Especial Getúlio Vargas - Agosto de 1954: 60 anos de uma tragédia brasileira

Agonia e morte do presidente Getúlio Vargas
25/08/2014 19:24 | (*) Antônio Sérgio Ribeiro

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Governador de Pernambuco Etelvino Lins<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164778.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Deputado Bilac Pinto<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164779.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Ao completar 60 anos dos fatos que culminaram com o suicídio do presidente Getúlio Vargas, a Agência Assembleia publica, a partir de hoje, uma série de textos que relatam a sequência dos eventos que ocorreram naqueles negros dias de agosto e que enlutaram o Brasil. Tentaremos narrar cronologicamente, seguindo a mesma data, porém seis décadas depois, esses acontecimentos tão marcantes para a história do nosso país.

Sexta feira - 20 de agosto de 1954

Deputado Bilac Pinto

Pela manhã, o vice-presidente Café Filho foi ao Ministério da Marinha para sugerir que as Forças Armadas pleiteassem a renúncia conjunta do presidente e do vice, pois entendia que o fato de pertencer ao partido de Adhemar de Barros, líder populista, pudesse representar um obstáculo para que os militares exigissem a renúncia de Vargas. Renato Guillobel solicitou, então, a presença de seu colega da Guerra, Zenóbio da Costa, ao seu gabinete e ouviu de viva voz a proposta de Café. O ministro Zenóbio discordou e reafirmou seu propósito de manter o presidente Vargas no poder. Por sugestão de Guillobel foi convocada para o período da tarde uma reunião no Palácio Duque de Caxias, para que fossem ouvidos os integrantes do Alto Comando das Forças Armadas.

À tarde, foi realizada a reunião no Ministério da Guerra, onde compareceram os ministros da Marinha, da Aeronáutica, o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, marechal João Baptista Mascarenhas de Moraes, além dos integrantes do Alto Comando do Exército. Ao término do encontro foi divulgada uma nota:

"Reuniu-se hoje o Alto Comando do Exército, com a presença dos excelentíssimos senhores ministro da Marinha e da Aeronáutica, chefe do Estado Maior da Armada e da Aeronáutica. Depois de apreciada a situação do país face aos últimos acontecimentos, decidiram por unanimidade, e dentro do mais estrito espírito de compreensão, reafirmar que às Forças Armadas cabe manter a ordem, a disciplina e a integridade da Constituição e que, em qualquer hipótese, se oporão com firmeza a que sejam feridos esses princípios, em que repousam a felicidade do País e os deveres constitucionais das Forças Armadas."

Por insistentes pedidos do general Juarez Távora, foi solicitada uma nova reunião, desta feita com todos os generais presentes no Rio de Janeiro. Aprovada a solicitação, foi marcada para as 9 horas do dia seguinte.

O ex-secretário particular do presidente da República, Roberto Alves, foi preso pelas declarações comprometedoras de seu ex-assistente, Arquimedes Manhães, em depoimento para o IPM. No Catete, foi detido pelo coronel Adil o diretor da Rádio Nacional, Victor Costa, tendo sido conduzido para interrogatório no Galeão.

Os ministros do Superior Tribunal Militar (STM) decidiram, por unanimidade, denegar a concessão do habeas corpus pleiteado em favor de Gregório Fortunato, João Valente de Souza e Alcino João do Nascimento. Todos continuaram presos na Base Aérea do Galeão, na Ilha do Governador. Por determinação do ministro da Guerra, Gregório teve cassada a medalha Maria Quitéria, que lhe fora concedida pelo Exército.

Foi divulgada a informação de que Alcino havia matado, por engano, um homem no bairro da Pavuna, zona norte do Rio, no domingo de carnaval de 1954, supondo que era o amante da mulher de José Antônio Soares.

Prudente de Morais Neto e o general Mário Hermes da Fonseca desmentiram os trechos do discurso em que o líder do governo, Gustavo Capanema, tentou comparar a situação do presidente Getúlio Vargas com as circunstâncias que cercaram os governos de Prudente de Moraes e do marechal Deodoro da Fonseca.

O deputado Bilac Pinto, da UDN, declarou: "Cumpre às Forças Armadas empossar o sr. Café Filho". Na Câmara Federal, Bilac afirmou que Vargas, pelo artigo 25 do Código Penal, era, na melhor das hipóteses, co-autor do crime da rua Tonelero e que deveria ser preso preventivamente.

A "Tribuna da Imprensa", jornal de Carlos Lacerda, divulgou a notícia de que o presidente da União dos Servidores do Porto do Rio de Janeiro, Duque de Assis, havia programado uma reunião para terça-feira, dia 24 de agosto, para desagravar o presidente Getúlio Vargas e que articulava uma greve portuária em favor de Getúlio. Segundo o jornal, Duque de Assis era fichado na polícia como maconheiro e um conhecido pelego ligado a Jango Goulart.

A Ordem dos Advogados do Brasil e o Conselho da Universidade do Distrito Federal divulgaram documento exigindo a renúncia do presidente da República. No Recife, o governador de Pernambuco, Etelvino Lins, manifestou-se também a favor da renúncia. Foram realizados em todo o Brasil vários comícios contra o governo e a favor da renúncia, entre eles, o de Minas Gerais, no qual Milton Campos, ex-governador mineiro, declarou: "Saber a nação impor as renúncias necessárias para que o jogo das instituições se reimplante em clima de tranquilidade e de paz. E que os primeiros resultados não nos paralisem o impulso saneador, mas, antes, sejam um estímulo para que não esmoreça o movimento que sinto iniciar-se, agora, da cruzada contra a impunidade no Brasil".

O presidente Getúlio Vargas recebeu, no Palácio do Catete, para despacho, os ministros da Viação, José Américo de Almeida, e o da Aeronáutica, brigadeiro Epaminondas Gomes dos Santos, em sua primeira audiência como novo titular da pasta, que conversou com o chefe da nação sobre os problemas enfrentados pelo seu ministério desde o atentado que vitimou o major Rubens Florentino Vaz.

(*) Antônio Sérgio Ribeiro, advogado, pesquisador e funcionário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Foto Manchete: Diário de Pernambuco

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