Opinião: A mulher muçulmana no mercado formal de trabalho


05/05/2014 17:41 | Sarah Munhoz*

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O Islamismo, uma das religiões que mais crescem no mundo, é permeada por conceitos que pregam a paz, o amor e a generosidade ao próximo. Sua essência é extremamente humanista. Baseada nos preceitos do livro sagrado do Islã, o Alcorão, a religião tem Allah como Deus único e Mohamad como seu profeta. O número de muçulmanos no Brasil cresceu 29,1% de 2000 a 2010, segundo o último Censo. No mesmo período, a população brasileira aumentou em 12,3%. Apesar dos números oficiais, líderes, instituições islâmicas e estudiosos da religião calculam que há cerca de 1,5 milhão de muçulmanos, hoje, no Brasil. A maior concentração de fiéis se encontra no Estado de São Paulo.

Tive a oportunidade de me aproximar da comunidade muçulmana de São Paulo e estreitar os laços com as mulheres que fazem parte dessa religião. Algumas narrativas curiosas sobre a questão do véu demonstram a curiosidade das pessoas. Elas perguntam se é moda, fazem piadas e, até mesmo, hostilizam as mulheres como se nós não nos deparássemos com a diversidade todos os dias e em todos os lugares do Brasil. Desacatos, insultos e agressões também são comuns! Uma dessas mulheres afirmou que, em certa ocasião, o hijab lhe foi arrancado em atitude totalmente discriminatória.

O uso do hijab (véu) é uma forma de proteção e valorização da mulher muçulmana. Em um país democrático como o Brasil, o véu revela a garantia do direito à liberdade de expressão, pois é uma escolha da mulher demonstrar, abertamente, a sua identidade através da vestimenta. É incorreto afirmar que o hijab simboliza a desigualdade sexual e o aprisionamento feminino. Pelo contrário, o hijad reafirma o empoderamento da mulher sobre as suas escolhas diante da vida. É inadmissível que o uso do véu restrinja as liberdades da mulher muçulmana no Estado Democrático de Direito, principalmente no que se refere à saúde e educação.

Contudo, a profissional muçulmana enfrenta barreiras em sua colocação no mercado de trabalho. Na maioria das vezes, por causa de seus hábitos e costumes. Ou seja, não porque lhe falte preparo, mas porque ainda existem vendas que cegam a nossa sociedade com preconceitos camuflados. Diante de olhares e falas cuidadosas, que só se expressam na negação da oportunidade de emprego, a mulher muçulmana sofre com a exclusão. Tamanho é o absurdo de atitudes antidemocráticas como estas, que o preconceito e a desinformação subvertem a mulher mulçumana a ponto de afastá-la do mercado formal de trabalho por utilizar o véu, enquanto se aceitam outros aprestos religiosos sem tantos problemas, como guias e crucifixos.

A mulher muçulmana é um ser sublime, valorizável e respeitável dentro da religião islâmica. E a mulher, independente de sua origem étnica, é o pilar da formação de toda sociedade, devendo ser respeitada sob todos os aspectos, sejam religiosos, políticos, culturais ou ideológicos.

É preciso que haja uma real conscientização sobre a liberdade de expressão, para que se preserve e se legitime, ainda mais, a nossa jovem democracia. Eu estou disposta a lutar pelos direitos das mulheres que se encontram em situação de vulnerabilidade econômica e social, seja qual for a sua religião, cor, raça ou ideologia política. Só assim posso legitimar a função pública que assumi perante a sociedade. Pelo fim da discriminação religiosa no mercado de trabalho, por um país livre de preconceitos e amplamente democrático.

*Sarah Munhoz é enfermeira e deputada estadual pelo PCdoB

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