A reunião da Comissão de Educação e Cultura desta terça-feira, 10/12, presidida por João Paulo Rillo (PT), recebeu o diretor da Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Barueri, Evandro Cleber da Silva, para esclarecer denúncias de perseguição ideológica, política e moral aos professores e alunos da instituição. Professores e alunos discutiram fatos ocorridos na faculdade com o diretor, que rebateu as críticas e lamentou o que ele considerou um ato para "denegrir sua imagem". O deputado Carlos Giannazi (PSOL) foi o autor do requerimento que convocou o diretor. Giannazi afirmou que recebeu muitas reclamações e denúncias envolvendo assédio moral e perseguição a professores. Pediu para que Evandro assumisse um compromisso de não perseguição de professores que iriam se expor na inscrição de fala da reunião. O deputado questionou a eleição da direção, que ainda não foi realizada e que está, de acordo com a constatação do parlamentar, atrasada. Evandro explicou que a eleição ainda não foi realizada porque esta deve acontecer em conformidade com as normas da autarquia. Explicou também que diversas Fatecs estão na mesma situação, aguardando a aprovação da proposta para que a eleição seja realizada. Sobre a proibição de professores de usarem o auditório da faculdade, o diretor argumentou que os recursos existentes na sala de aula são os mesmos do auditório. Silva recomendou que Giannazi visite a Fatec Barueri para que verifique se o que ocorre na unidade é "perseguição política ou questão de administração". "Opressão orquestrada" Giannazi também falou sobre possíveis atos de intimidação a professores, sobre nomeações de educadores "prediletos" e sobre a atribuição de funções que não são dos professores, como responsabilidade por preservação do patrimônio e por chaves das portas. Evandro explicou que a responsabilidade sobre as chaves deve-se à falta de funcionários cedidos pela Prefeitura de Barueri para a função. "É a nossa realidade. Não é uma imposição para responsabilizar os professores e nem que eles terão que pagar pelo que for roubado", justificou . Disse também que a regra do Centro Paula Souza é que o pedido de cópia de ata seja justificado. Evandro fez uma crítica sobre distorções e versões de histórias contadas ao deputado e afirmou que algumas não podem ser provadas porque não são verdadeiras. A professora Silvia Helena de Lima, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paula Souza (Sinteps), disse que ao visitar a Fatec viu a reclamação dos professores e foi mal recebida pela direção. Informou que o professor Rony Aliberti Hergert foi obrigado a repor aula justificada com atestado. "Esse tipo de opressão aos professores é constante e orquestrado." Laerte Fedrigo, professor da Fatec Barueri, reforçou as denúncias e insistiu que a sindicalista foi destratada pela direção. Refutou também a firmação de que existem vídeos em todas as salas de aula para reprodução de filmes. "Por que o senhor atirou em mim?" O professor Rony Aliberti Hergert, ex-professor da Fatec de Barueri, falou que teve seu contrato interrompido por ter dito que iria denunciar o que estava ocorrendo na faculdade. Apresentou um vídeo em que filmou a faculdade vazia, desde o estacionamento, corredores até a sala de aula, em dia que ele foi convocado a repor aula. Ao fim de sua fala, lembrou do garoto morto por um policial militar e indagou ao diretor, seguido de aplausos: "Professor Evandro, por que o senhor me demitiu? Por que o senhor atirou em mim?" Colegas, alunos e a própria professora Cléo Tibiriçá contaram que a professora está sendo perseguida e ameaçada por denúncia de doutrinação ideológica de seus alunos, em denúncia iniciada no blog Escola Sem Partido. Cléo foi aplaudida e levou Rony às lágrimas. Concordou com Evandro sobre o fato de o problema ocorrer em diversas Fatecs, mas defendeu que professores como os que falaram na reunião e outros fazem a "melhor educação que se faz nesse país, apesar de administrações incompetentes e burocráticas como a sua", disse, referindo-se a Evandro. Ressaltou seus erros e afirmou que nunca o expôs publicamente, mas que, ao contrário dela, ele a humilhou publicamente. Alunos insatisfeitos Fazendo uso da palavra, diversos estudantes criticaram a postura adotada pelo diretor da Fatec Barueri. Segundo eles, há perseguição política e ideológica dentro da faculdade, e a condição imposta pelo diretor para se reunir com os alunos foi que os professores não estivessem presentes, o que para os estudantes pode ser considerado uma tentativa de reprimir professores que não concordam com o posicionamento do diretor. A deputada Leci Brandão (PCdoB) censurou qualquer possibilidade de perseguição política e ideológica em uma instituição de ensino público. Giannazi solicitou que as notas taquigráficas da reunião e a gravação em vídeo da mesma fossem encaminhadas ao Ministério Público e ao governador Geraldo Alckmin. Rillo acrescentou que também deve ser enviado ao Ministério Público do Trabalho e falou sobre a possibilidade de ser constituída uma subcomissão para continuar investigando o caso. "Temo que as Fatecs virem campos de concentração como o que vi aqui. Estou assustado", finalizou Rillo.