História de tortura é lembrada em lançamento de livro sobre Frei Tito

O desequilíbrio psíquico causado pela repressão militar levou o dominicano ao suicídio
15/04/2014 20:44 | Da Redação: Gabriel Cabral Fotos: José Antonio Teixeira

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Caso de Frei Tito de Alencar é apresentação em audiência pública  <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2014/fg160868.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Público presente na Assembleia em 14/4<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2014/fg160869.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Na reunião também houve o lançamento do livro Um Homem Torturado - Nos Passos de Frei Tito de Alencar<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2014/fg160870.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Público presente <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2014/fg160871.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> História de tortura é lembrada em lançamento de livro sobre Frei Tito <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2014/fg160872.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A Comissão da Verdade Rubens Paiva, presidida por Adriano Diogo (PT), apresentou nesta segunda-feira, 14/4, em audiência pública, a oitiva sobre o caso de Frei Tito de Alencar, torturado durante o regime militar brasileiro e exilado na França, onde cometeu suicídio. Na reunião também houve o lançamento do livro Um Homem Torturado - Nos Passos de Frei Tito de Alencar, e vídeos foram reproduzidos em memória à vítima.

Renan Quinalha, da Comissão estadual da Verdade, realizou a leitura do memorial referente a Frei Tito, contido no documento do Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Brasileiros.

Biografia

Nascido em 1945, em Fortaleza (Ceará), Frei Tito cometeu suicídio durante seu exílio na França, em 1974. Era frade dominicano e estudou com padres jesuítas, foi ordenado sacerdote em 1967 e iniciou sua militância na União Cearense de Estudantes Secundaristas e na Juventude Estudantil Católica (JEC). Estudou filosofia na Universidade de São Paulo (USP) e foi preso em 1968, sob acusação de ter alugado o sítio onde ocorreu o 30° Congresso da Une, em Ibiúna, São Paulo. Preso novamente em novembro de 1969 em companhia de outros dominicanos, os religiosos foram acusados de terem ligações com a Ação Libertadora Nacional (ALN) e seu dirigente Carlos Mariguella.

Inferno prometido

De acordo com o documento lido por Quinalha, Tito foi torturado por 40 dias pela equipe do delegado Sérgio Fleury e transferido para o presídio Tiradentes, onde permaneceu até 17/12/1970. Após a data, foi levado para a sede da Operação Bandeirantes (Oban), posteriormente reorganizada como Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). "Agora você vai conhecer a sucursal do inferno", disse o torturador, capitão Maurício Lopes Lima, que o recebeu no destacamento.

Além do pau de arara, o Frei foi submetido a choques elétricos, socos, pauladas e enfrentou um corredor polonês, sendo queimado com cigarros. Tentou suicídio com uma lâmina de barbear e foi conduzido ao Hospital do Exército. O relato das torturas sofridas foi redigido por ele e anexado ao seu caso na Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos. "Vai ter que falar ou vai sair morto daqui", escreveu Tito sobre as ameaças que sofreu. Com dores por todo o corpo, o frei não conseguia falar nada e torcia para novamente perder os sentidos. "Quando venho para Oban, deixo o coração em casa. Tenho verdadeiro pavor a padre e para matar terrorista nada me impede", disse o torturador, que mandou a vítima abrir a boca para receber a "hóstia sagrada", um fio elétrico que deixou a boca de Tito inchada e o frei sem fala.

Exílio

Banido do país com mais 69 presos políticos, foi para o Chile, Itália e por fim França, onde retomou estudos e atuou em entidades religiosas. Em 23/2/1973, no exílio, foi condenado à revelia em São Paulo. Enforcou-se em 7/8/1974 em um bosque ao redor do convento francês e foi enterrado em solo europeu. Em 25/3/1983, seus restos mortais foram recebidos pela Igreja dos Dominicanos, em Perdizes, São Paulo, e enterrados no jazigo da família, em Fortaleza.

Reconhecido como vítima da tortura realizada por agentes públicos, Tito teve seu suicídio reconhecido como resultado do desequilíbrio psíquico causado pela ditadura militar brasileira. Frei Betto atribuiu a salvação do grupo dominicano no Brasil ao sacrifício de Tito, pois "o suicídio de Tito trouxe grande repercussão e problemas ao governo brasileiro na época.

Frei Betto agradeceu a Clarice Meirelles e Leneide Duarte-Plon, autoras do livro, pela obra, ressaltando que ela é a mais completa das três existentes e lembrando que as escritoras são brasileiras residentes na França.

"Uma exigência de Justiça"

Leneide Duarte-Plon, jornalista e coordenadora do projeto do livro, lembrou que Frei Betto ajudou Tito a escrever seu depoimento, pois ele esteve preso com a vítima. Destacou que há três epígrafes no livro, entre elas a feita por frei Osvaldo Augusto Resende Junior, frade dominicano do convento de Perdizes, que escapou da tortura porque foi mandado à Europa, pelos superiores para continuar os estudos, antes de a equipe de Fleury invadir o convento.

Durante o tempo de estudos de Frei Resende, Tito foi preso e Marighella morto. "Lembrar Tito é lembrar o que se passou, mas lembrar também cria um dever, uma exigência de justiça", cita Frei Resende na epígrafe.

Clarice Meirelles ressaltou o quanto desconhecia a história do Brasil antes de embarcar no projeto do livro Um Homem Torturado. Afirmou também que essas histórias deixam marcas. "Neste momento, em que se completam 50 anos do golpe militar, temos a oportunidade preciosa para pensar no que ainda carregamos de truculência em nosso cotidiano. Exemplos não faltam em nosso país", disse a pesquisadora, que ainda elogiou os ideais dominicanos, que relacionam Marx a Jesus Cristo.

Também estiveram presentes o deputado Carlos Giannazi (PSOL); Maria Amélia Teles e Ivan Seixas, ambos da Comissão estadual da Verdade; Irmã Élede, comboniana da Fazenda da Juta; Mário Sérgio Duarte Farcia, da Comissão da Verdade da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

alesp