Desvinculação do HU e do Centrinho em relação à USP é criticada por trabalhadores

Conselho de Reitores decidiu transferir os hospitais da universidade para a Secretaria da Saúde
04/09/2014 19:41 | Da Redação: Keiko Bailone Fotos: José Antonio Teixeira

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Audiência na Assembleia Legislativa, nesta quinta-feira, 4/9<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2014/fg164961.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Público presente <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2014/fg164982.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Tema da audiência: Desvinculação do HU e do Centrinho em relação à USP <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2014/fg164983.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Trabalhadores, professores e alunos do Hospital Universitário (HU) e do Hospital de Reabilitação de Anomalias Crânio Faciais (HRAC ou Centrinho) de Bauru, participaram nesta quinta-feira, 4/9, de audiência na Assembleia Legislativa contra a desvinculação desses dois complexos hospitalares da Universidade de São Paulo.

O deputado Carlos Giannazi (PSOL), presidente da audiência, informou que havia protocolado no mesmo dia representação junto ao Ministério Público Estadual. O deputado pede impetração de ação civil pública contra a decisão do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp) de transferir o Centrinho de Bauru para a Secretaria da Saúde.

Solidariedade contra a mercantilização

Sem exceção, todos os manifestantes fizeram veementes discursos contra a desvinculação de hospitais universitários da universidade pública à qual estão ligados. João Chaves, presidente da Associação dos Docentes da Unesp (Adunesp), afirmou solidarizar-se com os trabalhadores da USP e lembrou que o Hospital das Clínicas de Botucatu foi o primeiro a ser transferido para a secretaria estadual de Saúde. "Hoje, há três fontes pagadoras, ou seja, funcionários exercendo a mesma função e recebendo salários diferentes". Segundo Chaves, a desvinculação do HC da Unesp significou "abrir mão de um instrumento fundamental para estudantes das áreas médicas e biomédicas".

Ao se referir à desvinculação dos dois hospitais da USP, Francisco Miraglia, presidente do Fórum das Seis, disse que a apropriação privada de um patrimônio público equivale à mercantilização dos direitos sociais de educação e saúde. "Os recursos são os mais variados possíveis", assinalou, apontando a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares e as Organizações Sociais (OS) como coadjuvantes dessa "privatização".

Excelência no atendimento

Mário Souza, presidente do Conselho Gestor Distrital de Saúde do Butantã, afirmou que o HU é "hospital de referência no que se refere à excelência no atendimento". Contou que 85% da população residente no entorno da USP é atendida pelo HU que, em 2013, realizou 413 mil atendimentos médicos.

Segundo Souza, o último investimento em saúde na região do Butantã ocorreu há 21 anos, e atualmente há apenas 13 Unidades Básicas de Saúde (UBS), sendo que são necessárias 24.

Vanessa Monteiro, do Diretório Central dos Estudantes da USP (DCE) defendeu o HU como local em que os profissionais têm oportunidade de aprender como deve ser feito um atendimento do SUS, ou seja, em que um profissional como ela, de nutrição, pode debater casos com fonoaudiólogos, enfermeiras e médicos.

Maria José Ferreira de Oliveira, técnica de enfermagem, lembrou que a área em que atua no HU é autônoma, fato raro em hospitais brasileiros. Portanto, têm oportunidade de realizar estudos científicos sob o ponto de vista da enfermagem, e algumas dessas pesquisas já foram premiadas. Contou que após 15 anos de trabalho no HU teve experiência em hospitais particulares e constatou que o Hospital Universitário em nada fica a dever aos particulares.

Funcionários substituídos

Para Bruno Rocha, representante do Sindicato dos Funcionários da USP (Sintusp), a desvinculação dos hospitais significaria, na prática, a demissão de mais 2.800 funcionários que se somariam aos outros 1.800 sugeridos pela reitoria para o Plano de Demissão Voluntária (PDV). "No total seria o enxugamento de mais de um terço da força de trabalho, ou seja, 5 mil postos de trabalhos", alertou, criticando a desvinculação já ocorrida no Centrinho de Bauru.

Sobre a administração pelo Hospital das Clínicas, que assumiria a gestão do HU, Rocha relatou que 30% dos leitos do HC destinam-se a quem pode pagar. Acrescentou, ainda, que dos 46 hospitais universitários do país, 23 já foram desvinculados e a outra metade já está em processo de desvinculação.

Gerson Salvador, do HU-USP, o último a se manifestar, contou que o HU foi inaugurado em 1981, "fruto do sonho de alunos progressistas que almejavam uma formação mais próxima do paciente". Comentou que o HU forma profissionais de qualidade, "bastante disputados pelo mercado de trabalho". Citando números, destacou que 2.500 profissionais saem do HU a cada ano e 280 mil atendimentos são realizados anualmente. "O HU detém um modelo que permite atenção multiprofissional, formação de qualidade e proteção ao usuário", resumiu.

alesp