Nesta terça-feira, 16/12, a CPI das Violências nas Universidades ouviu a médica infectologista do Hospital das Clínicas, Maria Ivete de Castro, que há 14 anos coordena o núcleo de atendimento a vítimas de violência sexual. A professora citou dados de estudos feitos no exterior sobre o tema. Ela disse que, apesar de ser um assunto delicado, ele precisa ser tratado com urgência. "O reconhecimento da violência sexual e da violação dos direitos humanos como questão de saúde publica chegou tardiamente na sociedade. A violência sexual é uma grave epidemia. É silenciosa, e ocorre no âmbito familiar e no cotidiano. Por convenções sociais, as vítimas são forçadas a guardar silêncio", afirma Maria Ivete. O medo, o constrangimento e a culpa que a vítima sente ainda são as principais causas da falta de denúncias sobre casos de violência. Segundo a médica, o Sistema Único de Saúde (SUS) recebe duas mulheres por hora por queixa de abuso sexual, mas 95% dos casos ainda não são notificados. No mundo, a África do Sul é líder em casos de estupro. A média mundial é de uma a cada cinco mulheres, embora na África é um caso a cada duas mulheres. Mulheres em Luta A CPI também ouviu a estudante de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo, Letícia Pinho, que faz parte do movimento Mulheres em Luta e integra a frente feminista da universidade. A estudante cobrou uma ação efetiva por parte dos parlamentares em relação à instalação da CPI. Criticou a falta de segurança no campus da universidade e a falta de estrutura por parte da faculdade para tratar dos casos de violência. Letícia falou sobre a criação de mecanismos que protejam as vítimas, assegurando-lhes o direito de denunciar sem receber qualquer tipo de reprimenda. Disse ainda que os casos de violência não se restringem apenas à USP, e que depois das primeiras audiências públicas realizadas pela Comissão de Direitos Humanos, passaram a surgir diversas denúncias de outras instituições estudantis como a Universidade de São Carlos (Ufscar), a Universidade de Campinas (Unicamp), a Universidade Estadual Paulista (Unifesp), a Universidade Presbiteriana Mackenzie e a Uninove. "Precisamos de um ambiente seguro para concluir nossos estudos, para ter o nosso direito garantido e iguais condições a de todos os outros estudantes", disse Letícia. Eleição Por falta de quórum na abertura dos trabalhos, não foi realizada, como era previsto, a eleição de presidente, vice-presidente e relator da CPI. Participaram da reunião os deputados Adriano Diogo, Marco Aurélio de Souza, João Paulo Rillo (todos do PT), Sarah Munhoz (PCdoB), Carlos Giannazi (PSOL) e Carlos Bezerra Jr. (PSDB).