Curso aborda a participação feminina na política do século 16

Palestrante disse que reformistas religiosos e filósofos lutavam contra a mulher em cargos de poder
04/12/2013 19:00 | Gabriel Cabral - Foto: Roberto Navarro

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Silvio Gabriel Serrano Nunes<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2013/fg156948.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Silvio Serrano fala aos presentes<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2013/fg156949.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Pùblico presente <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2013/fg156950.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O Instituto do Legislativo Paulista (ILP) apresentou nesta quarta-feira, 4/12, a palestra Preconceitos Históricos quanto à Participação Feminina na política: "O Primeiro Toque da Trombeta contra o Monstruoso Governo de Mulheres" de John Knox (1558), ministrada por Silvio Gabriel Serrano Nunes, advogado formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e bacharel licenciado em Filosofia, mestre e doutorando em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP).

Serrano contou a breve história de John Knox, patriarca da Igreja Presbiteriana, que combatia a atuação da mulher na política, que no século XVI começou a exercer a situação de governante, seja como rainha ou regente. O advogado também contou que Knox afirmava que a atuação das mulheres na política era "repugnante" e que as atuações delas não eram adequadas à política por terem sido feitas pela natureza de forma "fracas, frágeis, impacientes, inconstantes e tolas". Uma das razões para Knox lutar pela não entrada da mulher no Poder, são os dizeres bíblicos que proíbem a entrada feminina no governo e trechos que amaldiçoam mulheres desde o livro de Gênesis. John Knox também debateu o Direito de Resistência.

Silvio lembrou que a resposta bíblica era, na época, a principal base para a formação da política e contou sobre as mulheres que representavam o poder na época, cada uma com sua história, entre rainhas, conselheiras e exemplos bíblicos. Entre elas estão: Maria Tudor, rainha da Inglaterra; Lady Jane Grey, rainha dos Nove Dias; Maria de Guiser, rainha da Escócia; Maria Stuart, rainha da França e Catarina de Médici, que teve seu governo atacado por um calvinista.

Paraíso Divino

Os reformadores religiosos da época acreditavam que a suposta desordem que Eva trouxe ao Paraíso Divino é uma herança trazida pelas mulheres e que são, portanto, reprodutoras do caos, pelo elo que há a partir da primeira mulher na Terra, de acordo com a tradição cristã.

Silvio Serrano falou sobre os tratados que proibiam a mulher de usar a palavra em assembleias. Os seres femininos também eram proibidos de usar roupas extravagantes e ouro, usando de Eva como o exemplo de que as mulheres caem na transgressão.

Serrano explicou que na época os véus eram usados, pois as mulheres não deviam "ter a cabeça", já que a verdadeira cabeça digna da sociedade era o homem.

"Monstruoso Governo"

O advogado e pesquisador de Knox explicou que o termo "Monstruoso", usado no texto de John Knox não é no significado de terrível e sim no sentido da mulher não poder ser, de forma alguma, a cabeça de algo, já que para os reformistas religiosos da época, a mulher era o exato sinônimo de desordem.

Serrano também citou ideais de outros pensadores e filósofos da época, como Jean Boldin, e contou que Aristóteles chegou a afirmar que as mulheres deram mais trabalho que os próprios inimigos.

Em entrevista ao Diário da Assembleia, o advogado contou que o tema surgiu durante sua pesquisa de Direito de Resistência e seus aspectos constitucionalistas, criado também por John Knox, que escreveu um tratado sobre o assunto pesquisado. "Knox escreveu um tratado onde tenta refutar, sistematicamente, por provas filosóficas, segundo ele por natureza e bíblicas que as mulheres jamais poderiam comandar ou exercer qualquer cargo ou função pública", contou Serrano.

Sobre a evolução do papel da mulher na sociedade, ele concorda que o papel feminino só começa a ser reconhecido minimamente no século XX, com a possibilidade do voto, por exemplo. "Foi muito lento, na verdade. Mas há passos que foram dados." Uma construção social da imagem da mulher, que ainda não é reconhecida por sua autonomia, mas pelo cargo de seu marido, pai ou antecessor, é evidenciado por Serrano para que seja reconhecido o mérito próprio da mulher que participou da política e não de alguém que foi direcionado por um homem. "Ainda acho que é um estigma que se carrega."

Aberto ao público, o ILP programa para 2014 ministrações de Direito Eleitoral, Filosofia e Mulher.

alesp