Especial Getúlio Vargas - Agosto de 1954: 60 anos de uma tragédia brasileira

Agonia e morte do presidente Getúlio Vargas
21/08/2014 14:00 | *Antônio Sérgio Ribeiro

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General Odylio Denys<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164727.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Climério na base do Galeão<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164728.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ministro da Aeronáutica Brigadeiro Epaminondas Gomes dos Santos<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164729.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Gregório Fortunado na base do Galeão<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164730.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Nelson Raimundo na base do Galeão<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164731.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Ao completar 60 anos dos fatos que culminaram com o suicídio do presidente Getúlio Vargas, a Agência Assembleia publica, a partir de hoje, uma série de textos que relatam a sequência dos eventos que ocorreram naqueles negros dias de agosto e que enlutaram o Brasil. Tentaremos narrar cronologicamente, seguindo a mesma data, porém seis décadas depois, esses acontecimentos tão marcantes para a história do nosso país.

Quarta feira - 18 de agosto de 1954

Climério na base do Galeão

Tomou posse no Palácio do Catete, como novo ministro da Aeronáutica, o brigadeiro Epaminondas Gomes dos Santos, até então comandante da 3ª Zona Aérea sediada na Capital Federal, no lugar do brigadeiro Nero Moura. A escolha de Epaminondas foi uma surpresa para todos, já que não era bem quisto dentro da corporação. O nome inicialmente escolhido foi o do brigadeiro Altair Roszanyi, comandante da 5ª Z.A. do Rio Grande do Sul, que recusou o cargo. Então foi sugerido ao presidente Vargas, por Nero Moura, o brigadeiro Henrique Dyott Fontenelle, que, apesar de ligado à corrente do brigadeiro Eduardo Gomes, seria respeitado por todos, saberia trabalhar com isenção e, com certeza, conseguiria colocar termo em toda a efervescência vivida pela FAB naquele momento.

Como era esperada, a nomeação do ministro gerou indignação e revolta no seio da Aeronáutica, que considerou um verdadeiro acinte a escolha do nome do novo titular. O descontentamento gerou, inclusive, o pedido de exoneração em bloco de todos os integrantes do antigo gabinete, que se recusaram a permanecer em seus cargos. Epaminondas, que durante curtíssimo tempo exerceu suas funções de ministro de Estado, não conseguiu preencher nem os cargos de confiança.

No salão nobre do Palácio Duque de Caxias, sede do Ministério da Guerra, o general Zenóbio da Costa recebeu uma grande homenagem de 800 oficiais do Exército das guarnições da Vila Militar, Deodoro, Niterói e Petrópolis. Em nome dos oficiais, o general Odylio Denys, comandante militar do Centro, com sede no Rio de Janeiro, pronunciou um discurso de apoio dos comandados ao titular da pasta e enalteceu a sua figura. Em resposta, o ministro agradeceu a presença de todos e afirmou: "Não me afastarei um passo sequer da legalidade."

Othon Mäder, senador da UDN pelo Estado do Paraná, na tribuna do Palácio Monroe, sede do Senado Federal, manifestou "como necessária a renúncia do presidente nominal". Também na Assembleia Legislativa fluminense foi exigida a renúncia. O Clube da Lanterna, fundado por Lacerda e presidido pelo jornalista Amaral Neto, dirigiu ao general Zenóbio da Costa um manifesto em que pleiteava a renúncia do presidente da República.

Na Base Aérea do Galeão, foram qualificados e fichados pela Polícia Técnica Gregório Fortunato, Climério Euribes de Almeida, João Valente de Souza, Alcino João do Nascimento e o motorista Nelson Raimundo de Souza. O delegado Silvio Terra informou que em 24 horas seria requerida à Justiça, em virtude das provas apresentadas no inquérito, a prisão preventiva dos acusados. A mulher de Alcino, Abigail, convocada para depor perante os integrantes do IPM, no Galeão, também acusou Lutero Vargas como mandante do crime. O advogado Celso Nascimento prometeu apresentar Soares, o único envolvido ainda foragido, para as autoridades policiais em 24 horas.

Ainda naquela tarde, um grupo de oficiais da Aeronáutica, comandado pelo coronel Adil, realizou diligência no Palácio do Catete, retirando do arquivo particular de Gregório uma pasta contendo várias cartas e outros documentos.

Um dos membros da Comissão de Inquérito, referindo-se ao arquivo, declarou:

"Descemos aos porões dos Borgias".

O coronel João Adil de Oliveira, ouvido pela imprensa, declarou:

"Não tenho dúvidas e já tenho elementos seguros de provas que o crime foi planejado e executado por elementos que serviam no Palácio do Catete, onde residiam os mesmos".

*Antônio Sérgio Ribeiro, advogado, pesquisador e funcionário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

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