Comissão da Verdade ouve depoimento de filha de militar que integrou a VPR

Desertor do Exército por ser contrário ao golpe de 64, Paulo Guerra Tavares foi assassinado em 1972
02/12/2013 20:38 | Da Redação: Monica Ferrero Fotos: Roberto Navarro

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Giselle Del Piño Guerra Tavares, filha do militante da  Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) Paulo Guerra Tavares<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2013/fg156792.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Clique para ver a imagem " alt="Adriano Diogo apresenta o livro "Uma Tarde em Paris" e Giselle Del Piño Guerra Tavares Clique para ver a imagem "> Reunião da Comissão da Verdade desta segunda-feira, 2/12 <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2013/fg156794.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adriano Diogo, presidente da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, da Assembleia Legislativa de São Paulo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2013/fg156795.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Nesta segunda-feira, 2/12, a Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, da Assembleia Legislativa de São Paulo, abordou o caso do militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) Paulo Guerra Tavares, que foi assassinado em 29/5/1972. Sua filha Giselle Del Piño Guerra Tavares foi quem prestou depoimento.

"Estou muito orgulhosa e emocionada de estar hoje aqui, de poder participar e contar um pedaço desta história do Brasil", afirmou Giselle, que narrou a trajetória da militância do pai, Paulo Guerra Tavares, que era instrutor de paraquedismo no Exército. "Ele não quis se envolver nas torturas feitas pelo Exército, desertou em 1964 e se juntou à VPR. Ele teria sido avisado por alguém do Exército de que sua cabeça estaria a prêmio", contou.

Paulo viajou para o Uruguai, onde se asilou, tendo ficado em contato com Leonel Brizola e outros asilados. "Nossa família era vigiada. Minha mãe foi presa e torturada na volta de uma viagem para o Uruguai, onde foi encontrar meu pai. Estava grávida de seis meses do seu quarto filho, mas perdeu o bebê na prisão", disse Giselle.

Com o nome de João Paulo Martins, Paulo voltou ao Brasil em 1965, instalando-se com a família na cidade de Pau D"Alho, no Paraná. Em 1972, voltou para São Paulo por motivos desconhecidos, provavelmente um encontro, e foi assassinado a tiros na esquina da avenida Sumaré com rua Caiubi. Embora seu corpo tenha sido reconhecido por um irmão, foi enterrado como indigente no Cemitério São Pedro, na Vila Alpina, na capital paulista.

Tudo indica que Paulo Guerra Tavares era de grande importância na hierarquia da VPR, disse Giselle, pois há depoimento de companheiros da época confirmando sua participação na militância no Uruguai, no grupo de Leonel Brizola, bem como no Brasil. Alguns desses depoimentos encontram em dossiê montado pela família.

Reconhecimento e perdão

"O assassinato, sabemos hoje, foi um teatro montado pelo Exército para que servisse de exemplo. Passamos todos esses anos todos esperando reconhecimento do Estado, que nos pedisse perdão pelo que fez não só a mim, mas a todos os outros familiares de presos" afirmou Giselle.

"Hoje, graças à democracia, não teremos de esperar cem anos para revelara a história de meu pai. Nós vivenciamos tudo, eu e meus irmãos não tivemos infância, nós vivemos a dor. Vivíamos com medo, não tivemos infância, pois amadurecemos cedo", disse. "Não acredito em punição, isso nos tornaria igual a eles. É importante que esta história seja levada, através das comissões da verdade, para que os jovens de hoje saibam o que aconteceu em seu país, para que isso não aconteça novamente", finalizou Giselle.

Há processo correndo na Justiça do Rio de Janeiro pedindo indenização e pensão, que foi negada pelo Exército pois ele foi desertor, informou Giselle. Mas ela ressaltou que o mesmo Exército concedeu o salário-família, "o que é contraditório e é uma disparidade legal".

Giselle lançou em Portugal o livro Uma tarde em Paris, uma coletânea de textos que narra, por vezes de modo biográfico, pedaços de sua trajetória pessoal à época da ditadura.

O presidente da comissão, Adriano Diogo (PT), afirmou que este "caso está muito mal investigado" e que "é preciso reunir as histórias dos dirigentes das organizações, para costurar a história".

alesp