idiota: é compreender e participar da política.

Isto porque o idiota, na concepção original da palavra, trata-se daquele que pensa só em si e em nada quer participar da sociedade. Mas, o ser humano foi feito para viver em sociedade; logo, para não ser idiota, há necessidade de participar da vida grupal; e, ao fazer isto, estará fazendo política.

Uma sociedade será politicamente mais saudável quanto mais os seus participantes forem coerentemente éticos e difundirem para a presente e futura gerações o valor de se possuir um ideal, viver em prol de uma causa, deixar um legado, fazer história e não aceitar "ser apenas mais um".

*Marco Aurélio é deputado estadual pelo PT.

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