Especial Getúlio Vargas - Agosto de 1954: 60 anos de uma tragédia brasileira


05/08/2014 18:00 | Antônio Sérgio Ribeiro*

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Coronel João Adil de Oliveira <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164481.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Manifestantes cobram a elucidação do caso e a punição dos responsáveis<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164482.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Vigilante municipal Sálvio Romeiro, socorrido ao hospital  <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164483.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> A arma do crime <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164484.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> General Zenóbio da Costa, ministro da Guerra  <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164485.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Ao completar 60 anos dos fatos que culminaram com o suicídio do presidente Getúlio Vargas, a partir de hoje, publicaremos uma série de textos que relatam a sequência dos eventos que ocorreram naqueles negros dias de agosto e que enlutaram o Brasil. Tentaremos narrar cronologicamente, seguindo a mesma data, porém seis décadas depois, esses acontecimentos tão marcantes para a história do nosso país.

6 de agosto de 1954

Manifestações de apoio chegavam de várias regiões do Brasil e também do exterior. A Sociedade Interamericana de Imprensa, sediada nos Estados Unidos, enviou mensagem ao jornalista brasileiro Carlos Lacerda, na qual se solidarizava com ele condenando o atentado o vitimara.

Convalescendo em um quarto do Hospital Pedro Ernesto, o guarda municipal Sálvio Romeiro declarou que não havia conseguido anotar a placa do veículo no qual fugira o atirador (autor do atentado contra Lacerda) e que não era capaz de dizer qual era a sua marca, mas que atirara contra ele. Informou ainda que, quando estava sendo socorrido por uma radiopatrulha, um homem aproximou-se do tenente que lhe prestava os primeiros atendimentos e disse ter ouvido os tiros e anotado o número da placa do carro, que passara por ele em alta velocidade. Naquele momento fora entregue ao oficial um papel com a placa 5-60-21. Dessa maneira, a polícia poderia chegar ao motorista e ao proprietário do automóvel.

Nesse dia, os jornais divulgaram em primeira página que um empregado do aeroporto Santos Dumont, na madrugada do crime, vira quando de um automóvel em disparada foi atirada na avenida Beira-Mar uma arma. Dirigindo-se ao local, o aeroportuário a recolheu - pois a pistola havia caído nas pedras e não no mar - e a entregou à polícia.

Investigações e depoimentos

O ministro da Justiça, Tancredo Neves, mostrava-se satisfeito com o trabalho das autoridades policiais e afirmou que não pouparia esforços para a elucidação do brutal atentado. A ideia inicial era que um desembargador presidisse o inquérito, pois teria total isenção no caso, mas a Constituição Federal não permitia tal procedimento e assim não pôde ser concretizada.

Segundo declaração prestada no 2º Distrito Policial do Catete, o pai do motorista Nelson Raimundo de Souza, ao ser ouvido pelas autoridades, afirmou não acreditar que seu filho fosse inocente no atentado, já que era muito conhecido no mundo do crime. Revelou ainda, para surpresa de todos, que ele havia sido alcaguete da polícia política do Estado do Rio. Com um pai desses, para que inimigos?

À noite, apesar da manifestação contrária do ministro da Aeronáutica, realizou-se no Clube da Aeronáutica, sob a presidência do brigadeiro Ignácio Loyola Daher, uma reunião com 400 oficiais. Além dos associados, compareceram também integrantes da Marinha e do Exército. Entre os oradores, estava o major Gustavo Borges, que havia sido substituído pelo seu colega major Rubens Florentino Vaz na missão de acompanhar Carlos Lacerda ao evento no Externato São José. Borges falou em nome de uma comissão de oficiais da Aeronáutica, afirmando inclusive que "apurasse tudo até o fim, até onde a polícia não sente coragem de ir", sendo aplaudido várias vezes pelos presentes.

Ao final da reunião, foi aprovada e distribuída nota que solicitava uma assembleia extraordinária para tratar das homenagens póstumas e de amparo à família do saudoso companheiro Vaz, sendo que a diretoria do Clube, presente à reunião, de imediato acatou a decisão. Por determinação do ministro da Guerra, general Zenóbio da Costa, um Batalhão de Guardas e o Batalhão de Polícia do Exército permaneceram de prontidão durante o período da reunião, com o intuito de evitar possíveis agitações.

Das 16h45 às 23h, Carlos Lacerda prestou um minucioso depoimento ao delegado Jorge Pastor, titular do 4º Distrito Policial, que, ao chegar no prédio do jornalista, indagou ao porteiro se não havia ocorrido alguma altercação entre o jornalista e o major. No apartamento, com a presença do delegado e do promotor João Baptista Cordeiro Guerra - anos depois presidente do STF -, Lacerda confirmou os fatos que eram de conhecimento da opinião pública, afirmando: "os mandantes são tão poderosos que se dão ao luxo de indicar gente honrada para investigá-los". E ainda manifestou sua descrença de que o inquérito produzisse consequências, se fosse, afinal, comprovada a responsabilidade de gente ligada ao Palácio do Catete no atentado.

Carlos Lacerda tinha prevenção contra o delegado, desde que ele começou a sustentar a tese de que o autor do crime era um homem só. Indignado, o representante do Ministério Público, Cordeiro Guerra, respondeu: "Minha presença aqui indica que estou disposto a levar o inquérito até o fim". No final, o jornalista, não perdendo a oportunidade, reiterou o que já havia escrito no seu jornal: "apontou como principal responsável pelo bárbaro crime o sr. Getúlio Vargas".

*Antônio Sérgio Ribeiro é advogado, pesquisador e funcionário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

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