Alunos da PUC de Sorocaba denunciam violências sofridas no trote

CPI também recebeu o vice-reitor da instituição, José Eduardo Martinez
29/01/2015 20:19 | Monica Ferrero " Fotos: Roberto Navarro e Márcia Yamamoto

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Adriano Diogo e José Martinez<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-01-2015/fg167079.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

 


Alunos do curso de Medicina do campus de Sorocaba da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (FCMS-PUC), vieram nesta quinta-feira, 29/1, depor na CPI que investiga as denúncias de violações aos direitos humanos nas universidades. O vice-reitor da universidade, José Eduardo Martinez, acompanhou os depoimentos, que foram feitos em caráter sigiloso.

Oito alunos de Medicina da PUC de Sorocaba compuseram a mesa da primeira parte da reunião, todos eles do segundo ano do curso. O pedido de sigilo que fizeram é motivado pelas represálias que sofreu um outro aluno, Rodolfo, após seu depoimento em sessão anterior da CPI, denunciando as violências sofridas durante o trote. Esses ataques foram feitos por parte de um grupo fechado no Facebook, com cerca de 2,5 mil participantes, onde estão vários ex-alunos, formados há anos.

Além de negarem os fatos denunciados, nesse grupo fechado são postados xingamentos e comentários ameaçadores e de perseguição durante a vida acadêmica. Denunciar esse tipo de violência é considerado por esses grupos como ferir a honra da instituição. Esse grupo fechado também expõe fotos pessoais, com comentários depreciativos.

Os depoentes endossaram totalmente as denúncias já feitas por Rodolfo, ressaltando que seu depoimento à CPI - feito por vídeo-conferência, pois no momento ele se encontra fazendo intercâmbio nos Estados Unidos " é uma coletânea de relatos feitos ao Grupo de Apoio ao Primeiroanista (GAP) pelos alunos em 2013.

O GAP também sofreu ataques, assim como professores que se posicionaram contra as violências. Estudantes que participam do GAP têm sido intimidados. O Centro Acadêmico Vital Brasil não apoiou o aluno Rodolfo. Segundo os alunos depoentes, o papel do Centro é apaziguar ânimos para que as denúncias não sejam levadas à direção da faculdade. Alguns professores também apoiam as práticas, afirmando que "o mais fácil é obedecer".

Uma das depoentes afirmou que todos estes ataques são de conhecimento da diretoria, pois foram encaminhados por requerimento, com pedido de respaldo, principalmente contra alguns membros do grupo que fazem ameaças mais violentas. Em resposta, a direção da PUC de Sorocaba soltou nota à imprensa negando ter conhecimento de denúncias de violências em 2013 e 2014. "Mas houve protocolos em 2013", disse a aluna. O kit calouro teve sua venda proibida e essa comercialização ocorre hoje fora da faculdade.



Documento

A CPI recebeu cópia de documento assinado pelo GAP e entregue à direção da faculdade, com relatos sobre as ocorrências durante o trote, e propondo reflexão e mudanças que trouxessem benefícios para a vida dos calouros. Sugeriram também medidas para a melhoria da convivência na faculdade, interrompendo o ciclo de violência e obediência. Algumas propostas foram acolhidas, como a entrega de um manual ao primeiroanista.

Apesar disso, as medidas não surtiram efeito, pois as violências continuam, embora de forma velada. A cultura trotista se mantém, assim como a imposição de uma hierarquia entre os alunos, cujo descumprimento leva a represálias e agressões físicas e verbais.

Primeiroanistas mulheres são proibidas de usar cabelo solto, bijuterias e maquiagem e os meninos são obrigados a manter o cabelo raspado. Eles também não têm acesso ao Centro Acadêmico, ao restaurante e são proibidos de usar bancos e elevadores. "Tudo isso em nome da tradição", disseram.

Os estudantes relataram que aos calouros são impostas uma série de regras de convivência, como o uso de uma camiseta (do kit aluno) até o "dia da libertação - 13/5". Se um aluno não aceita participar do trote, tem sua presença barrada em festas. Todas essas situações, em nome de uma integração entre estudantes, na verdade fazem com que os primeiroanistas sintam-se desconfortáveis na faculdade e, amedrontados, desistam do curso.

Uma medida saneadora e educativa é necessária nestes cursos tradicionais, onde há prática de trote, disse o professor Antonio Ribeiro Almeida Júnior, estudioso do tema, que ajudou o GAP a redigir o documento apresentado à diretoria da faculdade. Ele disse ainda que, no Estado de São Paulo, as piores violências ocorrem na Faculdade de Medicina da USP, na Esalq e nas PUCs de Campinas e Sorocaba.



Outro lado

O vice-reitor da universidade, José Eduardo Martinez, acompanhou os depoimentos, junto com a secretária-geral da reitoria, a advogada Andreia de Melo Vegani. Martinez garantiu que a preocupação com o trote é antiga, e que medidas preventivas têm sido tomadas. Disse ser um grande incentivador do GAP, que atua com total apoio da universidade, tanto que conta com ajuda da psicóloga institucional. Ele afirmou que estudará medidas para coibir os fatos denunciados.

Andreia Vegani informou que, em 2013, foram abertas 17 sindicâncias envolvendo estudantes, as quais resultaram em duas expulsões; em 2014, foram 11, com duas advertências como resultado, portanto há ação da reitoria. Porém, não é possível agir se os estudantes não formalizarem as denúncias junto à diretoria. Uma das alunas depoentes disse que a própria cultura trostista impede essas denúncias, pois os estudantes sentem-se abandonados pela diretoria.

O presidente da CPI, deputado Adriano Diogo (PT), afirmou estar estarrecido com as denúncias, principalmente porque envolve instituição ligada à igreja católica. Por isso, irá levar as denúncias à Nunciatura Apostólica, para encaminhamento à cúpula da igreja.

Antes do início da reunião, Diogo demonstrou grande preocupação com a divulgação da lista de aprovados na Fuvest no próximo dia 30/1, pois está mantida a convocação, via internet, para os veteranos da Faculdade de Medicina da USP irem recepcionar os calouros. Para o deputado, isso significa que o trote, apesar de proibido, será praticado, ainda que talvez fora do território da faculdade. "Qualquer violência que ocorrer será de responsabilidade tanto da Faculdade de Medicina quanto da USP", advertiu.

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