Repressão de empresas aos trabalhadores durante a ditadura

O tema foi debatido na Comissão da Verdade
27/02/2015 19:16 | Da Redação - Foto: Marco Cardelino

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José Félix da Silva<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-02-2015/fg167793.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Absolon Gaspar<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-02-2015/fg167794.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Trabalhadores da Siderúrgica Aliperti prestam depoimentos à Comissão da Verdade<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-02-2015/fg167795.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> José Félix da Silva faz relato sobre repressão aos trabalhadores, durante a ditadura militar<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-02-2015/fg167796.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Raimundo Perillat<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-02-2015/fg167797.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O papel das empresas na repressão aos trabalhadores, durante o regime militar, esteve na pauta da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, coordenada pelo deputado Adriano Diogo (PT), nesta sexta-feira, 27/2. Foram ouvidos depoimentos de trabalhadores da siderúrgica Aliperti, fundada em 1924, no bairro da Água Funda, mas que arrendou seu parque industrial para a Gerdau em 1998.

Segundo José Felix da Silva, 77 anos, que trabalhou na empresa de 1961 a 1995 e atuou na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), direitos à segurança do trabalhador eram desrespeitados e, depois de 1964, tudo ficou diferente, pois precisavam ter cuidado com o que falavam dentro da empresa, uma vez que a polícia civil estava presente no ambiente de trabalho.

Silva lembrou que a segurança interna da Aliperti era feita por homens armados e, a pretexto de conter qualquer ato de contestação, "empurravam o funcionário com a carabina, ameaçando atirar". A intimidação aos trabalhadores, seja para reclamar direitos ou para tentar organizar greves, segundo Silva, tinha como figura-símbolo o tenente Lauro Portugal, militar reformado encarregado da segurança na empresa. O domínio de Portugal só acabou, quando houve uma greve bem-sucedida na empresa, em 1986, afirmou o depoente.

Más condições de trabalho

Falta de equipamentos de segurança (uniformes e luvas) e de área para refeição, local inadequado para banho dos trabalhadores foram alguns dos problemas apontados por Absolon Gaspar de Souza, que trabalhou na Aliperti de 1980 a 1987 e foi vice-presidente da Cipa. O resultado disso seria o número de mortos na empresa: 12 em apenas três anos, de 1986 a 1989, destacou Absolon.

Ele afirmou ainda que as mortes eram atribuídas a descuidos dos empregados, "como se eles gostassem de morrer". Com militância sindical anterior à entrada na Aliperti, Absolon contou que seu nome passou a constar em registros do Serviço Nacional de Informações (o extinto SNI) na época em que trabalhou na siderúrgica paulistana.

A ligação da empresa com órgãos da ditadura também foi denunciada por Anizio Batista de Oliveira, da Oposição Sindical Metalúrgica (OSM/SP). Ele contou que, na época do regime militar, após distribuir panfletos convocando assembleia para discutir a poluição causada pela Aliperti no bairro, ele foi preso a cerca de três quadras da Aliperti por seguranças da empresa. Foi levado ao 35º Distrito Policial e de lá foi mandado ao Dops, tendo o delegado alegado que o panfleto que ele distribuía era subversivo.

Poluição

A poluição provocada pela Aliperti foi relatada pelo ex-padre Raimundo Perillat. Natural da França, ele chegou ao país em 1968 e esteve na paróquia da Água Funda de 1971 a 1976. "A empresa criava um clima de terror no bairro, impondo à comunidade o medo de discutir problemas. É o poder de morte. Quantas vidas foram levadas pelo pó e pelos gases venenosos da Aliperti? E os casos de doenças de pele, de pulmão, de visão, do sistema nervoso?", disse Perillat.

Sebastião Neto, do Projeto Memória da Oposição Sindical Metalúrgica, afirmou que esta discussão sobre a ligação de empresas com a ditadura militar procurava dar conta de "uma tarefa inconclusa da Comissão Nacional da Verdade". Ele leu carta aberta assinada pelo Fórum de Trabalhadores e Trabalhadoras por Verdade, Justiça e Reparação, mostrando "insatisfação com a postura da extinta Comissão Nacional da Verdade de não acatar como recomendação formal à Presidência da República a responsabilização das empresas que colaboraram com a repressão no período da ditadura militar".

Segundo trecho da carta, "perseguições, delações, elaboração de listas sujas, demissões, torturas são algumas das ações provocadas pelo empresariado contra a classe trabalhadora ao longo do regime". Mas a CNV optou por responsabilizar os militares, omitindo para fins de reparação o papel dos empresários como organizadores do golpe civil-militar de 1964, acrescenta o documento lido por Neto.

A comissão prosseguiu seus trabalhos ao longo desta sexta-feira, 27/2, e os mesmos ainda não tinham sido encerrados ao final desta edição. Leia matéria sobre a conclusão da reunião na próxima edição.

alesp