A Comissão estadual da Verdade Rubens Paiva, presidida por Adriano Diogo (PT), realizou nesta sexta-feira, 6/12, audiência pública para que fossem ouvidos depoimentos sobre o caso de Ruy Carlos Vieira Berbert, desaparecido em 2/1/1972. Militante do Movimento de Libertação Popular (Molipo), Ruy teve sua morte decretada, mas seu corpo nunca foi encontrado. Sua irmã e seu sobrinho buscam descobrir como Ruy foi morto e alterar o atestado de óbito, no qual consta como causa morte suicídio. Ana Cerqueira César Corbesier também participou de movimentos estudantis e alfabetizava adultos. Disse que os policiais impediam as reuniões estudantes, atacando-os com cães. Separada do marido por divergência ideológica, Ana não ficou com a guarda dos filhos e pode se envolver na luta armada e integrar a Ação Libertadora Nacional (ALN). Ana organizava as militâncias. Foi para Paris com seus próprios recursos e de lá seguiu para Cuba, com o auxílio do país latino. Lá, ela recebeu nove colegas, inclusive Ruy Berbert, que sequestraram um avião da Varig para realizar a viagem. Em Cuba, os militantes viveram uma rotina militar para se preparar para o retorno ao Brasil. "Aprendi mais sobre o Brasil (nos livros) do que eu já havia aprendido na minha vida toda", disse Ana. Os mais bem preparados retornaram ao Brasil logo, como Ruy. Ana voltou depois e não entendeu o motivo de o grupo ter vindo para São Paulo. De acordo com Ana, a morte de Ruy "acirrou a decisão de voltar" dos demais. Ana discordou sobre trecho de biografia sobre José Dirceu, no qual consta que o ex-deputado federal traiu o Molipo: "Se ele tivesse dedurado o grupo, eu não estaria aqui, pois ele sabia tudo sobre mim." Tempos de juventude Dácio Antônio de Castro cresceu no interior, assim como Ruy e sua irmã. Estudou Letras com Ruy e contou que, quando jovens, frequentavam bailes juntos. Ambos compartilhavam a vontade de vir para a capital paulista e lá dividiram moradia. Ao saber que Ruy estava envolvido em esquematizações da ALN, Castro se preocupou. Ele se surpreendeu com a notícia do suicídio. "Nunca acreditei que ele tivesse tomado essa atitude, por mais que tivesse coragem para isso. Ele era um homem de muita fibra." Regina Vieira Berbert, irmã de Ruy, falou da alegria de reencontrar amigos da época (na reunião da comissão) e da emoção de falar sobre o irmão. Ressaltou as qualidades dele e lembrou que as poucas notícias que tinha dele vinham da mídia. Rodrigo Berbert Pereira, sobrinho de Ruy, não conheceu o tio, mas tem interesse em descobrir mais sobre sua história. Kiyoshi Kadikaru falou de sua infância e de como conheceu Ruy. Lembrou dos tempos de escola e disse que o amigo se destacava nas aulas de redação. Após o fim do colégio, Kadikaru veio para São Paulo e conseguiu uma vaga para Ruy estudar no cursinho do Grêmio, onde trabalhava. Relembrou ter sabido pela mídia que o amigo estava envolvido no sequestro do avião da Varig e que um tempo antes do sequestro, Ruy o procurou pedindo um lugar para dormir. Kiyoshi o recebeu em casa. "Ele mostrou um documento falso, assumindo uma nova identidade. O Ruy não podia contar nada e nós não podíamos saber", finalizou. Na Universidade de São Paulo (USP), o hoje professor Luiz Dagoberti Roncari conheceu Ruy Berbert. "Meu contato com Ruy foi breve, mas intenso." Junto com Ruy, Roncari imprimia, copiava e elaborava cartazes e panfletos de convocação para manifestações. Roncari afirmou que seu amigo se aprofundou na política e eles acabaram se afastando. Breve biografia de Ruy Carlos Vieira Berbert Nascido em 16 de dezembro de 1947 no interior de São Paulo, em Regente Feijó, Ruy Carlos Vieira Berbert fez parte da Organização Política Movimento de Libertação Popular (Molipo). Desaparecido em 2 de janeiro de 1972, Ruy era estudante do curso de Letras da USP e residia no Crusp. Participou do Congresso da União Nacional dos Estudantes, em Ibiúna, quando foi preso em outubro de 1968. Não havia grandes informações sobre o desaparecimento de Ruy, mas sua morte foi confirmada, junto a outros 11 desaparecidos, pelo general Adyr Fiúza de Castro.