Especial Getúlio Vargas - Agosto de 1954: 60 anos de uma tragédia brasileira

Agonia e morte do presidente Getúlio Vargas
20/08/2014 14:00 | Antônio Sérgio Ribeiro*

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Casebre em Tinguá onde foi preso Climério<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164714.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Coronel Délio Jardim de Mattos  ao centro a paisana  prendeu Climério<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164715.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Climério Euribes de Almeida, preso na base aérea do Galeão<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164716.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Helicóptero usado na caçada a Climério<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164717.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Ao completar 60 anos dos fatos que culminaram com o suicídio do presidente Getúlio Vargas, a Agência Assembleia publica, desde 4, uma série de textos que relatam a sequência dos eventos que ocorreram naqueles negros dias de agosto e que enlutaram o Brasil. Tentaremos narrar cronologicamente, seguindo a mesma data, porém seis décadas depois, esses acontecimentos tão marcantes para a história do nosso país.

Terça feira - 17 de agosto de 1954

Às 9h, depois de uma intensa caçada de 20 horas, Climério de Almeida foi preso. A busca envolveu mais de 200 oficiais, soldados de várias corporações militares e voluntários que trabalharam na captura. Localizado num bananal em Tinguá, ao norte do Rio, estava esfomeado e sonolento. O cerco ao local, iniciado às 4h da madrugada, foi feito por 25 oficiais e 50 praças sob o comando do coronel aviador Délio Jardim de Mattos (ministro da Aeronáutica no governo João Figueiredo), que o prendeu.

Pela primeira vez, um helicóptero foi empregado em perseguição a um criminoso no Brasil. A polícia utilizou também 16 cães para rastrear o fugitivo, metralhadoras e até paraquedas luminosos. Em um automóvel, o prisioneiro foi transportado diretamente para o Rio de Janeiro e recolhido, em rigorosa incomunicabilidade, na Base Aérea do Galeão, tendo sido reforçado o patrulhamento na unidade militar.

Em Tinguá, também foram presos como cúmplices, por terem dado guarida e auxiliado na fuga de um criminoso, Ademar Daniel Pereira, Honorina de Jesus e o tal Oscar. Todos foram levados para o Galeão e colocados incomunicáveis pelas autoridades.

Pressões pela renúncia

O tesoureiro da Companhia Siderúrgica Nacional, Márcio Alves, segundo a oposição, foi a Minas Gerais, como enviado de Getúlio Vargas, para articular a instauração do estado de sítio no país e pedir o devido apoio do governador Juscelino Kubitschek.

Opositores do governo formularam outras denúncias, entre elas, a de que o governo ameaçou intervir no sindicato que não ficasse a seu lado e de que estavam censurados os telefones dos jornais oposicionistas, de vários deputados da UDN e do coronel João Adil de Oliveira, responsável pelo IPM.

O deputado federal e ex-presidente da República, Arthur Bernardes, em entrevista, afirmou: "Embora a renúncia só dependa de sua vontade, Getúlio Vargas deve reconhecer que já não governa. Perdeu a autoridade e, sem o pleno domínio do poder que representa, o caminho é abandonar o governo. O simples fato de as Forças Armadas tomarem a seu cargo diligências e prisões que, normalmente, são da alçada da Polícia e, portanto, da responsabilidade do governo, caracteriza a tibieza do presidente, que encarna o Executivo, e o país não deve ficar desgovernado. Getúlio Vargas deve renunciar. Não tem mais força moral para ficar no governo".

O senador do Partido Libertador da Bahia, Aloísio de Carvalho Filho, na tribuna do Senado Federal, proferiu um longo discurso em que analisou a atuação do ministro da Justiça e da polícia nos acontecimentos decorrentes do crime da rua Tonelero, protestou contra a prisão do tenente-coronel Faria de Albuquerque em seu Estado e em comício "demonstrou a conveniência política da renúncia de Getúlio Vargas, única solução realmente democrática para a crise que se abatia sobre o país".

O jornal norte-americano The New York Times publicou um artigo analisando a situação no Brasil, no qual se afirmava o seguinte: "Se a única resposta às críticas de Lacerda são as balas do assassino, as coisas chegaram a uma situação lamentável sob o governo de Vargas". E encerrou dizendo: "É lamentável para todos os seus amigos contemplar sua instabilidade atual, mas não há nada que um governo firme e ilustrado não possa curar em curto espaço de tempo".

Depoimento

Em depoimento às autoridades na Base Aérea do Galeão, João Valente confessou a responsabilidade direta do chefe da guarda pessoal, Gregório Fortunato, no atentado da rua Tonelero, e que, após ter tido conhecimento pelo general Caiado de Castro que o motorista Nelson Raimundo havia denunciado Climério, mandou que ele apanhasse 50 mil cruzeiros e desse fuga a José Antônio Soares, outro envolvido no crime.

O diretor da Polícia Técnica, Silvio Terra, recebeu às 13h30, na sede de sua divisão, das mãos do delegado Jorge Pastor do 2º Distrito Policial, o inquérito sobre o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda. Estavam presentes o promotor João Baptista Cordeiro Guerra e o coronel-aviador Jair de Barros Vasconcellos. Terra declarou, ao término da reunião, que a fase inicial de sua atuação no inquérito se reduziria à nova inquirição dos indiciados até então detidos e recolhidos à Base do Galeão.

O ministro da Fazenda, Osvaldo Aranha, através da instrução 99, modificou a política cambial. O deputado mineiro Tristão da Cunha afirmou que: "Essa instrução de Osvaldo Aranha não pode produzir nada, enquanto não se acabar com a licença prévia que está asfixiando o país". Em Nova York, a queda do café, então o nosso maior produto de exportação, era de 200 pontos ao dia, em consequência das medidas tomadas no Brasil.

*Antônio Sérgio Ribeiro é advogado, pesquisador e funcionário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

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