Opinião - Fé, política e o papa Francisco


24/01/2014 10:00 | Marco Aurélio*

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Num passado recente se apregoava que fé, política e religião não se deveriam discutir. Com esta ideia, veio a concepção de que política e religião não se misturam. Por trás destas pseudoverdades defendidas, havia o interesse de que a população não vinculasse prática cristã com prática política, como se ambas pudessem andar separadas, o que não é verdade.

A prática cristã deveria se dar em todos os ambientes da sociedade, inclusive e sobretudo na política. Sim, na política, porque é exatamente aí onde pode haver maior eficiência, ou não, na implantação de valores da fé, tais como a justiça, a solidariedade e o amparo aos menos favorecidos.

Política vem da palavra "polis", que significa "cidade"; portanto, política é a arte de gerir uma cidade, ou seja, de administrar a coisa pública. Portanto, quem tem em suas mãos a possibilidade de alguma gestão faz, necessariamente, política. Um diretor de escola, um pai ou mãe em sua casa, enfim, todos fazem política, consciente ou inconscientemente.

E, no caso da instituição Igreja, a política é gerida por uma sólida hierarquia, tendo como responsável maior a figura do papa, que, quando eleito pelo colégio de cardeais, passa a ser também chefe de Estado, no caso, o Vaticano.

É o papa quem conduz a forma de trabalho e os princípios a serem seguidos na Igreja Católica. Sendo assim, é ele o responsável pela implementação da política, ou a direção, dentro da Igreja.

Cada papado tem sua característica, a começar pela escolha do nome que o papa passará a usar depois de eleito. Em 13 de março de 2013, após a chaminé da Capela Sistina expelir a fumaça branca, o mundo conheceu o novo papa: o argentino Jorge Mario Bergoglio " primeiro pontífice latino-americano e não-europeu em 1.300 anos. Sua escolha foi pelo nome Francisco. Por ser o primeiro a optar por Francisco, o nome não vem acompanhado por número, como foi o caso de Bento 16 e João Paulo 2º, que o antecederam.

A escolha do nome já indicou a forma como o novo papa passaria a conduzir a Igreja Católica, pois foi uma homenagem a São Francisco de Assis, cuja vida foi dedicada a ajudar os pobres.

Recentemente, o papa Francisco nomeou 19 novos cardeais de várias partes do mundo. Desse total, metade é de não-europeus, inclusive tendo representante do Brasil, o que indica a importância que Francisco atribui ao mundo em desenvolvimento.

Outras demonstrações de uma abertura maior e passos em direção à ampliação da acolhida dentro da Igreja têm sido dadas pelo papa. Um exemplo recente foi ter ele mesmo batizado, durante cerimônia no Vaticano, filhos de mãe solteira e de casal sem união matrimonial religiosa; prática nem sempre encontrada em algumas comunidades católicas.

Sobre essa orientação, Francisco explicou: "Somos muitas vezes controladores da fé, em vez de facilitadores". Para ele, uma mulher que tem coragem de seguir com a gravidez, mesmo em meio a adversidades, não pode encontrar a porta da Igreja fechada. "Isso não é zelo, é distância de Deus."

Na publicação da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), o papa enfatiza a prioridade à ação da igreja em favor dos pobres e dos doentes (número 48 do Documento 198).

Por estas e tantas outras atitudes que já demonstrou em seu pouco tempo de papado é que o mundo olha com esperança este novo líder, que ultrapassa os muros de uma religião e que aponta para a necessidade de construir um mundo cada vez mais justo, solidário, com respeito e amor ao próximo, opondo-se à lógica capitalista do acúmulo, consumo e exploração do ser humano.

*Marco Aurélio é deputado pelo PT.

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