Opinião - Um verbo no condicional


13/02/2014 11:01 | Vitor Sapienza*

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Tenho um amigo acostumado a contar uma piada em que duas pessoas muito humildes conversavam, e um deles deu a receita para fazer o nosso país entrar nos eixos: ele dizia que a solução seria entrarmos em guerra contra os Estados Unidos e, perdendo a batalha, ficaríamos sob o domínio de Tio Sam. E aí o outro amigo teria feito a pergunta fatal:- Mas compadre, e se a gente ganhar a guerra?

Piadas à parte, fiquemos com a nossa realidade. Vamos adequar a pergunta aos nossos dias, ou a um futuro bem próximo: - Compadre, e se a gente ganhar a Copa? A resposta poderá ser tão simples quanto ingênua: faremos a maior festa do mundo, milhões de pessoas nas ruas, praças e avenidas; a imprensa mundial fazendo a cobertura, voltaremos ao primeiro lugar no ranking da FIFA, os nossos atletas serão altamente valorizados e durante quatro anos estaremos "cantando de galo" em todos os estádios.

Ainda usando o verbo no condicional, se vencermos a Copa da FIFA veremos os patrocinadores ganhando fortunas, as empresas de comunicação mostrando que valeu a pena o investimento e, certamente, durante um bom período esqueceremos os nossos problemas.

O capitão do nosso time certamente irá mostrar o troféu no Planalto Central, governantes irão prestar homenagens aos atletas em suas cidades de origem, e muitos deles serão tratados como os filhos mais diletos. E aí, em dado momento, alguém com um pouquinho de lucidez poderá perguntar em voz alta:- mas, isso é tudo?

Bem sabemos que isso não é tudo, ao contrário, é apenas o começo, ou a continuação do engodo. Até que o capitão do nosso time erga o troféu, muito há que ser percorrido, tanto dentro como fora de campo. O talento dos nossos atletas poderá sobrepujar todas as diversidades, mostrar o talento nas jogadas enquanto, do lado de fora muitas jogadas já terão sido realizadas. Jogadas que não dão troféus, nem que merecem aplausos.

São as jogadas extra-campo que nos preocupam. As jogadas desleais que propiciaram os aditivos nos contratos de construção; as jogadas concatenadas pela FIFA que nos impuseram o jogo pesado do alto custo, do emprego do dinheiro público, da instalação do luxo nos estádios apenas para atender aos devaneios da entidade que dirige o futebol.

Em meio à festa, oxalá tenhamos vozes mais estridentes que os gritos de gol; vozes que questionem os altos lucros que alguns segmentos irão usufruir, enquanto, finda a orgia, ficaremos com as nossas carências ainda mas expostas e computando os gastos da festa.

*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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