Prêmio Santo Dias homenageia defensores dos Direitos Humanos

Foram laureados o padre Luigi Giuliani e o advogado Belisário dos Santos Junior
09/12/2014 21:30 | Da assessoria do deputado Adriano Diogo Fotos: Marcia yamamoto

Compartilhar:

Bruno Covas e Adriano Diogo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2014/fg166420.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Autoridades presentes <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2014/fg166421.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Cerimônia homenageia agraciados com o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos 2014 <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2014/fg166442.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ana Dias e Padre Luis Giuliani <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2014/fg166443.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Dom Angélico S Bernadino (ao microfone)<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2014/fg166444.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> José Gregório, Belisário e Margarida Genovois<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2014/fg166445.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> O evento é realizado todos os anos pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2014/fg166446.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Realizada todos os anos pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia, a entrega do Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos 2014 homenageou o padre Luís Giuliani e o advogado Belisário dos Santos Junior.

O evento, conduzido pelo deputado Adriano Diogo (PT), presidente da comissão, e com a presença de Bruno Covas (PSDB), membro efetivo, também apresentou menção honrosa ao padre José Rezende (falecido no início do ano), a José Herbert da Paixão Seabra, a Francis Bezerra e à pastora Maria Antonia Rabelo de Araujo.

A viúva de Santo Dias, Ana Dias, compareceu ao ato, entregando o prêmio ao padre Giuliani. Dom Angélico Sandalo Bernadino, bispo Emérito da Diocese de Blumenau, em seu depoimento sobre Santo Dias, afirmou: "Da igreja da Consolação, levamos triunfalmente o corpo até a Catedral (da Sé). Essa luta ainda continua, árdua. Quando vejo pessoas dizendo que querem de volta a ditadura militar, digo não, de maneira alguma! Precisamos acreditar neste país". Para o bispo de 82 anos, o prêmio faz com que a memória das lutas seja preservada.

O padre Giuliani destacou atitudes que considera importantes: falar, agir, caminhar junto e confiar no "poder da resistência".

Para Belisário dos Santos, advogado atuante na defesa de presos políticos e ex-secretário estadual de Justiça e Defesa da Cidadania, a ação decidida de Ana Dias e dos religiosos impediu que o corpo de Santo sumisse. O velório de Santo Dias tomou as ruas do centro de São Paulo. Ele foi enterrado no cemitério de Campo Grande, na zona sul.

Advogado desde 1970, hoje na Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, Belisário defendeu a política de direitos humanos, uma "linguagem do presente e do futuro, em que pese autoridades dizerem que temos de parar de olhar pelo retrovisor". "Temos o direito de saber o que aconteceu, de saber quem fez", afirmou, pouco antes de receber seu diploma das mãos de Gregori e de Margarida Genevois, 91 anos, ex-presidente da comissão.

A cerimônia contou com a presença de ministros dos governos Lula e Fernando Henrique Cardoso: Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) e José Gregori (Justiça), respectivamente, e do secretário municipal de Direitos Humanos da capital, Rogério Sottilli.

Padre Giuliani

Padre Giuliani, italiano, 83 anos, vive no Brasil há mais de 50 anos, grande parte desse tempo em São Paulo. Foi pároco em Vila Remo, na periferia da zona sul da capital, ainda no auge da Teologia da Libertação e do compromisso da Igreja Católica com os pobres. Nos anos 1970, sob sua liderança, inúmeros movimentos populares surgiram e se consolidaram, como o Movimento Custo de Vida, cujas reuniões eram feitas em sua paróquia e o Clube de Mães. Outros grupos e movimentos surgiram nesse período e muitos deles eram liderados por mulheres participantes das comunidades eclesiais de base da paróquia de Vila Remo, sob a coordenação de Giuliani. Ele também fazia parte da Região Episcopal de Campo Limpo, atuava no âmbito da Arquidiocese de São Paulo e participava da Comissão Pastoral Arquidiocesana dos Direitos Humanos.

Seu incentivo e ousadia possibilitaram o surgimento de muitas lideranças na história de São Paulo. Seu apoio irrestrito às causas populares o levou a atuar junto a dom Paulo Evaristo Arns, o cardeal dos Direitos Humanos. Não raro ia ao DOI-Codi para defender presos e perseguidos pela ditadura militar. Foi um guerreiro que não temia a ditadura, pois dizia o que pensava sobre ela para o povo. Foi fundamental no apoio às greves e aos movimentos dos metalúrgicos de São Paulo, em especial a Oposição Sindical Metalúrgica, a Pastoral Operária, as greves do ABC e, mais amplamente, a luta pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, muito significativa na época.

Giuliani teve com Santo Dias da Silva uma convivência de amigo e companheiro na construção de um mundo melhor. Apoiador da causa dos operários, o assassinato de Santo Dias durante a greve dos metalúrgicos de São Paulo, em 30 de outubro de 1979, causou-lhe grande impacto. Por isso assumiu a luta pela justiça e memória de Santo Dias da Silva. Estava decidido a voltar para a Itália, mas recuou após a morte de Santo. Queria dar apoio à família, aos amigos e à luta. Decidiu ficar por mais um ano e ajudou a fundar o Comitê Santo Dias da Silva, cujo objetivo era o de acompanhar o processo do assassinato cometido pela Polícia Militar e divulgar o nome e a causa de Santo Dias e de todos os que pagaram com a vida seu engajamento na luta pela liberdade e pelos direitos humanos.

Belisário dos Santos Jr.

Graduado em direito pela USP, com mestrado em legislação penal especial pela mesma universidade, especialização em direito administrativo pela PUC/SP e curso interdisciplinar em direitos humanos pelo Instituto Interamericano de Direitos Humanos da Costa Rica, Belisário dos Santos Jr. é advogado militante desde 1970, sendo atualmente sócio titular do escritório Rubens Naves - Santos Júnior Advogados.

Foi secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo (1995/2000), membro do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Ministério da Justiça (2002), membro da Comissão Internacional de Juristas (2008) e juiz relator do 2º Tribunal de Justicia Restaurativa para El Salvador (2010).

É criador e coordenador do Programa de Direitos Humanos do Estado de São Paulo. Participa de encontros internacionais como expositor e de missões de investigação em temas de direitos humanos em diversos países. É presidente do conselho curador da Fundação Mário Covas, do conselho curador da Fundação Padre Anchieta e vice-presidente da Comissão da Verdade da OAB/SP.

Santo Dias

Operário metalúrgico, Santo Dias foi morto pela Polícia Militar quando liderava um piquete de greve, em 30/10/1979, em frente à fábrica Silvânia, no bairro de Santo Amaro, zona sul da capital paulista.

Santo Dias trabalhava como motorista de empilhadeira na Metal Leve S/A. Tinha sido lavrador, colono, diarista e boia-fria no interior de São Paulo. Em 1961, foi expulso com a família da fazenda onde morava, por exigir registro na carteira profissional como prevê a lei. Como trabalhador de fábrica, experimentou várias vezes a demissão como represália por sua participação em reivindicações salariais.

Era um líder operário bastante conhecido no meio dos trabalhadores e do movimento sindical, principalmente nas bases da Igreja Católica. Era casado e pai de dois filhos. Participou intensamente do Movimento Contra a Carestia, foi candidato a vice-presidente de uma chapa de oposição à diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo em 1978. Participou também do Comitê Brasileiro pela Anistia em São Paulo.

A notícia da morte de Santo Dias se espalhou rapidamente e ensejou imediata intervenção de autoridades eclesiásticas da Arquidiocese e da CNBB. Seu corpo foi velado durante toda a noite na Igreja da Consolação, no centro da cidade. Na manhã seguinte, 10 mil pessoas, com faixas e palavras de ordem, acompanharam o cortejo até a Catedral da Sé. As palavras de ordem "Abaixo à Ditadura" e "A Luta Continua" marcaram uma das maiores manifestações populares do período. Na Catedral da Sé, o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns concelebrou com outros bispos uma missa de corpo presente, antes de o enterro seguir para o cemitério do Campo Grande, na zona sul de São Paulo.

alesp