Nova testemunha fala sobre o desaparecimento de Edgard de Aquino Duarte

Processo sobre o caso está correndo no Ministério Público Federal, pedindo a responsabilização de três agentes do Estado
30/05/2014 17:02 | Da Redação: Monica Ferrero " Foto: Yara Lopes

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Adriano Diogo e Maria José Wilhensen<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2014/fg163052.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adriano Diogo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2014/fg163053.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Amelinha Teles<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2014/fg163054.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ivan Seixas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2014/fg163055.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ivan Seixas, Adriano Diogo e Maria José Wilhensen<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2014/fg163056.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Maria José Wilhensen<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2014/fg163057.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Maria José Wilhensen e Amelinha Teles<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2014/fg163058.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT) reuniu-se nesta quinta-feira, 29/5, para audiência pública sobre o caso de Edgard de Aquino Duarte, que também usava o nome de nome Ivan Marques Lemos e que está desaparecido desde junho de 1973. Ele não era filiado a nenhuma organização política. O novo testemunho sobre o caso, que já foi tema da comissão em 21/2/2013, foi prestado por Maria José Wilhensen, que era sócia e amiga do desaparecido.

Esse caso é um dos três que foram aceitos pelo Ministério Público Federal, que considera responsáveis pela prisão ilegal mediante sequestro em junho de 1971, de Edgard o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, o dr. Tibiriçá, comandante do Destacamento de Operações Internas de São Paulo (Doi-Codi-SP) no período de 1970 a 1974, e os delegados da Polícia Civil Alcides Singillo e Carlos Alberto Augusto, conhecido como Carlinhos Metralha, este ainda na ativa.

Amigo da família

Residente atualmente em Miami, Maria José Wilhensen contou que conheceu o desaparecido sob o nome de Ivan Marques Lemos, no final de 1968, que havia acabado de chegar a São Paulo. Ele foi contratado pelo seu marido, e logo tornou-se amigo da família e sócio do casal em uma corretora de valores em 1969.

Ivan não contou seu nome verdadeiro, mas falou sobre sua vida, e deixou documentos e cartas, inclusive para uma mulher chamada Tereza, com quem havia se casado no período em que morou em Cuba. Apresentou uma senhora que tinha como avó, que era da família Zerbini, e que havia intermediado a confecção de seus documentos falsos.

Um ano depois, Ivan acolheu em sua casa um amigo da época da Marinha, o cabo Anselmo, a quem tinha como um irmão. A perseguição da polícia começou em maio de 1971, após Anselmo ter entregado pacote endereçado a Fidel Castro à capitã da seleção cubana de vôlei, após um jogo. No fim de maio, Anselmo foi preso.

Segundo testemunho do porteiro do prédio em que Ivan morava, na noite de 2/6/1971, dois homens, dizendo-se amigos, saíram do prédio levando-o. Há indicações de que esses homens sejam os investigadores Henrique Perrone e Carlinhos Metralha, que eram da equipe do delegado Fleury.

Buscas

Então começou a peregrinação de anos do casal Wilhensen pelos órgãos de repressão á procura de Ivan, mas sua prisão era negada. Poucos meses depois do desaparecimento, viram o cabo Anselmo na rua, mas ele negou sua identidade e fugiu. Maria José, contudo, não crê que Anselmo tenha delatado Ivan. Nas buscas sobre o paradeiro de Ivan, os Wilhensen até descobriram sua família em Recife (PE).

Com a morte de seu marido Oscar em 2009, Maria José deu por encerradas as buscas até que soube da instalação da Comissão da Verdade. Através do programa de Skype, conseguiu contato com Ivan Seixas.

Mas tanto Maria José como Ivan Seixas relataram ter tido problemas na mesma época, em 2013, com vírus no computador, que os fizeram perder contato. Seixas considerou estranha essa coincidência, suspeitando que a infecção foi proposital.

Testemunhas na prisão

Os coordenadores da Comissão da Verdade Maria Amélia Teles e Ivan Seixas contaram as circunstâncias em que conheceram Ivan, ou Edgard, na prisão. Ele foi visto pela última vez em junho de 1973, no Dops/SP, e comentava com os outros presos que tinha certeza de que seria morto.

Em resposta a habeas corpus impetrado em julho de 1973, as autoridades informaram que ele havia sido libertado. Mas seu corpo nunca foi localizado.

Preso por longo período, Edgard de Aquino Duarte, ou Ivan, tornou-se figura mitológica na prisão, disse Maria Amélia. Era um homem alto e magro, que andava sempre com um capuz. Costumava cantar hinos da Marinha. Ivan Seixas contou ter recebido, escondida numa sandália, uma carta de Edgard, que então era seu vizinha de cela. Nesta carta, que foi depois contrabandeada para fora da prisão, Edgar pedia ajuda.

Trajetória

Edgard de Aquino Duarte nasceu em Bom Jardim (PE) em 22/2/1941. Logo que terminou o segundo grau, ingressou na Marinha. Em 1964, participou da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil posicionando-se ao lado dos que se opuseram ao golpe militar.

Por sua participação na revolta dos marinheiros em 1964, se exilou no México e, mais tarde, viajou para Cuba. Retornou ao Brasil em outubro de 1968. Viveu em São Paulo, sob o nome de Ivan Marques Lemos, trabalhando como corretor na Bolsa de Valores de São Paulo até ser preso em junho de 1971.

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