Comissão da Verdade aborda mais casos de mortos pela ditadura militar

Versão oficial de morte em tiroteio é contestada por depoimentos
20/03/2014 19:59 | Da Redação Fotos: Maurício Garcia

Compartilhar:

Amelinha Teles, Adriano Diogo, Suzana Lisboa e Beatriz Cintra Labaki <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2014/fg159722.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>  Beatriz Cintra Labaki<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2014/fg159723.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adriano Diogo e Suzana Lisboa<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2014/fg159724.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Reunião da manhã desta quinta-feira, 20/3 da Comissão da Verdade <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2014/fg159725.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Amelinha Teles, Adriano Diogo, Suzana Lisboa e Beatriz Cintra Labaki<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2014/fg159726.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adriano Diogo preside a Comissão da Verdade estadual <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2014/fg159727.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Beatriz Cintra Labaki<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2014/fg159728.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Nesta quinta-feira, 20/3, a Comissão da Verdade Rubens Paiva, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), recebeu novamente Suzana Lisboa, ex-integrante da Comissão Nacional de Mortos e Desaparecidos e ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), que falou sobre os casos de Alexander José Ibsen Voeroes, Lauriberto José Reis, José Milton Barbosa e José Idésio Brianezi.

Os dois primeiros, militantes do Movimento de Libertação Popular (MOLIPO), teriam sido mortos, segundo a versão oficial, no dia 27/2/1972 em tiroteio com os agentes da repressão, após cerco ao local em que se encontravam. Durante o tiroteio, foi morto um funcionário público aposentado, Napoleão Felipe Biscaldi, aquinhoado com o T de terrorista, embora provavelmente morto por engano pelos policiais.

Maria Amélia Teles relatou diligência realizada em 1997 ao local do tiroteio, quando conversou com vizinhos. Nos depoimentos, foi mencionado o corpo de um jovem supostamente morto no tiroteio (provavelmente Alexander Voeroes) e jogado no porta-malas do carro dos policiais. Os vizinhos também relataram que teriam ouvido a informação de que outro militante fora morto em local próximo.

Sem explicação

Diversos aspectos permanecem sem explicação, como a ausência de fotos no IML do corpo de Laurindo e as reais circunstâncias da morte de Napoleão Biscaldi. Os corpos de José Voeroes e Laurindo teriam sido levados nos porta-malas dos carros dos agentes da repressão enquanto que o de Napoleão teria ficado mais de cinco horas esperando a chegada do IML na rua, fato que também suscita interrogações.

José Milton Barbosa foi assassinado em 1971 no Sumaré, bairro da capital paulista. Enterrado como indigente no cemitério de Perus, até hoje não foi identificado e sepultado pela família. Foi vítima de tiroteio com agentes da repressão em que sua namorada, Linda Taiá de Melo, levou um tiro na cabeça. Levada viva para a prisão, Linda estava grávida e teve o filho na prisão.

As fotos de José Milton Barbosa morto levam a crer que foi levado vivo após o tiroteio. Embora haja fortes indícios de que a repressão conhecia seu verdadeiro nome, foi enterrado com nome falso, para dificultar sua identificação. A Comissão da Verdade quer novo laudo pericial e a exumação do corpo para o justo sepultamento.

Em 14 de abril de 1970, José Idésio Brianezi, militante da ALN, foi assassinado por agentes da repressão na pensão em que morava. Seu corpo foi enviado a Apucarana, sua cidade natal.

De acordo com a versão oficial, o militante teria morrido em tiroteio com os agentes da Oban, mas a foto contradiz as informações do laudo, levando a crer que não morreu no momento do tiroteio.

Fujimore e Quaresma

À tarde, Suzana Lisboa apresentou as circunstâncias das mortes de outros três militantes: Yoshitane Fujimore, Edson Neves Quaresma e Gastone Lúcia Beltrão. Fujimore e Quaresma, ambos militantes da ALN, foram mortos em 5/12/70, na praça Santa Rita de Cássia, zona Sul de São Paulo, durante tiroteio. A polícia teria reconhecido e ferido os dois. Entretanto, relatório posterior, feito pelo jornalista Ivan Seixas, mostrou que "a ditadura mentiu para encobrir assassinatos covardes", disse Suzana.

No relatório do jornalista, há o testemunho de um motorista de táxi, segundo o qual, viaturas policias interceptaram um carro suspeito. De seu interior saíram um nissei e um nordestino, seguramente Fujimore e Quaresma. Este último, gravemente ferido, foi segurado por agentes da repressão, sendo que um deles colocou brutalmente um dos pés em seu pescoço, o que teria ocasionado sua morte.

Fujimore, apesar de bastante ferido, teria sido levado para um centro de tortura. "A frente revolucionária conseguiu apurar que, antes de morrer, ele teria escrito Fujimore esteve aqui. Viva a VPR", sigla da Vanguarda Popular Revolucionária, contou Suzana Lisboa.

Maria Amélia Teles, assessora do deputado Adriano Diogo, acrescentou que Quaresma era militante conhecido, fora cassado desde o golpe de 1964. Era também um dos contatos do cabo Anselmo " José Anselmo dos Santos, agente infiltrado das forças de repressão. Daí o motivo de "sua queda". Quaresma foi enterrado sob o nome falso de Celso Silva Alves, explicou ela.

O caso da jovem Gastone

Nascida em 14/1/1950, Gastone Lúcia Beltrão passou à militância política na época da faculdade. Na versão oficial, ela teria resistido à bala, durante uma ocorrência policial entre as ruas Heitor Peixoto e Inglês de Souza, e morrido no caminho para o hospital. Sua bolsa e pertences teriam sido encontrados por policiais para que fosse identificada. O fato teria ocorrido em 22/1/1972.

Suzana Lisboa ironizou essa versão, ao contar que o laudo pericial e cadavérico de Gastone, feito pelos familiares, mostrou que sua morte, às 11h30 de 22/1/1972, não pode ter ocorrido no local mencionado " um bar - e também não há provas de policial ferido. Ela refutou também a versão de que Gastone era uma terrorista fria e agressiva, ao relatar testemunhos dos familiares da militante.

Amélia Teles lembrou que o jornal O Globo publicou, em 25/1/1972, notícia totalmente inusitada sobre o fato, sob o título Pistoleira fere e morre em tiroteio com policiais. "Muito diferente da linguagem da época, que exibia títulos como terrorista morta em tiroteio", afirmou.

Para Teles, não se sabe como foi a emboscada feita pela equipe do delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury, à época delegado do Dops de São Paulo. Fato é que o cadáver de Gastone, uma moça de apenas um metro e meio de altura, apresentava mais de 30 perfurações à bala. Seus restos mortais encontram-se na tumba da família, em Maceió.

alesp